Alunos recriam obras de arte durante quarentena
Exercício é uma forma de aprender, desenvolver a criatividade e incentivar a procura por museus
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Os museus fazem parte do grupo de locais que foram fechados devido à pandemia do novo coronavírus. No entanto, isso não significa que as atividades relacionadas à arte tenham sido paralisadas. Diversos espaços têm disponibilizado tour virtual, informações sobre seu acervo de obras e até lives e campanhas interativas nas redes sociais, como a que levou estudantes a encenarem obras de arte.
No dia 25 de março, o J. Paul Getty Museum, museu de arte localizado em Los Angeles (EUA), desafiou os seus seguidores a recriarem obras de arte com os materiais que tinham em casa. Até o último dia 12, cada hashtag do desafio “#gettymuseumchallenge” e “#betweenartandquarantine” acumulava mais de 40 mil imagens publicadas através do Instagram.
Paula Modenesi, 49 anos, professora de artes no Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, soube da iniciativa após conversar com uma amiga e resolveu levar para a sala de aula online. Em abril, Paula propôs que as turmas do 6º ano fizessem passeios virtuais em museus, escolhessem uma obra e a encenassem.
Além da atividade prática, as aulas exploraram conteúdos como o que é uma ficha técnica de museu e quais são os elementos objetivos (que todos percebem ao olhar) e subjetivos (que dependem da interpretação individual) de uma obra de arte. “Eles se divertiram e aprenderam uma série de conceitos importantes para compreender as artes visuais”, afirma Paula.
A professora conta que se surpreendeu com a experiência. Desde a preparação da aula até os resultados apresentados pelos alunos, ela também conheceu novas obras. “Eles estavam fantásticos”, afirma. Além disso, ela acredita que esta atividade possa funcionar como um incentivo para que os estudantes visitem museus após a pandemia.
Modenesi afirma que qualquer pessoa pode encenar uma pintura. Pois assim é possível trabalhar questões da obra, da criatividade, ao utilizar o que tem dentro de casa, além da própria expressão corporal.
“O que eu achei mais interessante foi a forma com que ela incorporou a personagem”, conta a mãe e empresária Simone Pegoraro, 36. Com o brinco da avó, a blusa da mãe, uma coberta marrom, e até uma fronha de travesseiro, a estudante Eloah Pegoraro, 11, recriou a obra “Menina com o Brinco de Pérola” de Johannes Vermeer na atividade escolar.
Desde o início de abril, a família decidiu cumprir o distanciamento social na casa de parentes em Itanhaém (110 km de SP). “Cada um deu um palpite e fomos montando”, comenta Simone. Após a foto ter sido escolhida, Eloah editou a imagem para que o fundo ficasse mais parecido com o da pintura. Para a empresária, se este trabalho fosse proposto antes da pandemia de coronavírus, talvez o envolvimento em família não teria sido o mesmo.
Professora compartilha reproduções na internet
A professora, revisora e redatora Juliana Brittes, 42, mora em Ribeirão Preto (311 km de São Paulo) e já havia reproduzido obras com seus alunos em 2016, após encontrar a ideia em um site.
Em 2020, a atividade passou a fazer parte da rotina. Há cerca de um mês e meio, Juliana deitou no tapete da sala após ficar algumas horas dando aulas online. Sua filha comentou que ela parecia a obra “Moça com livro” de José Ferraz de Almeida Júnior. Juliana gostou da ideia e resolveu reproduzir a obra em casa.
A proposta “surgiu sem pretensão alguma, agora faço uma obra diferente quase todo dia”, diz a professora.
Com roupas e objetos disponíveis em casa, a ajuda dos gatos e a interpretação pessoal, ela já reproduziu obras de artistas como Pablo Picasso, Jackson Pollock e Tarsila do Amaral.
Depois, o resultado é compartilhado no Instagram, onde tem alegrado o dia a dia dos parentes. Agora, Juliana recebe palpites da família, dos vizinhos e até dos alunos. “É muito importante buscar o que te faz feliz. A arte serve para nos tocarmos que a vida ainda vale a pena”, conta a professora.
Além de aprender com as obras, a atividade é uma maneira de passar o tempo diante desta pandemia. Juliana perdeu a principal fonte de renda neste período e espera que a visibilidade da rede social a ajude a encontrar mais um trabalho. “Está sendo bem complicado”, desabafa.
Tour virtual em museus é viagem sem sair de casa
O “Retrato de um Homem Velho e um Menino” de Domenico Ghirlandaio foi recriado por Benício Klaser Medeiros, 11 anos, e seu cachorro. Da Chácara Klabin (zona sul de SP) para a França, o estudante fez um tour virtual pelo Museu do Louvre, e utilizou o moletom do pai e uma máscara (que virou a touca do cachorro) para compor o trabalho.
A reprodução também conta com um quadro autoral, um desenho que Benício fez quando tinha 5 anos. “Depois nós mandamos para toda a família e eles acharam muito criativo”, conta a dona de casa Nina Klaser, 38 anos, que fotografou o filho.
Maria Cecília Rodrigues Saukas, 11 anos, encenou a Maria Madalena da obra “Maria com menino entre as santas Catarina e Madalena” de Giovanni Bellini. Para ela, com atividades desse tipo, “as pessoas podem conhecer novos artistas, pinturas, e, quando é de outro país, podem até descobrir novas culturas”, afirma.
A estudante pegou os itens que iria precisar, tirou as fotos e editou sozinha. A mãe de Maria, Cláudia Rodrigues Saukas, 41 anos, viu o resultado final da recriação e conta que ficou muito orgulhosa pela criatividade demonstrada pela filha.
Além disso, mãe e filha pesquisaram juntas na internet mais informações sobre a pintura escolhida. “A gente não pode sair de casa, mas viajou um pouquinho com essa atividade”, afirma Cláudia, que é gerente de negócios.