Exame para Covid-19 tem tempo certo para ser realizado
Especialistas dizem que o mais confiável é também o mais caro; ansiedade pode levar qualquer um a gastar dinheiro à toa
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A ansiedade pode levar qualquer um a se submeter, sem necessidade, a testes para detectar o novo coronavírus. Mais do que isso, a curiosidade pode levar a pessoa a gastar indevidamente e, ainda assim, ficar na dúvida se foi ou não contaminada, com resultados que podem indicar falso negativo. A dica é saber o momento certo de buscar a confirmação.
Membro do movimento Todos pela Saúde e presidente do IBMP (Instituto de Biologia Molecular do Paraná), Pedro Barbosa diz que testes mais precisos são os moleculares, do tipo PCR, que detectam se a pessoa tem o vírus, mesmo sem sintomas. Deve ser realizado a partir do terceiro dia de exposição ao vírus.
“A testagem é indicada para pessoas sintomáticas ou que estão em exposição de risco, como profissionais de saúde, idosos, contactantes [alguém que teve contato com positivo]”, diz.
Menos precisos, há também os exames sorológicos, com destaque para aqueles que são feitos em laboratórios. “Passando de dez dias do suposto contato, pode fazer o teste sorológico para ver se tem a presença de anticorpos”, diz.
Os testes rápidos, de farmácia, embora mais baratos, devem ser evitados, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem.
Pertinência
Professor de Estatística Bioinformática e Epidemiologia da Unicamp, Benilton de Sá Carvalho questiona a pertinência de se fazer testes e afirma que, independentemente do que se procura, o resultado não deve mudar as atitudes.
“O que faço com essa informação? Não tem remédio, não tem vacina. Pensando como cidadão, deveria estar trancando em casa. Se deu positivo ou negativo, não deve mudar o comportamento. É diferente de fazer um teste para pneumonia, que tem tratamento”, afirma.
Resultado deixa empresária em dúvida
A empresária Vanessa Dantas, 45 anos, teve febre, ficou resfriada e então decidiu realizar o teste para saber se estava contaminada pelo coronavírus logo no início de maio. Ela optou pelo exame sorológico e, até hoje, ainda tem dúvidas a respeito do resultado, que deu negativo.
O medo de Vanessa era transmitir a doença para os familiares. “Tenho mãe de 80 anos, que teve AVC, é diabética e cadeirante. E marido de 62, cardíaco”, afirma. “Foram R$ 310 pelo exame de sorologia. Caro e que não resolveu nada”, diz.
A empresária conta que ficou 17 dias com falta de ar e, durante o período, chegou a visitar uma unidade de saúde pública, onde as pessoas estavam sem máscaras. Em uma conversa com uma médica, descobriu que o exame poderia não ter servido para detectar o coronavírus.
“A gente teve uma sensação de alívio até falar com a médica. Ela disse que, se eu tivesse pegado, seria um falso negativo. Descobri que, como estava então no início dos sintomas, se tivesse naquele momento, não daria positivo.”
Já o administrador Felipe Rodrigues Domingues, 39, fez o teste por uma determinação da empresa onde trabalha. “Uma colega de trabalho pegou e a empresa pediu que todos fizessem o exame. Solicitou que fosse feito o PCR, não foi uma escolha minha”, diz.
O resultado deu negativo e Domingues conta que não mudou em nada seu comportamento por causa disso. “Proximidade com as pessoas, máscara, álcool em gel toda a hora. Ando com ele no bolso, na mala. Não foi isso que fez com que fosse mais atento”, afirma.
Coleta deve ser feita por profissionais habilitados
Não basta apenas escolher o tipo certo de teste a ser aplicado e nem o momento exato de procurar a confirmação. É preciso também que os profissionais sejam habilitados para que não se apresente um resultado equivocado.
Diretora científica da empresa Testes Moleculares, Alexandra Reis afirma que o teste RT-PCR, o mais preciso, deve ser aplicado por especialistas em biologia molecular.
“Demanda de conhecimento e equipamentos específicos, porém é um teste de alta precisão que na verdade tem que começar a ser usado na rotina laboratorial para os demais patógenos ou doenças genéticas. Deve ser evitado swab [haste como cotonete] de algodão durante a coleta, o indicado é rayon [mais macio e absorvente]”, diz.
Tipo PCR é feito após um encaminhamento médico
Um dos maiores laboratórios do país, a Dasa havia realizado até o início da semana passada mais de 160 mil testes moleculares e outro tanto de sorológicos. Segundo o diretor médico do grupo, Gustavo Campana, a procura tem sido grande.
Por coletar exames principalmente em hospitais, a proporção de casos positivos em exames do tipo PCR feitos pela Dasa fica em torno de 35% a 40% das amostras. Já em relação ao exame sorológico, fica em torno de 20%. “A busca pelos testes tem crescido bastante”, diz.
Segundo Campana, o laboratório só faz exames moleculares, mais precisos, com indicação de um médico. “A gente só realiza o PCR com o pedido médico. Uma vez positivo, tem toda uma conduta a ser realizada”, afirma.
TESTES
- Molecular PCR
- Indicado para quem tem a suspeita de que está doente no momento do exame
- Deve ser feito a partir do terceiro dia em quem manteve contato com doente ou se expôs ao risco de contaminação
- Identifica a presença do vírus na pessoa
- É feito por meio da introdução no nariz de um objeto semelhante ao cotonete, removendo secreção
- Resultado entre 48 e 72 horas, em média
- Custa a partir de R$ 280
- Sorológico
LABORATÓRIO
- Indicado para pessoas que suspeitam que tiveram contato com o vírus em algum momento
- Deve ser feito a partir de oito ou dez dias após o início dos sintomas ou da infeção
- Identifica os anticorpos produzidos como reação à presença do vírus
- É feito por meio de amostra de sangue
- Resultado a partir de 24 horas, em média
- Custa a partir de R$ 250
RÁPIDO DE FARMÁCIA
- Não é indicado por especialistas, por ser impreciso
- Pode ser feito a partir de dez dias da contaminação
- Identifica anticorpos produzidos pelo vírus
- É feito com amostra de sangue coletada na ponta do dedo
- Resultado entre 15 e 20 minutos, em média
- Custa a partir de R$ 130
- Fontes: Benilton de Sá Carvalho, professor de Estatística Bioinformática e Epidemiologia da Unicamp, Pedro Barbosa, membro do Todos pela Saúde e presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná, instituição ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Gustavo Campana, diretor médico da Dasa, Alexandra Reis, diretora científica da empresa Testes Moleculares