1 em cada 5 moradores já teve o novo coronavírus na zona leste de SP
Inquérito sorológico mostra que aumentou o percentual de infectados nesta região da capital paulista
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O coronavírus avançou no último mês entre moradores de bairros do extremo da zona leste da capital paulista. Segundo inquérito sorológico realizado pela prefeitura entre os dias 25 e 27 de agosto, e divulgado na última quinta-feira (17), praticamente 1 em cada 5 pessoas daquela região já desenvolveu anticorpos para o vírus.
O aumento foi de 7,3 pontos percentuais, passando de 12,3% para 19,6% da população de bairros como Itaim Paulista, São Miguel Paulista, Guaianases, Cidades Tiradentes, entre outros. Como comparação, só 10,3% dos moradores da região centro-oeste, a mais rica da cidade, onde estão Pinheiros e Lapa, por exemplo, tiveram contato com o novo coronavírus.
Esta foi a quinta fase do levamento realizado pela prefeitura, sob a gestão Bruno Covas (PSDB), e é a primeira vez que o maior percentual de casos está na zona leste —até então, bairros da zona sul sempre estavam à frente em prevalência para a Covid-19 na cidade.
Os dados mostram também que existe uma prevalência na contaminação de quem mora em domicílios com cinco ou mais pessoas (19,8%) e também nas classes D e E (18,7%), um percentual seis vezes maior que entre os mais ricos, da A e B (3,1%).
Entre as pessoas que trabalham fora de suas casas, 18,9% apresentaram anticorpos. É um percentual duas vezes maior que o de quem faz home office (7,2%).
A prefeitura está realizando inquéritos sorológicos também com crianças e adolescentes que estudam nas redes públicas e privada para definir a volta às aulas na capital
Para o infectologista Renato Grinbaum, o crescimento expressivo do número de pessoas que tiveram o contato com o coronavírus no extremo da zona leste é reflexo da desigualdade social. “Dificilmente elas têm o tipo de trabalho que dá para fazer home office. O transporte público tem condições precárias e não há espaço dentro do domicílio”, afirma.
Grinbaum diz que também há o fator cultural e que essas pessoas foram mais atingidas pela política de desinformação sobre a pandemia do coronavirus.
O especialista conta também que a reabertura da economia explica o aumento no número de infectados no extremo da capital.
Para o infectologista, passada a primeira grande onda da Covid-19, se tem melhores condições de atendimento. “Quando a gente consegue atender o paciente, evita UTI, internação, e um curso pior da doença”, afirma o médico.
Líder comunitário cita falta de infraestrutura na região
O representante do Movimento Popular de Saúde Leste, Paulo Belinelo, 66 anos, afirma que a falta de infraestrutura adequada é um dos principais motivos pelos quais a Covid-19 avança na zona leste. Ele cita problemas em áreas como habitação, saneamento básico e transportes.
“Principalmente no extremo leste, a questão da moradia é complicada. Há situações em que uma família de seis a oito pessoas divide um imóvel com dois cômodos. Fica difícil manter fazer a prevenção correta”, afirma.
Segundo Belinelo, problemas no saneamento básico na região também auxilia na propagação do vírus.
“Não temos coleta adequada de esgoto. Isso provoca doenças. Além disso, há bairros em que falta água dia sim, dia não”, afirma.
O transporte público é outro fator apontado pelo líder comunitário. “Há superlotação em trens, metrô e ônibus. Como fazer distanciamento social desse jeito?”, questiona.
Resposta
A Secretaria Municipal da Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), reconhece que há prevalência de casos de Covid-19 entre as classes D e E. A conclusão foi obtida por meio da realização de inquérito sorológico iniciado em junho e atualmente está na sexta fase —ao todo, serão oito.
“O objetivo é mapear a evolução do vírus para definir as ações preventivas e de combate à doença. Ao todo, 48 mil pessoas deverão ser testadas”, afirma em nota.
Segundo a secretaria, “foram instituídos mecanismos para monitoramento semanal das populações mais vulneráveis” com intuito de dar continuidade ao acompanhamento e identificar precocemente situações de risco.
A secretaria diz que retomou a construção de seis UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), sendo duas delas na zona leste: Cidade Tiradentes e Mooca.