Cinco crianças abandonadas são resgatadas no fim de semana em SP

Quatro casos ocorreram na capital e um em Campinas, no interior do estado

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São Paulo

A Polícia Militar resgatou neste fim de semana cinco crianças que foram abandonadas pelos pais em São Paulo. Os casos ocorreram na capital e em Campinas (95 km de SP) nos dias 12 e 13 de setembro. Entre as vítimas estava um bebê com poucas horas de vida.

O caso do recém-nascido ocorreu no bairro do Grajaú (zona sul) no último sábado (12). Uma moradora da região andava por uma viela quando viu um caixote de madeira que continha um saco plástico preto.

“Nesse local, o pessoal costuma abandonar animais. Então, essa moça abriu o saco para ver o que tinha, pensando ser um cachorro ou um gato, e encontrou o bebê”, diz a soldado Beatriz Pereira, 26, que atendeu a ocorrência.

Policiais miliares resgataram neste domingo (13) uma criança de aproximadamente 1 ano no Brás, região central de São Paulo - Divulgação/Polícia Militar

A mulher, então, levou a criança para sua casa para limpá-la. O bebê ainda apresentava sangue e placenta pelo corpo. “Quando chegamos à residência, o bebê estava em cima da cama, enrolado em um cobertor. Verificamos os sinais vitais e ficamos muito emocionados”, diz a policial.

O menino foi levado a um pronto-socorro no bairro Campo Limpo, também na zona sul.

No distrito de José Bonifácio, na zona leste, outra policial foi chamada, por volta das 5h40 de domingo (13), para atender a um caso de abandono. Duas meninas, de 2 e 3 anos, foram deixadas sozinhas em casa durante a madrugada. A polícia foi acionada por vizinhos, que ouviram as garotas gritando pelas mães.

“As crianças estavam sozinhas na casa, que tinha muita bebida e cigarros espalhados. Elas estavam com muita fome, pois não havia comida disponível”, relata a soldado Caroline Twardoski Lira, 30, que atendeu a ocorrência ao lado do cabo Ronaldo Ferreira Barboza, da 3ª companhia do 48º batalhão da PM na capital.

“Antes de levá-las à delegacia, ajudamos com o básico da higiene, e demos comida a elas”, diz Twardoski. A policial conta que as mães das duas meninas apareceram na delegacia somente por volta das 10h. “Uma delas estava muito alcoolizada e nem conseguia falar. A outra alegou que foi fazer um bico e que deixou a filha com a outra mãe. Mas segundo vizinhos, as duas saíram juntas por volta das 22h do dia anterior”, acrescenta.

Também no domingo, por volta de 7h, um menino de aproximadamente 1 ano de idade foi encontrado abandonado em um bar no bairro do Brás, na região central da capital. Segundo a PM, a criança foi deixada no local por volta das 4h. Junto com ela estava uma bolsa vermelha que continha moedas e algumas fraldas. No local também havia latas de cerveja vazias.

“O que me deixou triste foi a situação da criança, que estava no chão e com a roupa molhada de urina e de cerveja”, relata o soldado Omar Jalel Ghazzaoui, 32, que atendeu a ocorrência.

O policial passou em uma farmácia nas proximidades e comprou itens de higiene pessoal, além de leite em pó, mamadeira e biscoitos.

Membro da Polícia Militar há quase 11 anos, o soldado já atendeu outra ocorrência de abandono de incapaz, há cerca de um ano e meio. Na ocasião, a criança resgatada tinha entre 5 e 6 anos e também foi encontrada na região central de São Paulo.

No sábado (12), um menino de aproximadamente 3 anos foi localizado pela PM em Campinas (95 km de SP) em situação de abandono. Uma mulher viu a criança em meio a homens maiores de idade que estariam consumindo bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. A testemunha se aproximou, pegou o garoto e acionou a polícia.

“Quando nós chegamos, a criança estava bastante assustada, com sede, frio e fome, e não se comunicava”, diz o sargento Adriano Leite, 37. O policial emprestou ao garoto seu casaco da PM e deu a ele água do seu cantil. “Ele foi perdendo o medo. Falou seu primeiro nome e o nome da mãe, mas não sabia dizer onde morava”, lembra.

Os policiais começaram a perguntar aos vizinhos se conheciam a mulher com o nome informado pelo menino e receberam uma indicação de onde ela poderia morar. A equipe foi à casa e encontraram o avô da criança.

“Perguntamos ao avô dele sobre o menino. Ele confirmou que era seu neto e disse que deveria estar dormindo. Expliquei o que aconteceu e ele nos disse que a mãe havia ido a uma festa, mas que não sabia onde”, acrescenta o sargento.

Na delegacia, o menino disse que queria comer uma pizza. “Eu falei para o pessoal para ver se a gente conseguia arrumar uma pizza, mas, como era madrugada, não conseguimos. Então, compramos a ele um lanche e um refrigerante”, relata o sargento.

Segundo Adriano, a mãe do menino voltou para casa por volta de 6h e foi levada ao distrito policial. “Ela estava com sinais notórios de embriaguez e confirmou que foi a um baile funk.”

Polícia comunitária

Os agentes que participaram dos resgates das crianças abandonadas citam o trabalho comunitário exercido pela PM. “A maioria das ocorrências que atendemos são de apoio à comunidade. Mas infelizmente, parte da sociedade não têm essa visão sobre a polícia”, avalia a soldado Caroline Twardoski Lira.

Ela relata que, em muitas ocasiões, a polícia atua como mediadora, principalmente em casos de discussões, sem que sejam necessárias medidas coercitivas ou de força.

“Estamos nas ruas justamente para servir à população, seja numa busca a criminosos ou no auxílio a uma gestante”, acrescenta a soldado Beatriz Pereira.

Resposta

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, diz que atua na prevenção de situações de risco e no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários dos diversos ciclos de vida, bem como atendimento assistencial destinada às famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.

A pasta possui dois Serviços de Acolhimento Institucional para Crianças de 0 a 6 anos com 40 vagas. De caráter sigiloso, os serviços são referenciados nas 11 Varas da Infância e Juventude desta capital. Há também o Programa Família Acolhedora implantado em 2019 com o objetivo de oferecer acolhimento provisório à criança de 0 a 6 anos, com 30 vagas.

No primeiro semestre de 2020, foram acolhidas seis crianças de até dois anos em situação de abandono. No primeiro semestre de 2019, foram 11 crianças e no ano inteiro de 2019, foram acolhidas 14 crianças nessa situação.

A secretaria esclarece que para tomar as medidas protetivas de acolhimento institucional, a informação deverá ser encaminhada pelo Conselho Tutelar e aplicada pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude.

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