Ao menos 47 testes de Covid-19, mais agulhas e objetos de uso hospitalar, foram abandonados ao lado da estação Santos-Imigrantes (zona sul), da linha 2-verde do metrô. Segundo especialistas, o material pode provocar a transmissão de doenças como hepatite e Aids.

O designer Hugo Leonardo Peroni, 39 anos, notou os objetos jogados ao lado do viaduto quando voltava de compras em uma loja da região, no sábado (24), por volta das 16h. "Como fiz o teste para Covid-19 na semana anterior, identifiquei e chamou a atenção", afirma.

Peroni entrou em contato com a prefeitura por meio do telefone 156, ainda na noite de sábado. "Eles garantiram que iriam até lá", diz. O material, entretanto, continuava jogado no local na manhã desta segunda-feira (26). "A impressão é que esses objetos foram pegos por alguma pessoa em situação de rua. É bem provável que algum laboratório fez o descarte como lixo normal e essa pessoa, sem saber, acabou pegando. A culpa é de quem jogou fora de forma irregular", afirma.

Ao lado dos testes há uma barraca, mas, quando a reportagem esteve lá, nesta segunda, não havia ninguém.

Informadas sobre o tipo de material descartado ao lado da ponte, pessoas que usam a estação Santos-Imigrantes diariamente se mostraram inconformadas. "Ao invés de fazer o descarte correto, deixaram abandonado em qualquer lugar. Daí algum morador de rua foi lá e pegou. A responsabilidade por isso é de quem deixou acessível", diz o técnico eletricista Ricardo Silva, 51.

A operadora de caixa Shirlei Dias, 29, afirma que o material pode contaminar qualquer um. "É um risco para a população. Não deveria ser descartado de qualquer jeito, mas ter um lugar específico."

Contaminação

O médico Renato Kfouri, integrante da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), afirma que praticamente não há perigo de contaminação por Covid-19 de quem manipulou esses objetos. "Não há documentação de casos de transmissão por sangue ou outras vias que não a aérea [pelo ar, no sistema respiratório]", explica.

Kfouri, porém, alerta para o risco de a pessoa se contaminar por outras doenças como hepatite e Aids. "Além de acidentes com a perfuração pela agulha", afirma.

Segundo o infectologista, serviços de saúde credenciados na prefeitura devem seguir todo um protocolo de descarte de lixo de hospitalar, que leva à incineração desse tipo de produto.

Para Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP, é uma questão muito mais policial do que sanitária. "É preciso descobrir quem fez isso", afirma. "Quem fez isso está sujeito à legislação. É preciso identificar de quem é o lote, quem comprou e quem jogou", completa.

Segundo o médico, os testes são feitos de maneira geral em farmácias e lugares onde as pessoas sabem como promover o descarte.

Lotufo reforça que há risco de contaminação por doenças transmitidas pelo sangue, como os vírus da hepatite e o HIV.

Resposta

A Almlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana), da gestão Bruno Covas (PSDB), diz que realizaria a coleta dos resíduos hospitalares no endereço mencionado pela reportagem ainda nesta segunda-feira (26).

"A Amlurb efetua a coleta de resíduos de serviços de de saúde de cerca de 27 mil estabelecimentos, entre hospitais, clínicas médicas, estúdios de tatuagem, e outros", afirma, em nota. 
"Após a coleta, os resíduos são encaminhados para unidades de tratamento da cidade, que são devidamente licenciadas pelo órgão ambiental e posteriormente seguem para aterros sanitários também devidamente licenciados."

De janeiro a setembro deste ano, a ​Amlurb diz ter coletado cerca de 16,8 mil toneladas de resíduos de saúde.

A prefeitura afirma disponibilizar as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) para o descarte correto de medicamentos e outros resíduos. No site do Recicla Sampa há endereços de pontos de coleta para o descarte de Raio-x e remédios, diz a administração municipal.

"O descarte irregular de entulho em vias públicas é passível de multa no valor de até R$ R$ 16.693,28, conforme lei", afirma.