Chega o calor e, com ele, os pernilongos. Das coceira e manchas que ficam da pele depois da picada ao zumbido ao pé do ouvido durante a noite, ou até mesmo doenças graves como a dengue ou chikungunya, ter que conviver com esses insetos não é uma tarefa fácil.

O problema é comum nas cidades devido à poluição dos rios e canais. Na capital, são duas as espécies mais comuns de mosquitos: o Culex quinquefasciatus, que provoca o incômodo de manchas e coceira, e o Aedes aegypti, causador da dengue, mas que tem características diferentes, como o hábito diurno e início do ciclo de vida em água limpa.

"Em São Paulo temos um dos maiores criadouros, que é o rio Pinheiros, além dos córregos e um pedaço do rio Tietê. Por isso esse mosquito se adaptou bem nessas regiões", afirma Paulo Roberto Urbinatti, biólogo e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Até que fique adulto e saia picando as pessoas, um pernilongo tem um ciclo de vida de 10 a 15 dias como larva nas águas poluídas. No calor, contudo, esse tempo é encurtado --e as mudanças climáticas podem favorecer ainda mais a proliferação deles, diz Urbinatti. Como ele precisa de água com alto teor de matéria orgânica para se desenvolver, a poluição é essencial.

No caso do Culex, a fêmea, que costuma picar as pessoas em busca de sangue para desenvolver as larvas, não transmite doenças. Já em algumas cidades das regiões Norte e Nordeste, pode transmitir a filariose, que afeta os vasos linfáticos.

As áreas mais próximas a corpos d'água poluídos são as mais afetadas pelos pernilongos, afirma Sérgio Bocalini, biólogo especialista em entomologia urbana e vice-presidente executivo da Aprag (Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas).

Mas quem mora em regiões a até 4 km dessas águas também é afetado. "Especialmente no calor, com a evaporação da água, há muitas correntes de ar ascendentes. Como o pernilongo é leve, isso faz com ele ganhe altura e seja empurrado para grandes distâncias."

Há muitos métodos para tentar minimizar o problema, dos mais naturais, como plantar ervas, até os mais agressivos, como o uso de inseticidas. Mas nem todos, afirma Bocalini, são realmente eficientes.

"É muito importante que as pessoas tenham cuidado porque, na tentativa de resolver, muitas pessoas buscam métodos principalmente na internet, e acabam fazendo coisas que podem não funcionar e até trazer problema."

Em casa, os métodos mais eficientes são os que impedem a entrada dos mosquitos, como a instalação de telas em janelas e portas. Para quem não tem, a dica é fechar os acessos no fim da tarde, o horário de pico da atividade desses mosquitos.

Poder público deve limpar córregos e rios

Inseticidas e repelentes até conseguem diminuir o problema dos pernilongos naquele momento, mas livrar a população desses insetos é uma missão que cabe aos gestores públicos, com a limpeza de córregos e rios, dizem os especialistas.

Por nota, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia afirma que o Programa Novo Rio Pinheiros, iniciado em 2019 para despoluir o curso da água, deve ser concluído em 2022. Até lá, são executadas ações de combate a pernilongos em apoio à Secretaria Municipal de Saúde, com aplicação de larvicida na água, fumacê e inseticida nas margens.

A pasta afirma que mantém uma ação conjunta com o governo do estado para controle de pernilongos nas proximidades de córregos e rios. Segundo o órgão, o fumacê teve início na região do rio Pinheiros em agosto e continua nas próximas semanas.

COMO SE PROTEGER

EM CASA

• Passar repelente (crianças pequenas exigem atenção, já que nem todos os repelentes são apropriados para elas)
• Instalar telas em janelas e portas
• Colocar mosquiteiros sobre berços e, quando possível, camas
• Passar extrato de citronela no chão (durante a limpeza) ou queimar velas com a mesma substância --ela ajuda a afastar os mosquitos

NA RUA

• Passar repelente em todos os membros expostos antes de sair de casa
• Sempre usar roupa comprida, chapéus e botas em áreas com mato ou áreas de reprodução de mosquitos, como locais próximos a rios e lagos
• Em pontos com muitos borrachudos, vestir meias ou espalhar óleo (de cozinha ou amêndoa) nas pernas ajuda a evitar picadas, já que esses insetos costumam atacar mais os membros inferiores

O QUE ATRAI OS MOSQUITOS

• No caso de borrachudos e pernilongos, o que mais os atrai é o cheiro das pessoas. Por isso, algumas são mais picadas do que outras
• O cheiro do suor também pode atrair os insetos
• O sangue humano é usado pelas fêmeas para maturar os ovos
• A picada coça porque, para facilitar a penetração na pele, o mosquito libera uma proteína que lubrifica a área atingida. Ela contém substâncias que irritam e formam inflamações

Métodos mais usados para combater o mosquito

Vela ou incenso de citronela

• Eficiência: mediana
• Como funciona: a essência liberada afasta o mosquito
• Cuidados: deve ser mantida longe de papéis e cortinas

Inseticida espiral

• Eficiência: alta
• Como funciona: afasta os mosquitos quando queima
• Cuidados: evite a fumaça e não coloque perto de cortinas ou móveis

Repelente líquido e em pastilhas na eletricidade

• Eficiência: alta
• Como funciona: o líquido é evaporado e a pastilha é queimada, liberando o repelente
• Cuidados: deixe janelas abertas para que os mosquitos saiam

Raquete

• Eficiência: Baixa
• Como funciona: eletrocuta os mosquitos que entram em contato com o equipamento
• Cuidados: não deixe perto de crianças

Inseticida aerossol

• Eficiência: Alta
• Como funciona: Tem um princípio ativo que mata os mosquitos
• Cuidados: não deve ser aplicado com pessoas no ambiente

Repelente de pele

• Eficiência: alta
• Como funciona: impede que os mosquitos se aproximem da pessoa que aplicou
• Cuidados: é muito importante comprar apenas produtos registrados na Anvisa e atentar se há algum ingrediente ao qual a pessoa tenha alergia

Telas e mosquiteiros

• Eficiência: alta
• Como funciona: impedem que o pernilongo entre na casa ou que se aproxime da pessoa
• Cuidados: No caso do mosquiteiro, deve ficar longe do rosto da criança para que não haja risco de asfixia

Fonte: Aprag (Associação dos Controladores de Vetores e Pragas Urbanas); Sociedade Brasileira de Dermatologia