Descrição de chapéu Interior racismo

Família dá queixa na polícia contra escola que tapou foto de aluna negra em publicidade

Colégio particular de Jundiaí (58 km de SP) diz que caso não foi proposital e trocou a publicação em suas redes sociais

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Alfredo Henrique Fernando Damasceno
São Paulo

A família de uma menina negra, de 10 anos, registrou boletim de ocorrência de racismo contra a escola onde a criança estuda, em Jundiaí (58 km de SP), por causa da exclusão da menina numa publicidade da instituição de ensino. O caso foi na sexta-feira (20) passada, Dia da Consciência Negra.

O colégio Domus Sapiens disse que não foi proposital. Segundo a escola, a agência de publicidade contratada normalmente coloca a caixa de texto do lado direito dos anúncios da escola. E que por isso, o rosto da menina negra foi encoberto.

O pai da criança, um supervisor de 50 anos, afirmou em depoimento à polícia que jantava na casa de amigos, por volta das 21h30 de sexta-feira (20). Durante a refeição, a filha viu um anúncio da escola, em uma rede social, em que apareciam três estudantes brancas e ela.

Na publicidade, a menina negra, entretanto, estava encoberta por um espaço amarelo com a seguinte mensagem: “Importante na escola não é só estudar, é também criar laços de amizade e convivência”, citando o nome do educador Paulo Freire. A ocultação da imagem, constatada pela própria criança, “a deixou em uma situação vexatória”, diz trecho de boletim de ocorrência, registrado no 1º DP de Jundiaí no dia seguinte.

Publicação de escola de Jundiaí (58 km de SP) encobre menina negra de 10 anos. Peça publicitária foi compartilhada no Dia da Consciência Negra. Familiares da criança registraram um boletim de ocorrência contra a instituição de ensino no sábado (21) - Reprodução/Redes Sociais

Após o caso repercutir na internet, o colégio retirou a imagem em que a menina negra é encoberta. Em uma nova postagem, publicada no domingo, a instituição compartilhou novamente a foto, desta vez com a aluna negra visível.

O advogado Anderson Dario, contratado pela família juntamente com a advogada Silene Tonelli Regatieri, afirmou que dará andamento à averiguação do caso, após a mãe da menina, uma professora de 40 anos, prestar depoimento à polícia na tarde desta quarta-feira (25). Ele acrescentou reunir provas e documentações para mover uma ação contra o colégio.

“É uma questão delicada, pois trata-se de uma criança com apenas 10 anos de idade, negra, que no Dia da Consciência Negra teve seu rosto tampado num post [da internet] da escola onde estuda, tendo ela mesmo visualizado a foto no perfil da escola. Que isso seja exemplo para que outras instituições de ensino não façam o mesmo”, afirmou o advogado ao Agora, nesta terça-feira.

A advogada disse que a família quer uma retratação por parte da escola que, segundo ela, "terceirizou a culpa" pela publicação, atribuindo-a a uma empresa de marketing, que não teve o nome informado. "Não houve postura da escola em reconhecer o erro. A família entende que seria interessante fazer um trabalho junto aos alunos para que esse tipo de situação não se repita”, destacou a advogada.

A mãe da criança afirmou, nesta terça, que já iria transferir a filha do colégio, onde a criança estudou por cinco anos, “por outros fatores”. “Com certeza mudamos [de escola] na hora correta”, afirmou, se referindo ao suposto caso de racismo, em mensagem de texto de celular.

A mãe disse que a criança "está insegura e não quer ficar sozinha", acrescentando que a menina "não gosta de comentar no assunto."

O delegado Antonio Tota Júnior, titular do 7º DP de Jundiaí, afirmou já ter instaurado um inquérito policial, para investigar o caso. "Precisamos ouvir todas as partes envolvidas, incluindo da escola, para criar ainda uma convicção do que aconteceu de fato. Qualquer afirmação minha, neste momento, seria prematura ", explicou.

A escola ainda será oficiada pela polícia para esclarecer como a peça publicitária foi produzida e veiculada. O caso foi registrado como “preconceito de raça ou cor”.

Resposta

Segundo o departamento jurídico da escola, em nota, a agência de publicidade contratada pelo colégio elaborou 41 postagens em redes sociais em um pacote, "sendo que em praticamente todas as postagens feitas naquela oportunidade, o lado escolhido para a colocação da caixa de texto é justamente o lado direito da foto, se sobrepondo aos rostos de muitos outros alunos, em outras fotos, inclusive, alunos brancos, com o intuito de seguir um padrão estético na diagramação da publicidade [já que as fotos seriam lidas em sequência]".

"Ou seja, analisado o conteúdo da publicidade feita naquela data, não sobreleva qualquer dúvida de que a ocultação da imagem da aluna, em questão, não foi propositalmente escolhida por critério racial, e sim, pelo critério geral de posicionamento da caixa de texto nas fotos divulgadas sequencialmente na rede social", afirmou, em nota.

"O colégio, ao longo de uma trajetória dedicada à inclusão social e à censura de toda e qualquer prática discriminatória, apoia decisivamente as ações visando coibir o racismo e a disseminação de propagandas de ódio e violência. essa é a nossa missão perante a comunidade e na formação de nossos alunos", disse. ​

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