Policiais militares fazem em média um parto por dia em SP

Entre janeiro e novembro, foram 424 nascimentos feitos por PMs no estado, 198 deles na capital

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São Paulo

No dia 8 deste mês, policiais militares em ronda no bairro da Penha, na zona leste de São Paulo, foram acionados para prestar socorro a uma gestante que havia acabado de entrar em trabalho de parto. Não deu tempo de levá-la ao hospital, e os bebês —sim, eram dois— acabaram nascendo, um embaixo da ponte, o outro, dentro da viatura.

Isso está longe de ser raro para os agentes da Polícia Militar. Entre janeiro e novembro deste ano, PMs realizaram 424 partos no estado de São Paulo, média de 1,2 caso por dia.

Os soldados da PM Silva e Magalhães, com Cleiton Silveira Batista Amorim e Marciana Viana Campos e o filho do casal Mysael Viana Amorim. Mysael nasceu com a ajuda dos dois policiais - Eduardo Anizelli/Folhapress

Na capital paulista, 198 crianças vieram ao mundo com a ajuda de PMs, representando 46,6% do total de casos deste ano, até novembro. Já na Grande SP foram 103 nascimentos, e em cidades do interior e litoral, 123.

Além de treinamento tático e ostensivo para agir em situações de violência, agentes são instruídos durante cursos preparatórios para atender casos envolvendo também a saúde das pessoas, incluindo partos.

“Nossos policiais são preparados para lidar com eventos naturais, como o nascimento de uma criança. Eles estão aptos a agir com calma e fazer o acompanhamento da parturiente enquanto acionam socorro especializado, como o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] ou os bombeiros”, explica o major Celso Ricardo de Souza, chefe de divisão operacional do CPAM/10 (Comando de Policiamento de Área Metropolitana 10).

Há casos mais urgentes, porém, em que os próprios PMs acabam ajudando as grávidas a darem à luz, na casa da gestante ou até mesmo dentro da viatura, a caminho do hospitais.

“É uma felicidade ao policial dar apoio em ocorrências envolvendo a vida”, afirma Souza.
Ele mesmo diz estar pronto para ajudar a esposa, grávida de seis meses e meio, caso ocorra algum imprevisto.

Entre janeiro e novembro do ano passado, policiais militares contribuíram para o nascimento de 579 crianças no estado de São Paulo. Deste total, 278 foram na capital, 172 na região metropolitana e 129 no interior e no litoral.

Dona de casa deu à luz em carro da PM


O pequeno Mysael Viana Amorim não esperou a mãe entrar no Hospital Geral do Grajaú (zona sul) e nasceu no banco traseiro da viatura da PM que o levou, no estacionamento da unidade de saúde, no último dia 8.

A ronda dos soldados Orani Magalhães Júnior e Roger José da Silva, do 27º Batalhão, foi interrompida com o chamado para que ajudassem uma mulher em trabalho de parto. Em menos de cinco minutos os policiais chegaram à casa do auxiliar de limpeza Cleiton Batista Amorim, 31anos, e da dona de casa Marciana Viana Campos, 28.

“O grande desafio foi ir rápido, mas evitando trepidações”, afirmou Silva. Chegando ao estacionamento do hospital, o garotinho acabou nascendo, com quase três quilos.

Criança ‘apressada’ nasce no quarto

Quando a cozinheira Evanir da Silva, 41 anos, foi dormir na noite de 5 de dezembro de 2019, não imaginava que acordaria por volta das 4h do dia seguinte sentindo as já conhecidas dores do parto. Mãe de dois filhos, ela estava em casa somente com o mais novo, na ocasião com 10 anos, na região do Jardim Ângela (zona sul).

“Eu me levantei e fui tomar banho. Quando terminei, senti que já estava para nascer [o bebê] e pedi para meu filho ligar para o 190 [da Polícia Militar]”, diz.

O pedido de Evanir foi comunicado, via rádio, aos soldados Ana Carolina Costa de Camargo e Eder Ventura Araújo Almeida, do 37º Batalhão da PM, que faziam rondas pela região.

Os policiais militares chegaram à residência da cozinheira em menos de cinco minutos. "Quando vimos o tamanho da escadaria que dá acesso à casa, percebemos que teríamos dificuldades para retirar a mulher, caso fosse necessário”, relembra o soldado Almeida.

Já no quarto da cozinheira, a dupla de policiais percebeu que a criança já estava em vias de nascer. Usando as técnicas ensinadas no curso de formação, enquanto o policial acalmava Evanir, a soldado fez com que a grávida ficasse deitada, em uma posição que ajudasse no parto.

“No curso que fazemos, a teoria nos é passada com calma, durante um tempo relativamente longo. Na prática, foi tudo muito rápido, e deu tudo certo”, afirmou Ana Carolina, atualmente grávida de oito meses, de uma menina.

“Quando eu vi a PM chegando em casa, fiquei mais tranquila, pois meu medo era acontecer alguma coisa comigo e com o bebê”, disse a cozinheira. Após o nascimento, bombeiros chegaram à residência, cortaram o cordão umbilical da criança e a levaram, com a mãe, ao hospital. Bryan da Silva Dangelo, hoje com um ano, nasceu com 2,5 quilos.

Nasceu com ajuda policial e acabou se tornando soldado

Antonio Islas Ferreira de Jesus, 26 anos, afirma que seu nascimento o predestinou a se tornar PM. Em 23 de julho de 1994, quando sua mãe seguia com o marido e uma amiga da família para o hospital, o carro quebrou sob um temporal.

Diante do problema, a amiga pediu ajuda a policiais que estavam ali perto. Ao verificar o estado da mulher, os policiais perceberam que Islas já estava nascendo e tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço.

“Enquanto um dos policiais foi buscar um médico, o outro ajudou para que eu não fosse sufocado pelo cordão umbilical.”

Logo um médico chegou, acompanhado do outro PM, cortando o cordão umbilical. Como não havia pano ou toalha disponíveis, um dos policiais retirou a própria jaqueta e envolveu o bebê. “A primeira vez que fui vestido na vida, foi com uma farda da PM. Isso predestinou o meu futuro”, disse o PM do 37º Batalhão.

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