Municípios paulistas querem vacinação contra coronavírus sem interrupções

Doses da 1ª fase serão entregues em lotes fracionados e gestores esperam que não ocorra atraso

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São Paulo

As cidades paulistas já se preparam para começar imediatamente a vacinação contra o coronavírus, mesmo sem a certeza de quando terão doses disponíveis. Agulhas, seringas e todos os suprimentos necessários para iniciar a primeira fase da campanha estão reservados. Entre os responsáveis pelo programa de imunização, a ansiedade é grande.

O governo estadual anunciou que os municípios não receberão todas as doses da primeira fase de uma só vez. Parte dos representantes das 11 cidades ouvidas pela reportagem apontam esse como um entrave para bater o martelo sobre o planejamento a ser adotado. O secretário da Saúde de Sorocaba, Vinícius Rodrigues, já trabalha com três cenários distintos, de acordo com a quantidade de vacinas que venha a receber por lote. “O medo é que alguém procure e não tenha chegado ainda [a reposição]”, diz. “Se não mandarem tudo, como vou fazer? Vou ter que escalonar?”, questiona. Na cidade, serão vacinadas 105 mil pessoas na primeira fase, que engloba profissionais da saúde, pessoas com 60 anos ou mais, indígenas e quilombolas.

Chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica de Ribeirão Preto, Daniel Cardoso de Almeida e Araujo também diz que a principal dificuldade deverá ficar por conta do fornecimento, que pode levar a um “começa e para”. “O ideal é que se tenha uma quantidade para começar e que a campanha não seja interrompida, para dar um fluxo ao longo das semanas, para não ter muita quebra. Isso seria muito estressante para o profissional da saúde e para a população”, afirma.

Em Guarulhos (Grande SP), cidade mais populosa do estado fora a capital, todo o planejamento está na dependência na quantidade de doses que o município receberá por lote, por exemplo. O município afirma que está preparado para instalar até quatro grandes polos, com até 700 profissionais envolvidos.

Cidade mais distante da capital, Rosana aguarda doses com ansiedade

A cidade paulista mais distante da capital também se prepara para receber as doses da primeira fase da vacinação contra o coronavírus. Em Rosana (740 km de SP), o secretário municipal da Saúde, Claudair Garcia dos Reis, vive a mesma apreensão de seus colegas de lugares mais populosos e conta que a pandemia provocou sete mortes e deixou mais de 400 contaminados no município, que tem cerca de 18 mil habitantes.

Apesar da desconfiança dos desinformados em relação à vacina, Pardal, como é conhecido o secretário, espera que a adesão seja alta no município. “Na hora que estiver todo mundo se vacinando, tenho certeza que ninguém vai querer perder a vez”, afirma. Ele próprio não vê a hora de receber uma dose. “Rapaz, eu não vou esperar nem sair do caminhão”, brinca.

O secretário da Saúde diz que a possibilidade de vacinação já para os próximos dias trouxe um pouco de alívio para Rosana, que segue as regras definidas do Plano São Paulo para a região de Presidente Prudente —geralmente, bastante rígidas. “Além da pandemia, criou-se uma fadiga financeira. A nossa região foi muito afetada. A taxa de ocupação em leitos de Presidente Prudente é muito alta”, diz.

Rosana, que tem esse nome por causa da filha do fundador do grupo Camargo Corrêa, Sebastião Camargo, fica distante até mesmo de municípios da própria região. São cerca de 200 km até Presidente Prudente ou Presidente Venceslau, de onde será trazida a vacina. “Somos a primeira, não a última cidade do estado”, diz Pardal, o que faz todo o sentido se o visitante chega do Mato Grosso do Sul. “Dependemos muito do que virá de São Paulo, de que maneira vai ser disponibilizada e quando iremos receber a vacina. Só a partir daí tenho condições de definir como será feita a vacinação.”

ABC estoca insumos e espera só ‘dia D’ e ‘hora H’

Cidades do ABC já estocam insumos e afirmam que estão prontas para dar início à primeira etapa da campanha assim que as vacinas forem disponibilizadas.

O prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), visitou depósito de suprimentos nesta semana e disse que o planejamento deve garantir a vacinação sem sustos. “Quando as vacinas seguiram para a fase final de aprovação, a secretaria começou a se planejar para ter um estoque não só do consumo diário”, diz. “Claro que falta o principal, que é a vacina, mas não cabe ao município. A grande dúvida é saber quando será o ‘dia D’ e a ‘hora H’”, completou.

Em São Bernardo do Campo, a prefeitura pretende usar 34 UBSs (Unidades Básicas de Saúde), escolas (enquanto aulas presenciais não forem retomadas), templos e centros culturais com o intuito de evitar aglomeração entre grupos prioritários. Já Diadema deve aplicar 140 mil doses na primeira fase e, para isso, vai usar 42 postos fixos e volantes.

A secretária da Saúde de São Caetano do Sul, Regina Maura Zetone Grespan, lida diariamente com uma das populações mais envelhecidas do estado. A cidade tem 23% dos habitantes com 60 anos ou mais. Ela calcula que, na primeira fase, serão vacinadas 43 mil pessoas. Se houver a possibilidade, o município já demonstrou interesse em comprar, com recursos próprios, doses para imunizar rapidamente todos os cerca de 160 mil habitantes.

Seria uma forma de evitar descompassos já esperados. “A vacina vai chegar a conta gotas. Quem está falando em fazer drive-thru, usar escola, não leva isso em consideração. Vai vir picado, por semana, e a gente vai usando e agendando como for possível”, explica.

Na capital, por exemplo, a prefeitura diz que existe capacidade para aplicar até 600 mil doses diariamente, em 3.000 postos, com o apoio de 27 mil funcionários. Para isso, porém, é preciso o principal: a vacina.

Campinas terá agendamento e separação

A diretora do Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) de Campinas, Andrea Von Zuben, afirma que a vacinação no município será em “locais grandes e estrategicamente distribuídos”, com agendamento prévio e aplicação da vacina de cinco em cinco minutos. Segunda ela, esse cuidado é necessário para evitar a exposição das pessoas que compõem o grupo prioritário, formado por cerca de 210 mil habitantes.

A rede de UBSs do município não será usada. “A gente não queria colocar as pessoas sadias próximas a outras que estão para ser atendidas por síndrome respiratória”, afirma. A questão da segurança foi outro motivo. “Sabemos que é uma vacina restrita, só para alguns grupos, nas doses exatas, e a gente tem medo de roubo e desvio. Quando pulveriza muito, até pessoas que não são do grupo específico vão procurar”, explica.

A responsável pelo Devisa afirma que o estoque de suprimentos do município é suficiente para a primeira fase da campanha. Posteriormente, precisará recorrer a uma nova tomada de preços e até a cooperação dos governos estadual e federal, como prevê a legislação.

Estado planeja envio semanal das doses

Ao longo da semana, o governo estadual, sob a gestão João Doria (PSDB), se posicionou sobre a forma como serão distribuídas as vacinas e afirmou que enviará 2 milhões de doses, semanalmente, para os municípios. Durante a primeira, a estimativa é de que 9 milhões de pessoas sejam imunizadas no estado de São Paulo.

O governo também afirmou que serão percorridas cerca de 70 rotas em caminhões rastreados e com monitoramento de temperatura. As doses seguirão para 200 municípios com 30 mil ou mais habitantes, de onde serão retiradas pelas demais 445 cidades do estado. A expectativa é de que 25 mil policiais militares façam a escolta das vacinas.

Sobre seringas e agulhas, o governo afirmou que 75 milhões de unidades estão disponíveis e 20 milhões já foram distribuídas para a rede. Segundo o governo, a previsão é de que todas as pessoas que aptas na primeira fase sejam vacinadas até 28 de março.

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