São Caetano lidera ranking de mortes por 100 mil habitantes na Grande SP; veja a lista

Entre os mais jovens, Barueri tem o maior número de óbitos proporcionalmente

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São Paulo

A cidade de São Caetano do Sul tem, proporcionalmente, o maior número de mortos por coronavírus na Grande SP. Foram 302 óbitos por 100 mil habitantes, encabeçando uma lista que, entre as dez primeiras, conta ainda com outras três cidades do ABC —Santo André, São Bernardo e Mauá. O levantamento da reportagem foi baseado em dados do Seade.

Levantamento mostra que São Caetano do Sul (ABC) lidera o ranking de mortes por Covid-19 por 100 mil habitantes na Grande SP - Rivaldo Gomes/Folhapress

Calcular o número de mortos por 100 mil habitantes é uma forma de estabelecer uma comparação confiável entre cidades com diferente quantidade de moradores. Por exemplo, a capital paulista, com 11,9 milhões de pessoas, é também o município com o maior registro de mortos durante a pandemia (mais de 20 mil, até esta terça), obviamente. Quando o total é ponderado pelo tamanho populacional, São Paulo fica em 10º lugar entre as 39 cidades da região metropolitana.

O número tão elevado de mortos por 100 mil habitantes após um ano de pandemia pode ser explicado pela faixa etária da população de São Caetano, bastante envelhecida. A cidade do ABC tem praticamente um em cada quatro moradores com 60 anos ou mais (23,7%). Fora isso, tem também, disparado, o maior índice de envelhecimento da Grande SP, com três idosos para cada duas crianças e adolescentes de até 14 anos. Até o surgimento das novas variantes, a velhice foi um fator decisivo para determinar a sobrevivência ou não de pessoas contaminadas pelo coronavírus.

Em 11 de março, o Agora mostrou que parte do comércio local desrespeitou regras da fase vermelha e o prefeito em exercício Tite Campanella (Cidadania) pediu na Justiça a volta à fase laranja, menos restritiva.

Ponderação

A população idosa é um fator tão preponderante para alçar São Caetano ao topo do ranking de mortos por 100 mil habitantes que, excluídos aqueles com 60 anos ou mais, a cidade do ABC cai para o 13º lugar onde, proporcionalmente, mais se morreu por Covid-19 na região metropolitana.

Com a rápida mutação do vírus e a mudança no perfil dos mortos desde o início do ano, vale a pena colocar em foco outras cidades que já têm, proporcionalmente, um elevado número de mortos mais jovens, com idade inferior aos 60 anos.

Nesse grupo, destaca-se Barueri. A cidade da região oeste da Grande SP tem 79 mortos a cada 100 mil habitantes com menos de 60 anos. Dentro dessa faixa etária, a média na metrópole é de 48 óbitos a cada 100 mil moradores.

Entre os mais jovens, os números apontam também para cidades do ABC. Santo André, Mauá e São Bernardo do Campo estão entre as dez onde mais se morreu por Covid-19, proporcionalmente, abaixo dos 60 anos.

Pastor perdeu a sogra após 34 anos de convivência

O pastor José Wellington de Melo, 53 anos, perdeu a sogra no último dia 13 de março, vítima da Covid-19. Moradora de São Caetano do Sul (ABC), Alice Maria Bargan, 79, sentiu dores de cabeça e pelo corpo, passou 19 dias internada e não resistiu à contaminação pelo novo coronavírus. "A doença é real, existe. A gente sentiu um corte na carne com a perda da minha sogra. Foram 34 anos de convivência, uma perda irreparável", conta Melo, que também se infectou. Pouco antes, a filha dele, de 20 anos, também tinha contraído a doença. Ambos se recuperaram em casa, permanecendo isolamento.

A família de Melo e a sogra dividiam o mesmo quintal, mas viviam em casas diferentes. Segundo ele, Alice saía pouco, só para ir ao médico, e mesmo assim acabou contaminada. O pastor conta que o atendimento por parte da saúde municipal foi rápido e atencioso, mas não houve como salvar a idosa. "Ela era cardiopata, usava marca-passo. Afetou a parte respiratória, comprometendo 50% do pulmão", relata.

Segundo Melo, conversas sobre familiares que morreram em decorrência da Covid-19 são comuns em São Caetano. "Temos vizinhos, inclusive, que perderam familiares. Hoje mesmo, conversei com um rapaz que perdeu a mãe com 72 anos."

Diante de tantas mortes, o pastor faz um apelo à população. "A mensagem é uma só, para todos se cuidarem e realmente manterem o distanciamento. A doença é uma realidade."

Resposta

A secretária da Saúde de São Caetano do Sul (ABC), Regina Maura Zetone, cita a taxa de envelhecimento da população, a densidade demográfica, o fato de o município estar cercado pela mancha urbana da Grande SP, entre outros, como fatores que aumentam o riscos, na comparação com as demais cidades. “São Caetano, por exemplo, teve apenas 13% dos óbitos que teríamos, caso adotássemos um padrão de controle similar a média do que foi aplicado na região metropolitana. Ou seja, caso tivéssemos mantido os padrões médios de controle de toda a região, hoje estaríamos com algo ao redor de 3.400 óbitos”, diz.

Entre diversas medidas, cita a criação de um comitê de combate à Covid-19 ainda em fevereiro 2020, coleta de exames em casa, monitoramento dos casos, limpeza de espaços públicos e outros. “Implantamos o programa Disque Coronavírus onde, por meio do coronasaocaetano.org o morador agenda a auto coleta domiciliar para atendimento de casos suspeitos, coleta de PCR e monitoramento por telemedicina dos casos positivos e contactantes desde o início da pandemia, que permanece até hoje”, diz.

Regina Maura afirma também que foram adotadas medidas para aliviar o serviço público de saúde. “Implantamos, entre abril e agosto de 2020, um hospital de campanha para dar apoio ao nosso sistema hospitalar e aliviar a pressão no sistema de saúde pública”, diz.

A secretária afirma que o sistema do município é estruturado para atender de forma integral seus munícipes, particularmente os da terceira idade, que tem políticas públicas específicas de prevenção de doenças e promoção de saúde.

Segundo Regina Maura, ninguém está feliz com os resultados, mas “continua se esforçando e obtendo um desempenho que, se não é ideal, pelo menos foi suficiente para salvar as vidas de quase 3.000 pessoas que vivem em São Caetano, e que teriam morrido, caso tivéssemos adotado o padrão médio de administração que foi adotado na Região Metropolitana de São Paulo”.

A Prefeitura de Barueri diz que o município, além de contar com uma grande população flutuante (cerca de 250 mil pessoas entram e saem da cidade todos os dias para trabalhar), recebe diariamente pacientes de cidades vizinhas em grande proporção (35% a 40% de pacientes de fora). “A situação atual é ainda mais crítica neste momento de pandemia, com a falta de vagas cedidas pelo Estado, ficando o município acolhendo a todos os casos em nosso sistema de saúde”, diz, em nota.

A administração municipal de Barueri afirma também que abriu novos leitos de UTI, Suporte Ventilatório e Enfermaria. “A prefeitura, além de abrir mais 100 novos leitos para tratamento com equipes especializadas, aderiu ao lockdown nas duas últimas semanas, bem como antecipou alguns feriados para a próxima semana em uma tentativa de diminuir a contaminação”, afirma.

Sobre a questão das vagas levantada pela Prefeitura de Barueri, a Secretaria Estadual da Saúde afirmou que a demanda de transferências para casos de COVID-19 registradas na Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) cresceu 117% em comparação ao pico da pandemia: atualmente, são cerca de 1,5 mil pedidos por dia, contra 690 em junho de 2020, quando foi o auge da primeira onda. Já houve cerca de 190 mil regulações desde março do ano passado.

Segundo a secretaria, a regulação depende da disponibilidade de leitos e de condição clínica adequada para que o paciente seja deslocado com segurança até o hospital de destino.

Veja os números*

Cidades Óbitos Mortes/100 mil habitantes
São Caetano do Sul 456 302
Santa Isabel 142 256
Santo André 1.581 228
Barueri 590 222
São Bernardo do Campo 1.723 211
Mauá 871 188
Mogi das Cruzes 816 187
Osasco 1.269 186
Guarulhos 2.418 178
São Paulo 20.634 173
Poá 197 169
Arujá 149 164
Taboão da Serra 460 160
Biritiba Mirim 50 153
Diadema 601 148
Guararema 44 148
Caieiras 150 147
Itapecerica da Serra 246 144
Carapicuíba 563 142
Salesópolis 24 142
Suzano 414 141
Itapevi 338 140
Ribeirão Pires 164 137
Cajamar 105 133
Santana de Parnaíba 184 131
São Lourenço da Serra 20 127
Embu-Guaçu 86 125
Itaquaquecetuba 470 125
Cotia 308 123
Franco da Rocha 178 116
Mairiporã 115 115
Jandira 143 114
Ferraz de Vasconcelos 208 107
Francisco Morato 185 105
Juquitiba 32 105
Rio Grande da Serra 50 99
Embu das Artes 264 97
Vargem Grande Paulista 45 84
Pirapora do Bom Jesus 9 47

Veja os números entre a população com menos de 60 anos

Cidade Menos de 60 anos Mortes por 100 mil
Barueri 187 79
Santa Isabel 31 66
Santo André 364 64
Mauá 251 62
Mogi das Cruzes 215 58
Osasco 332 57
Guarulhos 670 56
São Bernardo do Campo 385 56
Poá 56 56
Biritiba Mirim 15 53
Itapevi 113 52
São Lourenço da Serra 7 52
São Caetano do Sul 59 51
Guararema 13 51
Suzano 125 49
Taboão da Serra 124 49
Cajamar 33 47
Carapicuíba 159 46
Cotia 102 46
São Paulo 4.515 45
Arujá 35 44
Itaquaquecetuba 145 43
Caieiras 38 43
Salesópolis 6 42
Ferraz de Vasconcelos 72 42
Ribeirão Pires 41 41
Jandira 45 41
Franco da Rocha 55 40
Itapecerica da Serra 61 40
Diadema 140 39
Rio Grande da Serra 17 38
Francisco Morato 57 36
Embu das Artes 88 36
Vargem Grande Paulista 16 34
Santana de Parnaíba 40 32
Embu-Guaçu 18 30
Mairiporã 21 24
Juquitiba 3 11
Pirapora do Bom Jesus 1 6

*até terça-feira (23)

Fonte: Seade

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