Voltaire de Souza: Quem tem boca vai pra fila
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Pressa. Urgência. Prioridade.
É a fila da vacina.
Muita gente fica ansiosa.
—Quando vai chegar a minha vez?
A situação piora na metrópole.
—Vão acabar vacinando o meu cadáver.
Cuidados com a saúde são essenciais.
Míriam não esquecia a beleza bucal.
—Marquei o branqueamento para terça.
O dentista se chamava Róbson.
Cuidadoso. Delicado. Mãos de fada.
Depois do tratamento, Míriam viu a janela de oportunidade.
—Ele esqueceu a carteirinha dele na mesa da recepção…
Com um gesto rápido, ela furtou o documento profissional.
—A foto é de homem… mas até aí, não vejo problema.
A ideia era entrar na fila com a identidade do dentista.
No espelho, Míriam fez os ajustes.
Tirou a peruca. O batom. A maquiagem.
—As sobrancelhas deixo crescer uns dias.
As roupas masculinas estavam no fundo do armário.
—Sorte que eu não exagerei no silicone.
Depois de anos de transexualidade, Míriam voltou a ser homem.
Na hora da vacinação, ela não mentiu.
—Sou homem. E trabalho na boca.
De fato. Míriam fazia ponto na General Jardim.
Posições variam.
Mas o trabalho do sexo não deixa de ser na linha de frente.