Descrição de chapéu Coronavírus

Falta de vacinas provoca fila de idosos em UBS da zona leste de São Paulo

Unidade de saúde na Mooca abriu às 7h mas imunizantes chegaram somente às 9h43

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São Paulo

Idosos de 80 a 84 anos que procuraram a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus na UBS Mooca 1, na zona leste de São Paulo, foram obrigados a encarar uma longa espera de mais de três horas nesta segunda-feira (1º). O motivo da demora foi a falta dos imunizantes. Até o início da aplicação, às 9h58, mais de 100 pessoas aguardavam em duas filas, sendo uma do drive-thru, de carros, e outra com senhas, sob a marquise, para quem foi a pé.

Funcionários da UBS Mooca 1, na zona leste de São Paulo, carregam banco para organizar fila de idosos que aguardavam para serem vacinados contra a Covid-19 - Zanone Fraissat/Folhapress

Mesmo com a abertura da UBS programada para as 7h, só havia nesse horário vacina Coronavac, do Instituto Butantan, para quem tomaria a segunda dose. Para aqueles que receberiam a primeira dose, a vacina ofertada seria a da Oxford/Astrazeneca, da Fiocruz, que chegou à unidade apenas às 9h43.

Esta segunda-feira foi o primeiro dia de vacinação contra a Covid-19 em idosos de 80 a 84 anos nas UBSs de todo o estado de São Paulo. No sábado (27), a vacinação para esta faixa etária foi antecipada nos drive-thrus da capital, o que gerou fila e espera de até cinco horas de espera no posto da praça Charles Miller, no Pacaembu, zona oeste.

Na Mooca, o industrial aposentado Orlando Antônio, 82, encostou o carro em frente ao drive-thru às 6h15. Foi o primeiro da fila motorizada. Estava acompanhado da mulher, a dona de casa Ana Antônio, de mesma idade. Passava das 9h30 e nada ainda de tomar a primeira dose.

"Na televisão, eles estavam falando em sete horas de fila. Pensei 'opa, então vou chegar bem cedo'. E cheguei cedo demais, mas olha como está a fila aí para trás também", disse.

A ansiedade entre os idosos foi muito grande. Para adiantar o trabalho, funcionários da unidade de saúde anteciparam a parte burocrática, tomando os dados dos interessados na vacina com antecedência. Também tentaram animar a turma na fila.

O aposentado Dirceu Teixeira Cambuí, 82, chegou à fila às 6h, com um quadriciclo elétrico que o ajuda a andar por toda o bairro há 13 anos, desde que sofreu um derrame. "Viro a Mooca de perna para cima", diz. Ele estava na fila sob a marquise. "Quando cheguei aqui no posto, já tinha cinco na minha frente", disse o ibitinguense que veio para a capital paulista nos anos 1960.

Dez minutos após o início da vacinação, a fila de carros se estendia para fora do parque da Mooca, na rua Taquari, contornando a praça Maria Cândida F. de Oliveira e provocando congestionamento no trecho em que a rua dos Trilhos se torna mão dupla.

Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde, gestão Bruno Covas (PSDB), ainda não respondeu sobre a falta das vacinas na UBS Mooca 1 até a publicação desta reportagem.

Drive-thru

Na UBS Vila Santo Estevão, no vizinho Tatuapé (zona leste), a fila para quem foi caminhando até que andou rápido, numa média de cem vacinados a cada 45 minutos, como constatou a reportagem no horário do almoço. O problema maior ocorreu no drive-thru, onde uma tremenda confusão envolvendo os carros obrigou até mesmo a Polícia Militar a intervir.

No início da manhã, duas filas se formaram em um funil que desaguou na quadra a cem metros da UBS. Uma pela rua da própria unidade, a Antonio Camardo. A outra, pela rua Apucarana. Para desatar o nó, policiais orientaram os carros que estavam na última a dar uma volta e se encaixar atrás da primeira. O resultado foi um longo congestionamento de 550 metros, que contornou a rua Itapura e dobrou a Itapeti, formando um “J”.

A aposentada Wanda Godói Gouvêa, 83 e o marido Arcídio Gouvêa, 84, entraram na fila da Apucarana e, por isso, ficaram mais de quatro horas esperando pela vacina. “Tivemos que pegar o fim da fila. Isso atrapalhou demais. É falta de organização. O senhor acha que é para a gente passar por isso? É muito sofrimento”, afirmou a mulher, se abanando no calor do meio-dia.

Cerca de 200 metros para trás estava a estilista aposentada Maria do Carmo Scalzoni, 80. Laço vermelho na cabeça, ela esperava já havia duas horas no carro da filha, sem ar-condicionado. “Estava mais do que ansiosa. Não vejo a hora de tomar essa vacina para acabar com essa pandemia.”

Zona sul

Funcionários da UBS Sigmund Freud, na avenida Indianópolis, em Moema (zona sul), relataram que a vacina começou a ser aplicada somente às 9h, duas horas depois da abertura da unidade, porque elas ainda não estavam disponíveis.

Na calçada, no início da tarde, uma fila com cerca de 50 pessoas, muitas delas com guarda-chuva e sombrinha para se proteger do sol, se formou à espera do imunizante. Mesmo sem drive-thru, também um pequeno congestionamento tomou conta da faixa da direita da Indianópolis, em frente à UBS.

Idosos recorreram a sombrinha e guarda-sol na fila para vacina na UBS Dr Sigmund Freud, em Moema, na zona sul da capital paulista - Zanone Fraissat/Folhapress

Apesar da espera, um casal de idosos comemorava o fato de botar os pés na rua por um motivo tão especial. O comerciante Milton Ostronoff, 86, ficou um ano trancado em casa até sair para tomar a primeira dose da Coronavac, em meados de fevereiro. “Venho para tomar a segunda no dia 5”, disse. Nesta segunda, foi ao posto para acompanhar a mulher, a também comerciante Olga Ostronoff, 84, que não via a hora de receber a vacina.

“Eu nem dormi. Sou muito ansiosa. A gente não vê a hora de poder abraçar os filhos e os netos, voltar à vida normal, que a gente perdeu”, afirmou.

Quando o casal Ostronoff fala em “normalidade”, não é a uma vida pacata e sem novidades que os dois se referem. Milton é um “pé de valsa”, ama sapateado e também faz teatro, atividades interrompidas com a pandemia. “A gente estava ensaiando para uma peça, mas tivemos que parar com tudo, tanto os mais velhos quanto os mais novos”, disse. Também o trabalho no comércio acabou sob os cuidados de uma filha e uma neta. Para os dois, a vacina é a liberdade para voltar a fazer as coisas que mais gostam.

Resposta

A gestão Bruno Covas (PSDB) diz que a vacinação teve início às 7h na UBS Mooca 1, que funciona de segunda à sexta feira, das 7h às 19h, apesar de a reportagem ter presenciado o início da imunização de idosos a partir de 80 anos as 9h58.

Na nota, a Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste afirma que como a unidade não têm espaço para armazenamento frio de grandes quantidades de doses e que ela é abastecida pelo PADI (Posto de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos) de acordo com a necessidade. “Ainda durante a manhã, a UBS foi reabastecida e o processo de vacinação foi normalizado”, diz.

Sobre a UBS Santo Estevão, no Tatuapé, a Secretaria Municipal da Saúde diz unidade "é a que mais vacinou idosos na região durante a campanha da vacinação de H1N1 e a situação é semelhante contra Covid 19".

Segundo a pasta, as filas estavam organizadas desde a manhã, quando a supervisão realizou visita à unidade para conferir o andamento da vacinação.

"Para os pacientes que chegam de carro, a fila é única para qualquer uma das doses. Para os que chegam a pé, duas filas foram organizadas, uma para 1ª dose e outra para 2ª dose", diz a nota. "A Polícia Militar e a CET [Companhia de Engenharia de Tráfego] seguem na unidade e na rua para auxiliar no trânsito nas imediações, visto à grande quantidade de carros que aguardam pela vacinação.

A pasta não respondeu sobre a UBS Sigmund Freud, em Moema.

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