Descrição de chapéu câncer

Câncer no intestino tem relação com estilo de vida do paciente

Chance de cura da doença pode ser de até 100% se for diagnosticada no início, durante exames

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São Paulo

No Brasil, 27 de março é o Dia Nacional de Combate ao Câncer de Intestino, também conhecido como câncer colorretal. O terceiro mês do ano tornou-se um importante momento de conscientização sobre a doença, que é o segundo tipo de câncer que mais atinge homens e mulheres no país.

A estimativa, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), é de cerca de 41 mil novos casos de câncer colorretal no ano de 2021. A doença abrange os tumores que acometem uma parte do intestino grosso chamada cólon e o reto, a parte final do sistema digestivo.

De acordo com Marcos Belotto, médico especialista em gastroenterologia e oncologia, a alta incidência está relacionada aos fatores de risco deste câncer, que são reflexo de uma tendência no modo de vida da sociedade.

"Os fatores, além da parte genética, são obesidade, falta de exercícios físicos, consumo exagerado de carne vermelha e embutidos e diminuição do consumo de frutas, verduras e grãos", esclarece Belotto.

Além destes, o consumo excessivo de álcool e o tabagismo também aumentam as chances de desenvolver câncer colorretal. Por isso, médicos recomendam a manutenção de um estilo de vida saudável como forma de previnir os fatores de risco evitáveis.

"O câncer colorretal é, de maneira geral, o câncer mais previnível que existe", explica Henrique Perobelli, coloproctologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. "Ele não aparece diretamente como um câncer, ele aparece geralmente como um adenoma, que é uma lesão completamente benigna e pode ser retirada por colonoscopia."

Isso significa que, em fases iniciais, o tumor pode ser retirado no próprio exame que diagnostica a lesão. "Se a colonoscopia for feita amplamente, na maioria das pessoas, você tem uma diminuição de até 56% da incidência de câncer colorretal letal", diz o coloproctologista.

Há uma mudança muito grande na cura a depender da progressão da doença. "No estágio um, em que o tumor é muito inicial, a taxa de cura pode ser de 96% a 100%. Em um estágio intermediário, o estágio dois, essa taxa já cai para 80%. No estágio três, temos uma queda para 60%. No estágio quatro, em que temos metástase, a chance de cura é menor que 15%", explica ocirurgião oncológico do Hospital A.C.Camargo, Samuel Aguiar Junior.

Alterações como sangramento e mudança no formato das fezes são sinais de alerta que devem ser investigados. Além disso, perda de peso sem causa aparente, fraqueza ou anemia, surgimento de uma massa abdominal, dores e desconfortos abdominais e alterações nos hábitos intestinais também devem ser comunicados a um médico.

Pandemia gera diagnóstico tardio de câncer colorretal

Números divulgados pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva indicam queda no número de exames diagnósticos para câncer colorretal em 2020, em comparação ao ano anterior. No Brasil, foram realizados aproximadamente 106 mil exames de colonoscopia a menos que em 2019, o que indica uma queda de 31% na realização do procedimento.

No Hospital A.C.Camargo, em São Paulo, houve uma queda de 52% nos números de novos casos de câncer colorretal entre março e julho de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019.

"É claro que não significa que, de uma hora para outra, os tumores deixaram de acontecer. O fato é que metade dos pacientes deixaram de ser diagnosticados", explica Samuel Aguiar Junior, cirurgião oncológico e autor do estudo que revelou o impacto da Covid-19 nos casos de câncer colorretal na instituição.

Outro dado analisado neste período no hospital o estágio clínico dos casos atendidos. Em 2019, os tumores colorretais em estágio avançado representavam 38,7% do total. Já em 2020, eles passaram a ser maioria: 64% dos casos eram níveis mais graves da doença.

O médico responsável pelo estudo cita dois possíveis motivos para a queda no diagnóstico: a barreira encontrada para a realização das colonoscopias, já que os serviços que fazem o procedimento fecharam; e o medo que as pessoas tinham de procurar médicos ou ir a hospitais em um momento de alto contágio e risco.

Em 2021, o cenário muda um pouco, mas continua preocupante. "Se por um lado, nessa segunda onda, as pessoas se sentem mais seguras em procurar assistência médica mesmo durante a pandemia, por outro, a gente não tem hospitais nem leitos para atendê-los", relata Aguiar Junior.

"Distanciamento social, uso de máscaras, lavar as mãos e, acima de tudo, vacinação em massa vão ter, entre outros impactos, a melhora na sobrevida de câncer. Se não controlarmos a pandemia, vamos continuar colhendo frutos amargos nos próximos cinco ou seis anos, que são os diagnósticos tardios de câncer que estão sendo feitos agora", defende o cirurgião oncologista.

Saiba mais - câncer colorretal

O que é? O câncer colorretal ou câncer de intestino abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso chamada cólon e no reto (final do intestino, imediatamente antes do ânus).

É o segundo tipo de câncer que mais atinge homens e mulheres no Brasil.

A estimativa é de cerca de 41 mil novos casos de câncer colorretal a cada ano.

Chance de cura do câncer colorretal:

  • entre 96% e 100% nos estágios iniciais

  • entre 60% e 80% nos estágios intermediários

  • menos de 15% no estágio mais avançado, onde já há metástase

Dois exames são utilizados na detecção de tumores colorretais: pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopias, sendo este último, o principal.

Com a pandemia, houve, no Brasil, uma queda de 23% no número de exames de sangue oculto nas fezes (aproximadamente 350 mil exames a menos que em 2019) e uma queda de 31% na realização de colonoscopias (106 mil procedimentos a menos).

Sinais de alerta:

  • sangue nas fezes;

  • alteração do hábito intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados);

  • dor ou desconforto abdominal;

  • fraqueza e anemia;

  • perda de peso sem causa aparente;

  • alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas);

  • surgimento de uma massa (tumoração) abdominal

Fatores de risco:

  • Alcoolismo

  • Tabagismo

  • Alimentação: dieta rica em carnes vermelhas e carnes processadas (embutidos como salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon, blanquet de peru, peito de peru e salame)

  • Sedentarismo

  • Obesidade

  • Histórico familiar de câncer colorretal ou pólipos adenomatosos: se a pessoa ou alguém da família já teve pólipos (crescimento de tecido anormal) ou câncer colorretal

  • Histórico pessoal de doença inflamatória intestinal: pessoas que apresentam doença inflamatória intestinal, como colite ulcerativa e doença de Crohn

É recomendado que a primeira colonoscopia seja realizada entre 45 e 50 anos de idade.

Pessoas com fatores de risco genéticos, como histórico familiar de câncer ou pólipos, devem consultar um médico para instruções específicas de idade para a primeira colonoscopia e intervalo entre os exames.

Fontes: Henrique Perobelli, coloproctologista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo; Marcos Belotto, médico especialista em gastroenterologia e oncologia; Samuel Aguiar Junior, cirurgião oncológico e líder do Centro de Referência em Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center; Instituto Nacional de Câncer (Inca) e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva

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