Casas de shows lutam para se manter durante a pandemia
Empresários do setor tentam encontrar formas criativas para seguir em frente em meio a incertezas
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O coronavírus acabou com o som, a luz e a alegria que agitavam a noite paulistana. De uma hora para outra, a diversão noturna foi substituída pelo silêncio e pessoas que se reuniam para celebrar ficaram órfãs das casas de show. Diante das dificuldades, empresários do setor tentam se manter na ativa com criatividade e, principalmente, esperança de dias melhores.
A Audio recebia cerca de 10 mil pessoas por semana, antes da pandemia. Sem eventos presenciais, teve que passar por uma reestruturação e buscar novos formatos. Ganhou força então a versão Studio da casa, com eventos online, como shows e apresentações corporativas usando a estrutura instalada. “A gente virou o canhão para eventos corporativos, que não pararam. As grandes empresas não param”, diz o diretor comercial Leandro Moran.
Mesmo diante de um cenário nebuloso, Moran tenta se manter otimista. “A vacinação está rolando”, diz.
A receita das casas de shows foi a zero e Marco Antônio Tobal Junior, 42 anos, sócio-diretor do Grupo São Paulo Eventos, se viu obrigado a renegociar uma série de contratos que mantinham em funcionamento as três grandes casas: Villa Country, Espaço das Américas e Expo Barra Funda, por onde passavam cerca de 20 mil pessoas por fim de semana. O quadro de funcionários também foi reduzido para menos da metade.
Imprevisibilidade
Segundo o empresário, o objetivo é voltar a caminhar, mais do que retomar o estágio pré-pandemia. “Temos que sair da estaca zero”, diz. “Essa imprevisibilidade atrapalha o planejamento das casas e dos artistas. A gente fica de mãos atadas”, conta.
Modelos como as lives não são o foco de Tobal Junior no momento. Hoje, o Villa Country funciona aos sábados e domingos, das 13h às 21h, seguindo as regras do Plano São Paulo. De positivo, segundo o empresário, foi a união do setor no momento crítico.
Templo tenta se reinventar à espera da liberação
O Templo - Bar de Fé, na Mooca (zona leste), tem 400 mil seguidores no Facebook, outros 160 mil no Instagram. Gigantescos, os números na internet são expressão do ambiente presencial da casa, que já recebeu de Zeca Pagodinho a Jorge Aragão. “É um público orgânico”, diz o empresário Murilo Oliveira.
Ele conta que vendeu um apartamento com a mulher para bancar o sonho de ter um bar que fosse exatamente como o que gostaria de frequentar, com porções fartas e música boa. Dez anos depois, em meio à pandemia, tenta não baixar a guarda. Na sexta-feira (14), recebeu o primeiro show sertanejo em meses, mas com apenas 30% da ocupação e pessoas sentadas, como determina o Plano São Paulo. “Sem aglomerar”, diz.
O empresário conta que, após a liberação total, conseguirá retomar o trabalho com a mesma energia pré-pandemia em 15 dias. Recuperar o investimento perdido ao longo desse período de crise, porém, levará um pouco mais de tempo, cerca de um ano. Nada que abale a esperança de Oliveira, que tem bancado a manutenção do bar com grana do próprio bolso. “O bar me deu tudo e estou dando de volta”, diz Oliveira.
Profissionais criam lista por cesta básica
Além dos empresários, a crise tem atingido também profissionais que dependem da noite paulistana para sobreviver. Para minimizar os danos causados pela pandemia, a Anep (Associação da Noite e do Entretenimento Paulistano) reuniu, em 15 dias, uma lista com 1.500 trabalhadores que precisam de cesta básica para se manter.
Já foram distribuídas 600 e a previsão dos organizadores é de que ao menos mais 700 sejam entregues ao longo do próximo mês.
“Uma casa de médio porte tem de 60 a 70 funcionários, mas chega a ter 200, 300, que não são fixos, como limpeza, dançarinos, DJs”, afirma Beto Lago, representante da entidade.
Lago conta que a crise atingiu em cheio a noite de São Paulo. Entre casas noturnas e de shows, ele estima que 70% fecharam as portas ou estão com pedido de falência para fechar.
“O apoio dos governos estadual e municipal é inexistente”, diz. “A gente está conversando, tentando financiamento, mas é impossível para qualquer empresário se qualificar”, afirma.
O representante da Anep explica que o entretenimento sempre foi um chamariz para a capital paulista e que merecia mais atenção neste momento. “Não tem a menor política pública na praia do paulistano, que chamo de economia criativa da noite”, afirma.
“As forças retrógradas estão aproveitando para acabar de vez com toda a área de entretenimento”, diz o empresário.
Falta de grana chega a artistas
A crise que atinge as casas de show também afeta em cheio os artistas que nelas se apresentam. Empresários do setor ouvidos pela reportagem contam que muitos cantores e suas equipes estão passando por dificuldades financeiras em meio à pandemia do coronavírus.
Segundo eles, não são raros os casos em que nomes conhecidos pedem o adiantamento da grana com a promessa de fazer apresentações no futuro pós-Covid-19.
Prefeitura e governo dizem ajudar o setor
A Prefeitura de São Paulo afirmou que vai realizar o “Festival Amparo”, em julho, de apoio a casas com vocação cultural para que produzam conteúdos a partir de seus palcos, a serem transmitidas de graça pela web. Segundo a prefeitura, em março, foi lançado o edital de apoio a casas noturnas e bares, que destina R$10 milhões para a área. A administração diz que mais de 10 editais foram lançados, totalizando R$ 100 milhões para a cultura.
O governo estadual, gestão Doria (PSDB), diz que injetou cerca de R$ 2,3 bilhões na economia —R$ 275 milhões em créditos com recursos próprios do tesouro estadual em 2021.