Descrição de chapéu Coronavírus

Risco de morte abaixo de 60 anos é maior na zona leste de SP

Dados da Secretaria Municipal da Saúde levam em consideração taxa por 100 mil habitantes

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São Paulo

Os distritos de Artur Alvim e Perdizes têm quase o mesmo número de habitantes entre pessoas abaixo dos 60 anos —na faixa em torno de 80 mil pessoas. Porém, as semelhanças entre eles param por aí. O risco de uma pessoa que ainda não está próxima de se tornar idosa morrer por Covid-19 é 4,5 vezes maior (443%) no bairro pobre da zona leste da cidade de São Paulo, em comparação com o de classe média alta da zona oeste.

A análise leva em consideração o registro mais recente de mortos pelo coronavírus, de 27 de abril, feito pela Secretaria Municipal da Saúde, por faixa etária e por distrito de residência das vítimas.

Ambulância do Samu em frente ao Pronto Socorro do Hospital Geral do Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo - Rivaldo Gomes -3.fev.21/Folhapress

Em Arthur Alvim, a taxa de mortes por 100 mil habitantes entre 0 e 59 anos é de 101,5, atrás apenas do distrito da Água Rasa (101,8), também na zona leste. Já em Perdizes, a menor no município, é de 18,7.

Entre os dez distritos com maior taxa de mortos por 100 mil habitantes na faixa etária, sete ficam na zona leste da cidade.

No lado oposto do mapa, entre os dez distritos com menor letalidade entre os que ainda não chegaram aos 60 anos, sete ficam na zona oeste —os outros três são bairros de classe média e média alta
da zona sul da cidade.

Para o médico sanitarista Jorge Kayano, pesquisador do Instituto Pólis, houve falha no controle da pandemia no Brasil, no estado e na própria cidade de São Paulo. “E quem paga a conta é a população mais pobre”, afirma o especialista.

“Moradores das regiões periféricas são obrigados a sair mais, já que muitos deles não têm como fazer trabalho remoto”, afirma.

Kayano diz que além de auxílio emergencial, o poder público deveria oferecer condições para que as pessoas infectadas conseguissem cumprir o isolamento.

“Quem mora em uma casa superlotada corre muito mais risco de infectar os parentes do que aqueles que residem em uma espaçosa. As orientações do que fazer as pessoas conhecem. O problema é como cumprir”. afirma.

O médico reforça a necessidade da manutenção das regras de restrição de circulação, e não afrouxa-las.

Além disso, critica o fato de não ser feita a testagem em massa da população, busca ativa de casos do novo coronavírus e acompanhamento do isolamento dos infectados pela doença.

Médica diz que é preciso fazer rastreamento

Diretora de comunicação da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade, a médica Denize Ornelas afirma que a mensagem de que a Covid atingirá a todos de forma igual não é real.

“A gente tinha clareza antes do agravamento da Covid de que todos aqueles que já enfrentavam dificuldades em cuidar da sua saúde, de ter acesso a exames, acesso a médicos, de um acompanhamento regular e necessidade de uso de medicação seriam as pessoas mais afetadas”, afirma.

Uma das estratégias sugeridas pela médica para minimizar os impactos do coronavírus, sobretudo nas regiões mais carentes, é fazer o rastreamento prévio de todos os pacientes dos grupos de risco atendidos pelas equipes de saúde da família das UBSs (Unidades Básicas de Saúde).

“Ficar doente em Perdizes pode significar que se você adoecer e for hospitalizado, pode vir a encontrar um lugar onde tenha acesso às boas equipes”, afirma.

“Já quem mora em regiões mais pobres, dependendo da situação econômica, geralmente procura um pronto-atendimento. Em um primeiro momento até vai ser atendido, mas muitas vezes é mandado de volta para casa, retorna se estiver grave e, a partir dai, e dependendo do agravamento do caso, vai ficar numa fila de espera por uma vaga em UTI”, diz.

Estado diz que faz monitoramento

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde afirma que o governo de São Paulo tem norteado as suas ações de enfrentamento à Covid-19 com monitoramento contínuo e diário, que permite a intensificação de medidas restritivas, no caso de o Centro de Contingência do Coronavírus, formado por colegiado de especialistas, identificar alguma necessidade.

“Permite ainda que os gestores municipais adotem estratégia conforme e a realidade local, assim como fez Araraquara [que implantou lockdown]. O papel do Estado é nortear as medidas amplas, orientar e auxiliar os gestores regionais, como tem ocorrido.”

Ainda segundo a secretaria, cabe aos municípios realizar o monitoramento e rastreamento de contatos infectados. A pasta também descarta haver um “abre e fecha” baseado apenas na ocupação de leitos de UTI.

A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo diz realiza "diversas ações" para combater o coronavírus. "As ações de vigilância e assistência foram estruturadas, com capacitação dos profissionais de Saúde inseridos nas redes de atenção à Saúde, com enfoque na Atenção Básica, para o reconhecimento precoce de casos, bem como a orientação em relação ao seu manejo clínico", diz a pasta.

"Até 10 de maio, foram monitorados 1.584.709 pacientes pelas equipes das UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da cidade de São Paulo entre pessoas com sintomas leves e moderados diagnosticadas. Até 2 de maio, foram realizados 2.851.518 testes. A Prefeitura também iniciou Inquérito Sorológico, com 136.011 pessoas testadas na primeira fase, 332.834 na segunda e 245.297 na terceira", acrescenta a secretaria.

Ainda de acordo com a pasta, mais de 11 mil profissionais foram contratados para atuarem nas unidades de saúde da capital.

Veja os números

Locais com mais mortes

Posição Distrito Região Mortes por
100 mil
habitantes
Água Rasa Leste 101,8
Artur Alvim Leste 101,5
Pari Central 99,9
Vila Formosa Leste 94,0
Vila Medeiros Norte 93,7
Aricanduva Leste 92,7
Parque do Carmo Leste 89,9
São Lucas Leste 89,8
Freguesia do Ó Norte 89,0
10ª Jardim Helena Leste 87,3

Distritos com menos mortes

Posição Distrito Região Mortes por
100 mil
habitantes
87ª Jardim Paulista Oeste 33,3
88ª Morumbi Oeste 32,7
89ª Vila Leopoldina Oeste 32,0
90ª Barra Funda Oeste 30,8
91ª Saúde Sul 29,0
92ª Alto de Pinheiros Oeste 27,8
93ª Itaim Bibi Oeste 27,4
94ª Campo Belo Sul 21,0
95ª Moema Sul 19,7
96ª Perdizes Oeste 18,7


(Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo)

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