Justiça Militar decreta prisão de PMs suspeitos de matar duas pessoas na zona sul de SP
Ouvidor da Polícia diz que imagens apontam para 'uma possível execução' em caso da última semana na zona sul da capital
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A Justiça Militar decretou a prisão preventiva dos dois policiais suspeitos da morte de dois jovens que teriam participado de um roubo na região de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, na quarta-feira (9). Um vídeo mostra os PMS atirando no carro onde estavam os jovens, após o veículo bater em um poste. A Ouvidoria da Polícia diz que as imagens apontam para "uma possível execução".
A reportagem não encontrou a defesa dos dois policiais militares e não havia a confirmação de que eles haviam sido presos até a publicação desta reportagem.
Um vídeo que está sendo analisado pela polícia mostra os militares disparando contra os suspeitos, que estão dentro de um carro acidentado e com as portas abertas. Dois jovens sem antecedentes criminais, de 19 e 23 anos, morreram no local. A Polícia Militar instaurou um inquérito e afastou das ruas dois PMs.
A PM afirmou, em nota, que os dois homens mortos haviam participado de um roubo e fugido em um Chevrolet Onix pelas ruas do bairro. Na fuga, de acordo com a corporação, eles cruzaram um semáforo vermelho, bateram em um Honda Fit e depois em um poste de sinalização no cruzamento da rua Rubens Gomes Bueno com a rua Castro Verde. Uma mulher ficou ferida.
Na delegacia, os policiais disseram que um dos suspeitos desembarcou do carro com uma arma na cintura e não obedeceu a ordem de largá-la. Os PMs, ainda segundo a polícia, afirmaram que, diante da “iminente agressão”, atiraram contra os dois e o jovem armado caiu baleado no banco do motorista.
Um dos policiais disse ainda que abriu a porta traseira do veículo e viu o outro suspeito com um revólver na mão. Segundo ele, o jovem efetuou um disparo, mas a arma falhou. Ele disse que, “diante da injusta agressão”, revidou e o baleou.
No entanto, o vídeo que circula nas redes sociais não mostra os suspeitos reagindo à abordagem policial nem os PMs em posição de proteção diante de qualquer tiro ou agressão. A perícia encontrou 27 perfurações de tiros no corpo de um dos jovens e 23 no outro.
A Polícia Militar afirmou que as imagens da ação dos militares foram anexadas ao inquérito policial. As investigações são feitas pela Corregedoria da PM e pelo DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil.
“A Polícia Militar não compactua com desvios de comportamento e se mantém diligente em relação às denúncias ou indícios de transgressões ou crimes cometidos por seus agentes”, disse a corporação, em nota, afirmando que eles já haviam sido afastados das ruas.
O ouvidor da Polícia, Elizeu Soares, afirmou que tudo precisa ser apurado com rigor, com o devido direito de defesa, sem prejulgamentos. No entanto, ele afirma que as imagens divulgadas apontam para “uma possível execução”.
“Estou cobrando continuamente o governo do estado para que acelere o processo de instalação de câmeras nos uniformes dos policiais [parte da corporação já usa]. Essa medida vai proteger a população e também os bons policiais".
Soares falou que pediu à Corregedoria da Polícia Militar que investigue o caso e que o faça com agilidade e rigor. Ele também pediu o afastamento imediato dos policiais envolvidos até pelo menos o fim das investigações.
“Respeito aos direitos humanos também é uma responsabilidade da polícia, e nada justifica execuções. É preciso acabar com a violência em todas as suas formas”, enfatizou.
O advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos e segurança pública pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e membro do Grupo Tortura Nunca Mais, afirmou que, pelas imagens, aparentemente os PMs não estão agindo como se estivessem numa situação de confronto.
Castro disse que possivelmente as vítimas estavam rendidas, desarmadas ou até desacordadas. “Em nenhum momento eles [policiais] estão se protegendo de disparos. O que podemos ver são eles efetuando disparos quando estavam em posições de ataque e não de defesa", diz Castro.