Levantamento confirma queda de atendimento não Covid em hospitais públicos de SP

Diárias de UTI avançaram 18,6% na esteira da abertura de leitos para tratamento de contaminados pelo novo coronavírus, segundo TCE

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São Paulo

Um levantamento feito pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), com base em dados de hospitais públicos estaduais e municipais do estado de São Paulo, confirma queda de atendimentos a pacientes não relacionados à Covid-19.

Segundo o relatório, que compara dados de janeiro a dezembro de 2020, com o mesmo período de 2019, procedimentos como transplantes de órgãos e de tecidos apresentaram queda de 18%. Já os cirúrgicos ambulatoriais tiveram retração de 29% no período. Os diagnósticos tiveram queda de 14%. A quantidade de consultas e exames registrou redução de 18%.

Hospital de Campanha do Ibirapuera, aberto no ano passado pelo governo do estado para tratamento de pacientes com o novo coronavírus - Ronny Santos 9.jun.20/Folhapress

Por outro lado, a quantidade de mortes avançou 17% no período, bem como as diárias de UTI. Em 2019, elas somaram 846,7 mil, número que passou para 1,04 milhão em 2020, num avanço de 18,6% no período. A quantidade de médicos trabalhando passou de 59.390 em 2019 para 64.236 no ano passado (8% a mais).

Em nota, o TCE disse que o aumento das internações de UTI está relacionado com o crescimento de casos graves de Covid-19 e a diminuição de atendimentos de baixa ou média complexidade decorrem das medidas que a secretarias de Saúde (municipais e Estadual) adotaram em suspender ou diminuir cirurgias eletivas, tudo em razão da escalada de aumento dos casos do novo coronavírus e seu agravamento.

A análise dos dados abertos foi feita por Wallace Casaca, coordenador da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, ferramenta criada por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista) com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) para acompanhar a evolução da pandemia no estado.

“O que dá para ser observado a partir dos dados é o quanto as pessoas deixaram de procurar atendimento nesse período, o que pode ter influenciado as mortes não Covid”, afirma Casaca.

No período foram abertos 73 hospitais, sendo 19 deles de campanha, abertos especificamente para atender pacientes de Covid.

Os dados do TCE mostram que em 2020 o total de hospitais públicos estaduais ou municipais em operação era de 272 ante aos 199 de 2019, numa alta de 36%.

Do total, 62,87% dos hospitais (171) são de gestão municipal, e 101, sob responsabilidade do estado (37,13%)

Os leitos disponíveis passaram de 31.923 para 38.307. Desse total, 3.649 foram abertos nos novos hospitais, e 2.735 como resultado da rede já existente.

“Essa estratégia de aumento de leitos é necessária, mas não acaba com a pandemia. É claro que, por outro lado, é uma boa notícia. Significa dizer que, passada a doença, nós teremos mais estrutura hospitalar, mais estrutura de saúde para a população”, afirma o epidemiologista Pedro Hallal, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil.

Um outro dado tabulado por Wallace Casaca que chama a atenção é a taxa de mortalidade média desses hospitais. Em 2019, ela era de 5, número que subiu para 7 em 2020. Se analisados apenas os hospitais de campanha, essa taxa sobe e vai para 9.

​Segundo o relatório, vários dos hospitais estaduais apresentaram alta na taxa de mortalidade. Entre eles estão o Hospital Regional de Osasco (Grande SP), que passou da taxa de 10,54 em 2019 para 15,99 em 2020; além das unidades da capital Emílio Ribas, que passou de 8,97 para 17,63; Pedreira, que foi de 4,78 para 6,81; São Mateus, de 5,69 para 8,13; Vila Alpina, de 3,89 a 5,71; e Regional Sul, onde a taxa quase triplicou, indo de 2,29 para 6,53.

O Hospital Estadual Metropolitano Santa Cecília é um dos 13 erguidos pelo governo estadual para fazer frente à pandemia desde o ano passado - Governo do Estado de São Paulo

Resposta

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde, gestão João Doria (PSDB), disse que em 2020 ativou três novos hospitais: Regional do Litoral Norte, em Caraguatatuba, que atende também outras patologias; além dos hospitais de campanha de Bebedouro e do prédio da USP de Bauru, ambos no interior.

A pasta informou ativado ainda o hospital de campanha do Ibirapuera, além de ter convertido o AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Heliópolis para esta finalidade.

Neste ano, segundo a pasta, o número de unidades foi expandido, e agora existem 13 em operação. Além dos já citados, foram criados os hospitais de campanha no Hospital da Zona Norte, Hospital Metropolitano Santa Cecília, no centro da capital, e nos AMEs (ambulatórios médicos de especialidades) de Barretos, Campinas, Andradina, Itapeva, Botucatu, Sorocaba e em Santo André.

Somadas as estruturas pré-existentes e as novas, o número de leitos passou de 3,5 mil para 10 mil.

Sobre balanços de atendimentos, a secretaria disse que tem feito análises individualizadas para avaliar e reprogramar consultas e procedimentos não urgentes, sempre levando em consideração a orientação médica e o quadro de saúde do paciente.

Em relação às altas de taxa de mortalidade registradas nos hospitais de Osasco, Emílio Ribas, Pedreira, São Mateus, Vila Alpina e Regional Sul, o governo estadual informou que eles são referências e atendem casos de alta e média complexidade, incluindo de Covid-19. “A ocorrência de óbitos está relacionada à extrema gravidade dos pacientes que chegam aos serviços, apesar dos esforços das equipes das unidades para assistir cada caso”, afirma.

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