Médica receita remédios sem eficácia comprovada para paciente com suspeita de Covid
Hidroxicloroquina e ivermectina estão entre eles; prefeitura de Santos diz que protocolo não prevê uso das substâncias
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Com sintomas de febre, dor de garganta e coriza, a bióloga A.Z., de 25 anos, saiu da UPA Zona Leste de Santos, no último sábado (19), com uma receita do chamado kit Covid para tratamento precoce. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), não há evidência científica de que os medicamentos do kit sejam eficazes e seguros no tratamento da Covid-19.
“Eu estava com febre durante a semana, dor de garganta e um pouco de coriza. Fui até a UPA de Santos e lá havia um atendimento específico para quem apresenta sintomas gripais. Relatei os sintomas, disse que tinha tomado a primeira dose da vacina há 15 dias e que tinha a intenção de tomar um antibiótico ou uma injeção, se fosse possível”, disse a bióloga, que preferiu ter seu nome preservado por temer represálias.
A médica, então, receitou ivermectina, hidroxicloroquina, vitamina D e azitromicina. “Quando vi a receita, me assustei e reforcei que estava com dor de garganta, mas ela disse que trabalhava com tratamento precoce e que ali também tinha um antibiótico. Como eu sei que é o remédio indicado para tratar esses sintomas respiratórios, não falei mais nada, peguei a receita e fui comprar o antibiótico.”
A companheira de A.Z, que é professora da rede estadual, também foi atendida na UPA com os mesmos sintomas e recebeu a indicação dos mesmos remédios no atendimento da médica. As duas fizeram o teste para coronavírus, mas o resultado só deverá sair em 10 dias.
A bióloga afirmou já sentir-se melhor dos sintomas após tomar dois dias de antibiótico, mas diz ter ficado assustada com a receita médica. “Essa situação me deixou bastante perplexa porque eu estava com dor de garganta, saí da minha casa com o intuito de consultar um médico e tomar talvez uma injeção, um antibiótico, e voltei com uma receita de remédio para malária e para piolho. Fico bastante preocupada, será que isso é uma conduta geral dos atendimentos públicos em Santos? E se eu fosse uma pessoa que tivesse um pouco menos de conhecimento sobre o assunto e tomasse essas coisas?”, questionou ela, que é moradora de São Vicente, mas sempre procura a cidade vizinha para receber atendimento médico.
A Pró Saúde, organização social que administra a UPA Zona Leste, em Santos, e a Prefeitura informaram, por meio de nota, que embora existam protocolos de assistência, a prescrição de medicamentos para uso domiciliar é de prerrogativa e responsabilidade do profissional médico a partir da avaliação dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente.
“A Pró-Saúde complementa que os protocolos assistenciais da unidade não prevêem a prescrição de medicamentos como os citados pela reportagem, para tratamento de casos suspeitos ou confirmados para Covid-19. A assistência prestada é pautada em evidências científicas e com eficácia comprovada. De sua parte, a Prefeitura de Santos esclarece que possui uma diretriz voltada ao manejo da Covid-19, publicada no Diário Oficial do Município em 11 de fevereiro de 2021, que não prevê o uso das medicações mencionadas”, diz a nota.
A médica não foi encontrada pela reportagem para comentar o assunto.