Paulo José e Tarcísio Meira, dois dos principais atores do Brasil, morreram aos 84 e 85 anos, nos dias 11 e 12, respectivamente, em uma semana de luto para o país. No cinema, deixaram um grande legado. Por mais de quatro décadas, Paulo José esteve nas telonas, confundindo sua história com a da cinematografia brasileira.

A carreira de Tarcísio no cinema, mais concentrada entre os anos 1960 e 1980, não foi tão extensa, mas nem por isso menos rica. Estreou com Mazzaropi, fez uma adaptação de Nelson Rodrigues (‘O Beijo no Asfalto’) e trabalhou com Glauber Rocha, entre outros exemplos de sua versatilidade.

A coluna faz um pequeno recorte da produção de ambos, a partir de comentários dos próprios atores sobre o fazer cinema e a arte de atuar. As fontes são entrevistas, vídeos e, no caso de Paulo José, o depoimento dele a Tania Carvalho, no livro “Memórias Substantivas”, da coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado.

Confira abaixo os filmes dos atores disponíveis nos serviços de streaming, para recordarmos desses dois imensos talentos (os preços e a disponibilidade foram pesquisados em 19 de agosto).

PAULO JOSÉ

SÃO PAULO SOCIEDADE ANÔNIMA (1965)
Globoplay e Looke: grátis para assinantes

TODAS AS MULHERES DO MUNDO (1966)
Globoplay: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

O PADRE E A MOÇA (1966)
Globoplay: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

MACUNAÍMA (1969)
Telecine, Claro Vídeo e Globoplay: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

CASSY JONES, O MAGNÍFICO SEDUTOR (1972)
Looke: grátis para assinantes
NOW: grátis para assinantes do Looke e R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

O REI DA NOITE (1975)
Globoplay e Belas Artes à La Carte: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

ELES NÃO USAM BLACK TIE (1981)
Looke, Telecine e Globoplay: grátis para assinantes

O HOMEM DO PAU BRASIL (1982)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)

O MENTIROSO (1985)
Prime Video: grátis para assinantes
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

ILHA DAS FLORES (1989)
Telecine e Globoplay: grátis para assinantes

DIAS MELHORES VIRÃO (1989)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

O MENINO MALUQUINHO (1995)
Globoplay: grátis para assinantes

ANAHY DE LAS MISSIONES (1997)
Prime Video: grátis para assinantes

POLICARPO QUARESMA, O HERÓI DO BRASIL (1998)
Belas Artes à La Carte: grátis para assinantes

O HOMEM QUE COPIAVA (2003)
Globoplay: grátis para assinantes

BENJAMIN (2004)
Prime Video e Globoplay: grátis para assinantes

SANEAMENTO BÁSICO, O FILME (2007)
Globoplay: grátis para assinantes

PEQUENAS HISTÓRIAS (2007)
Looke: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

JUVENTUDE (2008)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

INSOLAÇÃO (2010)
Looke: grátis para assinantes

O PALHAÇO (2011)
Telecine: grátis para assinantes
NOW: grátis para assinantes do Canal Brasil
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

MEU PAÍS (2011)
Apple TV: R$ 9,90 (aluguel)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)

'Macunaíma', raro, novo e original

Paulo José não era a primeira opção do diretor Joaquim Pedro de Andrade para dividir com Grande Otelo o personagem título da adaptação da obra de Mário de Andrade. No livro da coleção Aplauso, Paulo conta que acompanhou a escolha do elenco.

Segundo ele, Andrade tinha dificuldade em encontrar seu Macunaíma branco. O ator não dizia, mas queria muito fazer o filme. Até que Andrade, após vários insucessos, disse que Paulo seria o escolhido se operasse o nariz, que não era, segundo o diretor, “cinematográfico”.

"Saí meio chateado, porque não queria operar o nariz, mas no dia seguinte ele tinha mudado de opinião”, conta Paulo, no livro. “Era tudo o que eu podia querer. Sabia que Macunaíma seria uma coisa rara, nova, original.”

Paulo José se recorda da filmagem. “‘Macunaíma’ é um filme sobre magia, mas sem nenhum efeito especial. O único é a transformação do Macunaíma preto em branco. O Grande Otelo se senta na floresta para fumar um baseado, e se transforma sob o efeito da maconha e eu apareço de Macunaíma branco. Deram um stop na câmera, o Otelo saiu e entrei, o efeito elementar do cinema. Os Lumière e Mèliés já usavam.”

'Todas as Mulheres', uma obra definitiva

Na entrevista à coleção Aplauso, Paulo José diz que ‘Todas as Mulheres do Mundo’ (1966), de Domingos de Oliveira, foi uma obra definitiva para sua carreira.

"Junto com ‘O Padre e a Moça’, serviu para me mostrar o melhor caminho a seguir como ator de cinema. Os dois exigiam simplicidade e rigor, liberdade e disciplina, ordem e delírio. Descobri que a atuação no cinema não é uma representação no sentido teatral. No cinema é uma vivência”, afirma.

O ator lembra que, como em outros filmes dos anos 1960, em ‘Todas as Mulheres’ não havia produção de figurino e cenário e direção de arte no longa.

"Era tudo feito de forma meio caseira. As roupas eram dos próprios atores, cada um levava as suas. Os cenários eram as casas das pessoas. Os filmes dos anos 60 têm assim uma qualidade, além das próprias, a de ser excelentes documentários de uma época”, diz, na publicação.

Um personagem na brincadeira

“Todo mundo deveria ser palhaço, ter o direito a fazer besteira de criança. Não precisei fazer composição [do personagem] a sério, mas brincando”, assim Paulo José resumiu sua participação no filme ‘O Palhaço’ (2011), dirigido por Selton Mello, com quem contracena.

A declaração foi dada em encontro promovido pela Mostra Internacional de Cinema em 2011. No longa, eles são pai e filho circenses. O personagem de Mello está em crise, não sabe se é realmente engraçado.

"Foi uma experiência maravilhosa trabalhar e ser dirigido por ele [Mello]”, disse o ator em entrevista na época da estreia do filme. “A vida me preparou para esse papel. Sou um palhaço na vida real, sempre fui palhaço”, afirmou. O trabalho foi um dos últimos de Paulo José no cinema.

TARCÍSIO MEIRA

CASINHA PEQUENINA (1963)
Looke: grátis para assinantes
NetMovies: grátis
NOW: grátis para assinantes e grátis para assinantes do Looke
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)
Americanas.com.br: DVD por R$ 28

​QUELÉ DO PAJEÚ (1970)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

REPÚBLICA DOS ASSASSINOS (1979)
NOW: grátis para assinantes do Canal Brasil
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

A IDADE DA TERRA (1980)
Itaú Cultural Play: grátis
NOW: grátis para assinantes do Canal Brasil
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

EU TE AMO (1981)
NOW: R$ 6,90 (aluguel)
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

O BEIJO NO ASFALTO (1981)
Looke e Google Play: grátis para assinantes
NOW: R$ 6,90 (aluguel) e grátis para assinantes do Looke

NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO (2011)
Telecine e Globoplay: grátis para assinantes
Vivo Play: R$ 6,90 (aluguel)

A estreia no cinema, em um filme de Mazzaropi

Tarcísio Meira estreou no cinema em um filme de Mazzaropi, ‘Casinha Pequenina’ (1963), considerada uma das principais obras do caipira. Na trama, que se passa no período da escravidão, Tarcísio é filho do colono Chico (Mazzaropi), e a família se vê envolvida em uma maquinação de um rico fazendeiro.

Anos depois, a vida no campo se tornaria rotina para o Tarcísio, que tinha uma fazenda há mais de 40 anos. Ele e a mulher, Gloria Menezes, ficaram isolados na propriedade durante a pandemia.

Em entrevista a Amaury Jr., Tarcisio falou sobre a importância do campo em sua vida. “A terra, o campo, as pessoas do campo, me dão equilíbrio. A televisão é um trabalho muito estressante, muito neurotizante. Não é fácil pretender ser outra pessoa. Você se exaure muito, porque empresta muito de si para o personagem”, disse.

'A Idade da Terra', a parceria com o 'talentoso' Glauber Rocha

“Glauber [Rocha] tinha um carinho muito grande pelos atores. Ele era uma pessoa muito importante. Não era só muito talentoso, como muito convincente”, afirmou Tarcísio Meira ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 2015, sobre o diretor com quem trabalhou em ‘A Idade da Terra’ (1980).

Tão conhecido como galãs de novelas, Tarcísio ousou muitas vezes, e uma delas foi a parceria com Glauber, em um filme não-linear, em que vários personagens assumem a figura de Jesus Cristo. O longa foi o último do cineasta, um dos principais nomes do Cinema Novo, que morreu aos 1981 aos 42 anos. “Ele é uma pessoa que faz falta no Brasil, muita falta”, disse o ator.

'Quelé' e a ligação com o campo

Em sua filmografia, Tarcísio Meira também possui um longa dirigido por Anselmo Duarte, ‘Quelé do Pajeú’ (1969). Na trama, que tem ecos de faroeste, o ator interpreta um homem que busca vingança contra o estuprador de sua irmã.

Em entrevista ao Roda Viva, em 2015, Tarcísio se recordou das exibições do longa. “O filme com Anselmo Duarte foi o primeiro em tela gigante no Brasil”, disse. O longa foi rodado no interior paulista, na região de Salto e Itu, que a produção simulou ser o Nordeste, onde se passava o filme.

Tarcísio contou ao “Globo Rural” que ficou em um sítio perto de Itu durante as filmagens. “Gostei muito, foi uma experiência muito boa”, disse. Decidiu, então, comprar um lugar “para passar umas horas com os amigos”, que se tornou sua fazenda em Porto Feliz.​​