Voltaire de Souza: É pagão, mas não é burro
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Festas. Eventos. Saudades.
A Covid dificulta muito as reuniões familiares.
Mas, aos poucos, vem a liberação.
Cidinha estava aliviada.
—Finalmente vamos poder batizar o Diney.
A pequena criatura tinha nascido em 2019.
—Até agora é pagãozinho.
O padre Pelozzi insistia.
—Ma fa il batizzato de qualquera maniera.
Cidinha não concordava.
—Tem de chamar a família toda.
Doces. Parentes. Salgadinhos.
—Trabalheira, meu Deus.
O menino já tinha compreensão das coisas.
—A vovó vem?
Tristeza. Dona Augusta tinha morrido em fevereiro.
—Nunca quis se vacinar.
Padre Pelozzi insistia.
—Os convidatto. Só con quello atestatto di vatchina.
—Pode deixar, padre.
O menino foi conduzido com carinho à pia batismal.
São Sebastião abençoava a cena.
—Por que deram tanta vacina nele?
—Cala la bocca, bambino.
Diney começou a chorar.
—Eu quero. Eu quero vacina também.
Cidinha pegou um grampo do cabelo para enganar o petiz.
—Não, mamãe. Essa não é da Pfizer.
Pelozzi deu um puxão de orelha na criança prodígio.
—Em batizzato, criança só chora. Non pode fare molta exigentzia.
Religiões, mais tarde, se escolhem.
Vacinas, não.