Voltaire de Souza: Já vendi minha viola
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Ingenuidade. Burrice. Arrependimento.
Às vezes, as pessoas falam mais do que deveriam.
Carlão era um bem-sucedido cantor sertanejo.
—Passa o boi, passa a boiada…
Ele tinha muitos amigos no agronegócio.
—Passa o fogo, começa a queimada…
Os acordes da antiga viola embalavam os versos do cantor.
—Bolsonaro, terror da bicharada…
Ao longe, o céu se tingia de vermelho.
—Passa fogo na bugrada…
Tocou o celular. O empresário agrícola Tonho Capeta era um interlocutor confiável.
—Vamos fechar o STF, Carlão.
—Maravilha, Tonho. Mas só fechar?
—Como assim, Carlão?
—Essa gente tem de levar chumbo, rapaz.
Veio a má notícia.
A conversa apareceu nas redes sociais.
Críticas. Processos. Acusações.
—Espera, minha gente. Sou pelo amor e pela ecologia.
Não adiantava.
—Nem o Tonho Capeta quer saber mais de mim…
Lágrimas rolavam pelas faces de Carlão.
—Melhor vender minha viola.
Ele já se prepara para um novo rumo artístico.
Guitarra. Piercing. Tênis rasgado.
—Virei o MC Charles. A voz da perifa.
O boi berra na distância.
Mas, por vezes, o bolso fala mais alto.