Ódio. Polêmica. Provocação.
Alguns cantores sertanejos põem a boca no trombone.
—Abaixo o STF.
—Ditadura militar já.
Ediválio acendeu o cigarrinho de palha.
—Muito preconceito contra a gente.
Ele se balançava na rede.
—Gosto de boi. Gosto de pasto. Isso é crime agora?
Ele fazia parte de uma conhecida dupla sertaneja.
Motosserra e Machadinha.
—Sou o Motosserra.
O irmão dele se chamava Edilan.
—Sou o Machadinha.
—A gente nunca se meteu em política.
—Agora, tem uma coisa…
—Se mexerem na fazenda da gente…
—Aí tem bala.
Ediválio se lembrava.
—Música a gente já fez para tudo quanto é candidato.
—Até candidato comunista.
—O Bolsonaro, por exemplo.
—Comunista disfarçado.
Ambos viram a fumaça ao longe.
—É aquele mato que a gente mandou queimar?
—Não… fumaça pouca, essa aí.
Era poeira na estrada.
Uma viatura da PF se aproximava.
Ordem de prisão.
Ediválio se levantou.
—Posso buscar a sanfona no quarto?
Ele voltou com a submetralhadora.
O policial Matoso achou melhor pedir só um cafezinho.
A música sertaneja é romântica e melodiosa.
Por vezes, entretanto, entra em clima de metal pesado.
Voltaire de Souza
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