Júri de PM suspeito pela morte de jovem na zona sul de SP começa na quarta (13)

Guilherme Guedes tinha 15 anos quando foi levado da porta de casa, na Vila Clara, segundo a polícia

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São Paulo

O julgamento do sargento da Polícia Militar Adriano Fernandes de Campos, 43 anos, suspeito pelo sequestro e morte do adolescente Guilherme Silva Guedes, 15, em junho do ano passado, na zona sul de São Paulo, está marcado para começar na próxima quarta-feira (13). O PM nega participação no crime.

De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, o júri será presencial, mas "devido à pandemia, o acesso será restrito às pessoas que participarão da sessão, como juiz, promotor, testemunhas, jurados e alguns servidores".

Campos está detido no Presídio Militar Romão Gomes, na Vila Albertina (zona norte da capital paulista) desde o dia 18 de junho, quatro dias após Guilherme ser levado da frente da casa da avó, na Vila Clara e ter seu corpo encontrado no cruzamento da avenida Alda com a travessa da Saúde, no bairro Eldorado, no limite entre São Paulo e Diadema.

Guilherme Silva Guedes, 15 anos, foi encontrado morto, após ser abordado por dois homens armados na zona sul de SP, na madrugada de 14 de junho do ano passado - Arquivo pessoal

Para a investigação, imagens captadas do ponto onde Guedes estava, indicam a presença de Campos, que à época estava lotado no 6° Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).

Aos prantos, a mãe de Guedes, Joice Silva Santos, 33 anos, disse ao Agora que espera pela condenação. "É uma angústia, ansiedade e principalmente uma tristeza que não tem fim, a final vou ficar de frente um monstro que arrancou um pedaço de mim, que tirou um dos bens mais preciosos da minha vida. Ele só não tirou a vida do meu filho e sim tirou a minha também". A mulher afirmou que, hoje, vive para cuidar de seus outros três filhos.

Já o advogado criminalista Mauro Ribas, que defende o sargento, afirmou que "vai apresentar provas de que Campos não cometeu o crime e que ele é inocente das acusações que estão sendo feitas".

"O tribunal do Júri é a maior expressão da nossa democracia. Tanto que ele tem a sua decisão protegida pela Constituição Federal. A defesa vai apresentar provas de que Adriano não cometeu esse crime. Ele é inocente das acusações que estão sendo feitas, e nós confiamos sempre na decisão tomada pelos jurados", afirmou o defensor à reportagem nesta sexta-feira (8).

A morte do garoto provocou dois dias de protestos em Americanópolis, com ônibus queimados e vandalizados. Um comércio foi furtado.

Vídeos com imagens de policiais militares agredindo moradores da Vila Clara, que fica na mesma região, foram divulgados em redes sociais. Segundo pessoas que moram no bairro, as imagens foram gravadas na noite de segunda-feira, após a primeira onda de protestos.

Segundo as investigações tocadas pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que deram base à denúncia do Ministério Público contra o policial, na noite de 13 de junho alguns garotos do bairro onde Guedes residia invadiram um canteiro de obras na rua Álvaro Fagundes, espaço em que a segurança estava sob responsabilidade da Campos Forte Portarias, empresa da qual o sargento seria um dos sócios.

Assim que tomou conhecimento sobre a invasão, de acordo com a denúncia, o sargento teria, juntamente ao ex-PM Gilberto Eric Rodrigues, que atuava como vigilante, iniciado busca a pé nas ruas no entorno do galpão para encontrar os garotos que haviam invadido o local. Ao chegarem à rua Rolando Curti, abordaram Guedes, que havia deixado a casa onde morava com a avó há pouco tempo e nada tinha a ver com a invasão.

Ainda segundo a denúncia do MP, "com emprego de ameaça por armas de fogo, subjugaram Guedes e o levaram até a travessa da Saúde, no referido veículo [em nome do filho de Campos], local onde o executaram com dois tiros".

Para o promotor Neudival Mascarenhas Filho, "o crime foi cometido por motivo torpe, pois agiram os denunciados para se vingar dos invasores, sequestrando e matando o primeiro garoto que viram pela frente, para que servisse de exemplo".

Em seu despacho, Filho ainda ressaltou que o crime foi cometido com emprego de meio cruel, uma vez que os indiciados agiram com extrema violência, torturando Guedes com um tiro na boca, atingindo-o no lábio, o que lhe causou sofrimento exacerbado, até o crime ser consumado com o disparo na cabeça.

O promotor ainda sustentou que a dupla agiu como "milícia privada", agindo sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, com intuito de impor, pelo medo, pelo terror, o domínio daquela comunidade próxima ao canteiro de obras.

A dupla denunciada pelo Ministério Público possui um histórico recheado de casos. Segundo o assentamento na corporação, Campos esteve presente em diversas ocorrências com resultado óbitos desde o início dos anos 2000. Rodrigues foi demitido da PM após ser acusado da morte de sete pessoas em uma chacina no Jardim Rosana, em 2013.

Ele também é apontado como o autor da morte de um jovem cego, no mesmo bairro, 24 horas antes da chacina. Preso pelos crimes, Rodrigues fugiu do presídio Romão Gomes em 2015, sendo localizado em em maio deste ano em Peruíbe (141 km de SP).

Como Rodrigues estava foragido, o processo pela morte de Guedes foi desmembrado. Com isso, Rodrigues ainda deve passar por uma audiência de instrução antes da decisão se vai ou não para júri popular.

Ao menos cinco ônibus foram incendiados em junho de 2020 na Vila Clara, zona sul de São Paulo; moradores atearam fogo nos veículos em protesto contra a morte de um adolescente que teria desaparecido após uma intervenção de policiais militares - Reprodução

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