Voltaire de Souza: Silêncio na mata
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Crise. Desequilíbrio. Colapso.
A natureza pede socorro.
É o aquecimento global.
Chega mais uma notícia preocupante.
Os animais estão diminuindo de tamanho.
Pesquisadores confirmam.
Pássaros antigos tinham maior volume.
Era triste o sorriso de Terezinha.
—Com certeza.
Ela olhava para o marido.
—Não é, Josias?
O ancião dobrou o jornal.
—Falou comigo?
—Não viu a notícia?
—Qual?
—Os ursos polares. Os passarinhos.
—Que é que tem?
Terezinha se armou de paciência.
—Vou ter de explicar tudo de novo?
Ela recorreu ao gestual.
—Eram deste tamanho. Assim, ó.
Uma pausa.
—E agora…
Dois dedinhos se juntavam.
—Desse tamaninho.
Josias se levantou da poltrona com irritação.
—Não admito. Não admito.
A consciência ecológica dele era fraca.
Ele levou a coisa para o lado pessoal.
—Quer saber?
A resposta veio com requintes de crueldade.
—Você, Terezinha. É a exceção desse fenômeno.
—Como assim?
—Aumenta de tamanho sem parar. Dez quilos por ano.
O casal já não se fala há cinco dias.
Tucanos. Papagaios. Periquitos.
Pássaros da floresta ainda fazem barulho.
Mas o futuro, infelizmente, é feito de silêncio.