O papa e os gays

Desde quando assumiu a liderança dos católicos, em 2013, o papa Francisco vem se notabilizando por introduzir pontos de vista mais avançados em temas que são tabus para a igreja, como o aborto ou o divórcio.

Esse é o caso da recente defesa da união homoafetiva. Mostrando-se muito mais aberto e afinado com a modernidade que seus antecessores, o pontífice declarou, num documentário lançado há pouco, que "pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família" e defendeu uma legislação de união civil.

As manifestações, as mais incisivas já feitas por um papa, podem influenciar os debates sobre a questão legal de casais do mesmo sexo ao redor do mundo, além de conter a oposição de bispos e outras lideranças a essas mudanças.

Não é algo a ser desprezado. Apenas 28 nações permitem a união homoafetiva, quase todas nas Américas, incluindo o Brasil, e na Europa. Relações homossexuais são criminalizadas em 70 países, e em 6 deles a punição é a pena de morte.

Apesar de bem-vindas, as palavras do papa não mudam a doutrina. Os dogmas católicos não consideram pecado ser gay, mas estabelecem que atos homossexuais são "intrinsecamente desordenados" e, por extensão, a orientação é vista como "objetivamente desordenada".

É pouco realista esperar mudanças da água para o vinho numa instituição conservadora como a Santa Sé. Ainda mais num tema que suscita oposição ferrenha. O antecessor de Francisco, Bento 16, ainda vivo, chegou a comparar o casamento homossexual ao "anticristo".

São visíveis, contudo, as inclinações do papa a promover uma necessária atualização da moral familiar católica, aproximando-a da realidade vivida pelos fiéis.

O papa Francisco, durante audiência no Vaticano - Alberto Pizzoli - 14.out.20/AFP

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