Tão tradicionais quanto os descontos tentadores da Black Friday são os golpes e fraudes aplicados nesta época, que causam prejuízos e fazem sonhos de consumo se transformarem em pesadelo.
Com um aumento previsto de até 52% nessas práticas em relação a 2020, segundo analistas, consultorias e órgãos de defesa do consumidor, é preciso tomar alguns cuidados para não cair em roubadas e aproveitar as ofertas com tranquilidade.
A primeira regra para não cair em ciladas é duvidar de promoções que pareçam muito boas. Nesses casos, vale o ditado: "quando a esmola é demais, o santo desconfia". O recado é do Procon-SP, que vê o número de reclamações neste mês crescer a cada ano.
Só na edição do ano passado, foram atendidos mais de 1.912 casos de problemas com compras. Na lista das queixas mais frequentes registradas pelo órgão, a maquiagem de desconto é uma das primeiras.
Trata-se da situação conhecida como "pagar a metade do dobro", que ocorre quando o desconto anunciado não é real. Também há situações em que o preço anunciado muda na finalização da compra, o que pode acontecer tanto em lojas presenciais como online.
Completam o grupo das reclamações campeãs de 2020: o atraso ou a não entrega; os pedidos cancelados após a finalização da compra; produto ou serviço indisponível; entrega de produto diferente do adquirido, ou entrega de produto incompleto ou danificado.
O descontentamento com estabelecimentos comerciais é monitorado pelo Procon-SP, mas o consumidor ainda está sujeito a cair em outras roubadas, que vão do endividamento a prejuízos em decorrência de fraudes e golpes aplicados por terceiros, sobretudo nas operações realizadas via internet.
Um ranking de irregularidades e riscos para o consumidor também foi feito pelo instituto Opinion Box em parceria com a Serasa, e mostra a propaganda enganosa como ocorrência mais comum, citada por 60% dos 2.608 entrevistados.
A pesquisa foi feita na primeira semana deste mês, nas cinco regiões do país. Em seguida, vêm golpes na compra e venda de produtos (42%), uso indevido de dados dos cartões de crédito ou débito (40%), e o uso criminoso do WhatsApp (37%).
Uma das atitudes mais eficazes para evitar dores de cabeça e arrependimentos é não comprar por impulso. O Procon-SP aconselha o cidadão a analisar seu orçamento, refletir se realmente precisa do produto que quer comprar, verificar suas contas e ponderar se vale a pena gastar deu dinheiro ou, até, endividar-se.
Caso decida pela aquisição de algo, a dica é pesquisar e comparar os preços e descontos em diversas lojas, ou por meio de sites que fazem esse serviço, como ConfieAqui, Buscapé, Já Cotei e Promobit, entre outros.
Os que preferem aproveitar as ofertas pessoalmente precisam ficar atentos à quantidade de pessoas dentro das lojas, para evitar aglomerações e furtos. É importante conferir se os produtos e valores registrados no caixa correspondem ao que está sendo comprado.
Na hora de pagar, se a opção for o cartão de crédito ou débito, antes de digitar a senha, deve-se verificar se o total que aparece na maquininha é o mesmo informado pelo caixa. O ideal é não entregar o cartão para o funcionário da loja, mas se acontecer, checar se o cartão devolvido é mesmo o seu é obrigatório.
Os consumidores que optarem por comprar pela internet precisam redobrar a atenção antes mesmo de "entrar" nas lojas. "Não se deve acessar a página de compras a partir de links encontrados em outros sites, postados em redes sociais ou recebidos por email", afirma Renato Tocaxelli, especialista em cibersegurança da empresa Trend Micro, que oferece soluções de segurança para internet.
"Para comprar online com segurança, a mentalidade tem de ser a de "confiança zero". Tudo o que tiver a opção para clicar, acessar ou entrar precisa ser muito bem verificado, e o melhor é digitar o endereço do site diretamente no navegador", explica ele.
Ele diz que a URL do site, o link ou endereço que abre a página no navegador, começado por www ou http://, ajuda a identificar se ele é confiável. "Os sites mais seguros, com certificado digital e que não têm pendências técnicas, inclusive de registro, são aqueles em que o http da URL é acrescido de um ‘s’, ficando https", explica.
"Nessa barra do navegador, quando aparece um cadeado antes da URL, é outra indicação de que há certo nível de segurança, mas só ele não é suficiente", ensina. Tocaxelli também explica que é importante ter um programa antivírus atualizado tanto no computador quanto no celular, mesmo que seja gratuito, pois esse tipo de software analisa os aparelhos em tempo real, e dispara alertas quando encontra riscos.
Cuidados ao comprar pela internet valem no ano inteiro
Apesar de precisarem ser intensificados durante a Black Friday, os cuidados relacionados com as compras na internet valem o ano inteiro. Um conselho que é sempre lembrado por especialistas em tecnologia, segurança e defesa do consumidor é a necessidade de mudar as senhas de sites e aplicativos periodicamente, a cada 45 ou 60 dias.
Elas não devem coincidir com as dos emails pessoais e dos bancos, não podem repetir combinações usadas anteriormente, nem seguir uma sequência numérica ou padrão de construção, pois tudo isso é, hoje, facilmente identificado por meio de inteligência artificial.
Uma dica para usar os sites de compras sem medo é, no cadastro como cliente, preencher apenas as informações obrigatórias. Ler o código de privacidade e a política de trocas e devoluções da empresa também pode evitar problemas.
"As fraudes mais comuns atualmente são as invasões de computadores, celulares e perfis em sistemas de mensagens instantâneas, por meio das redes sociais e aplicativos. O objetivo sempre é roubar os dados dos usuários, e depois usá-los para se passar por eles em atividades ilegais", fala Tocaxelli.
O especialista orienta os consumidores a apagarem do smartphone todos os aplicativos que não são muito usados e a somente fazer compras online em redes wifi privadas. "As redes públicas, da faculdade, do shopping ou do trabalho, podem ser usadas para fazer pesquisas, nunca para as compras, porque são mais fáceis de serem contaminadas."
A hora de pagar as compras também apresenta riscos, então é necessário prestar atenção em alguns detalhes: se a opção for o cartão de crédito, a ordem é nunca salvar os dados do cartão no site ou aplicativo e, de preferência, usar o "cartão virtual", que é temporário e pode ser obtido nas páginas da maioria dos bancos e instituições financeiras.
Caso seja escolhido o pagamento por boleto bancário, o consumidor deve conferir o nome da empresa que aparece nele como beneficiária e o CNPJ informado. Esses dados costumam ser informados no fim da página inicial dos sites. Com o Pix, o cuidado é o mesmo: antes de digitar a senha, é preciso conferir as informações do destinatário.
A maioria das armadilhas para o consumidor pode ser evitada com mais de atenção, cuidado e bom senso. Por isso, a principal recomendação de especialistas e dos serviços de defesa do consumidor é sempre "confiar desconfiando".
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