Dúvida. Angústia. Hesitação.
O general Perácio já não era criança.
—Logo vai chegar minha vez de ser vacinado.
Em Brasília, o comportamento gera suspeitas.
—Será que vão me chamar de maricas?
A mulher insistia.
—É melhor você se vacinar, Perácio.
—Mas a imprensa vai aparecer...
—E daí?
—Querendo me desmoralizar.
Ele fez uma pausa.
—Tem mais. Nunca acreditei nessa vacina.
—Isso é verdade.
—Sou ex-atleta.
—Isso, Perácio.
—E essa Covid... não tem nada demais.
Veio a notícia.
O major Olímpio morre de Covid.
Perácio deu um tapa na mesa.
—Precisa apurar. Não vamos logo concluindo.
Ele suspirou.
—Se eu for acreditar em tudo o que aparece na imprensa...
A noite, entretanto, foi de insônia.
Eram cinco da manhã quando ele ouviu uma voz.
—Perááácio... sou eu... o Olííímpiooo.
O apelo amistoso era pela vacinação.
No susto, Perácio empunhou a pistola que estava na cabeceira.
Televisor, janelas e espelhos foram destruídos a tiro.
—A mídia, ainda vai. Mas fantasma é apelação.
Ele desabafa.
—Esses comunistas são capazes de tudo.
Fatos são fatos.
Mas, por vezes, a crença é o que conta mais.
Voltaire de Souza
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