Farra nas alturas
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As extravagâncias cometidas por autoridades em viagens áreas até parecem coisa pouca diante do longo histórico de escândalos nacionais. Nem por isso, porém, deixam de revelar uma certa falta de noção da realidade, comum em boa parte dos ocupantes do poder.
Essa lamentável tradição ganhou novos capítulos. No final de janeiro, após participar do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o então secretário-executivo da Casa Civil Vicente Santini viajou à Índia, onde o presidente Jair Bolsonaro realizava viagem oficial.
No lugar do chefe Onyx Lorenzoni, que se encontrava em férias, Santini aderiu às regalias do cargo e pegou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para transportar somente ele e duas assessoras.
Bolsonaro logo anunciou a demissão do subordinado pelo gesto "inadmissível" e "completamente imoral".
Mas, no dia seguinte, diante do apelo dos filhos, amigos de Santini, o presidente o readmitiu como assessor --e na mesma Casa Civil de onde havia sido enxotado.
Pressionado, Bolsonaro recuou do recuo e, enfim, dispensou Santini apenas 12 horas após a readmissão.
Mas a farra aérea não para por aí. Reportagem publicada no Agora mostrou que seis ministros se valeram dos serviços da FAB para viagens ao exterior, em circunstâncias semelhantes.
Quando confrontadas, as autoridades dizem que fizeram tudo dentro da lei. Mas os poderosos se esquecem que, nesses casos, a legalidade não basta.
Abusar de privilégios, que já são muitos, viola princípios da administração pública, como o da moralidade e o de zelar por gastos responsáveis. Revelam também, acima de tudo, descaso com o dinheiro dos contribuintes brasileiros.