Violência em xeque

Seguindo uma tendência nacional, o estado de São Paulo registrou em 2019 redução no total de homicídios dolosos (com intenção). O ano acabou com a menor taxa de assassinatos já verificada na série histórica, com 6,56 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

No Rio de Janeiro não foi diferente: queda de 19%, ou 3.995 casos, o menor número desde 1991. A má notícia é que a queda nos crimes não conseguiu conter a brutalidade policial nos dois estados.

Em São Paulo, policiais civis e militares mataram 733 pessoas, um aumento de 12% em relação ao ano anterior.

Evidências científicas mostram que não há relação entre maior violência da polícia e redução da criminalidade. No caso das cidades de Nova Iguaçu e Angra dos Reis, por exemplo, houve queda tanto nos homicídios quanto nas mortes cometidas pela polícia, segundo estudo do Ministério Público do Rio.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, quase um policial morreu ao dia de forma violenta no país em 2018. Os números de suicídios também assustam: 104, o que dá a dimensão do estresse a que eles estão submetidos.

Não há um consenso entre os especialistas sobre as causas da diminuição dos homicídios. Questões econômicas, mudanças nos conflitos entre as facções criminosas e políticas estaduais mais efetivas são, em geral, algumas das explicações citadas. Mas a cultura de confronto policial não figura entre elas.

Para um fenômeno de diversas causas e com efeitos percebidos a médio e longo prazo, atribuir os avanços na área da segurança pública a governantes adeptos do discurso linha-dura, como João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), é, ao menos, impreciso.

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