Autorama continua mantendo acesa a paixão pela velocidade

Colecionadores não medem esforços para manter o hobby e até constroem suas pistas em casa

São Paulo

Sonho de muitos garotos, principalmente na década de 1970, o autorama ainda tem fiéis adeptos. Em sua maioria, com idades entre 50 e 60 anos, eles formam clubes, participam de competições, juntam centenas de carrinhos em prateleiras e chegam até a construir suas próprias pistas dentro de casa.
O autorama chegou ao Brasil na década de 1960. Ele foi introduzido no país pela fabricante Estrela como um dos primeiros brinquedos elétricos da época. 

Atualmente, o automodelismo de fenda incorporou inovações tecnológicas como telemetria computadorizada, aceleradores eletrônicos, controle de velocidade, regulagem de aceleração e frenagem nas curvas, e controles que chegam a ter dez botões diferentes.

Para alguns fãs, eles são mais que um brinquedo ou um passatempo, mas um esporte. Os autoramas podem ser de uso doméstico (menores e feitos, normalmente, com pistas de plástico) ou profissionais, usados em lojas especializadas e competições (com pistas de madeira que chegam a 52 metros de extensão).

O aposentado Rubens Cunha Filho, 60 anos, morador da zona oeste da capital, estima que sua coleção de carrinhos Estrela esteja avaliada, atualmente, em cerca de R$ 30 mil. "Eu escolhi os produtos da empresa. Existem outras opções, principalmente internacionais, mas eu precisava escolher um nicho. De 1970 para cá eu tenho todos os carros que a Estrela lançou e mais alguns de antes de 70 também", afirma. 

Segundo ele, normalmente carrinhos de coleção não são para andar nas pistas. "Eu sou uma exceção, porque ainda brinco de vez em quando com os meus."

Vídeos na internet

Vários adeptos do automodelismo de fenda gravam vídeos e postam em redes sociais da internet para ajudar a difundir a modalidade para as gerações mais jovens. É o caso de Luciano Soave, 44. O autônomo, morador da zona norte do Rio de Janeiro, coloca, com frequência, seus "rachas de autorama" no YouTube.
"O interesse pelo autorama surgiu na infância. Além do fascínio pelo próprio hobby em si, também tive muita influência da Fórmula 1. [O piloto Nelson] Piquet, depois o [piloto Ayrton] Senna. Todo mundo queria ser piloto na época", diz "Os vídeos que posto no YouTube são uma maneira de contribuir, de tentar impedir que este hobby caia no esquecimento", completou o autônomo carioca.

Comerciante monta pista de 34 metros

Depois de levar o filho para brincar de autorama algumas vezes na loja, o comerciante Gilberto Spirim, 53 anos, decidiu investir em uma pista em sua própria casa. Ele percebeu que a paixão que tinha desde a infância poderia também ser um bom hobby para ter com seu filho, hoje com 22 anos.

"Fiz a primeira pista na casa em que morava, depois me mudei e montei outra", afirma. "Meu filho gosta e eu acho bom quando ele participa. Além disso, eu tinha uma turma de amigos que também brinca."
Ele não lembra ao certo quanto dinheiro investiu para construir o local na época, há 11 anos. Hoje, a construção de uma pista profissional de madeira varia entre R$ 8.000 e R$ 70 mil, dependendo de características como extensão total e número de fendas (onde os carrinhos correm).

A pista dele, em São Caetano do Sul (ABC), é profissional. De madeira, com seis fendas, ela tem 34 metros de comprimento. 

Spirim também coleciona carrinhos. "Cheguei a ter entre 300 e 400. O autorama não é só correr, você aprende a desenvolver habilidades na hora da preparação do carro. As variáveis são parecidas com o automobilismo", afirma. 

Réplicas de automóveis chegam a custar R$ 3.000

Existem basicamente dois tipos de carrinho no automodelismo: as réplicas, que reproduzem em detalhes de automóveis reais, e os com carroceria de bolhas, com estruturas menos preocupadas com a realidade, mas que permitem maior velocidade nas corridas. 

Para comprar, o valor fica entre R$ 250 e R$ 3.000, dependendo da complexidade do carrinho e do tipo de motor utilizado. O acelerador, disponível para controlar os carros, pode ser adquirido a partir de R$ 130 e o valor dos mais sofisticados pode chegar perto também dos R$ 3.000.

Roberto Mombelli Junior, 50 anos, é outro colecionador de autoramas, uma paixão que carrega da infância. "Eu comecei com autorama quando ganhei um usado da minha tia. Era dos meus primos, que são mais velhos. Desde moleque sempre gostei, mais meu pai não conseguia comprar", conta. 

Para Mombelli Junior, a geração atual é muito ligada a computador e vídeo-game, e não sente a mesma emoção ao pilotar um carrinho de autorama. 

Ele conta que deixa sua coleção exposta na parede de casa. "Minha filha de 10 anos até tem curiosidade, mas sabe que não pode mexer, ela só olha", afirma.

Para quem prefere não colocar os próprios carrinhos na pista ou não pretende investir em equipamento, uma opção é frequentar clubes de automodelismo de fenda ou lojas especializadas espalhadas pela cidade de São Paulo (veja acima). Nelas é possível comprar peças, fazer reparos e alugar carros para praticar nas pistas profissionais destes locais. 

De acordo com frequentadores, a capital paulista é uma das referências do automodelismo de fenda e uma das cidades do mundo que mais oferece opções aos adeptos.

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