Racismo no Sítio

Monteiro Lobato, que criou os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, é --ou deveria ser-- um dos autores mais lidos por nossas crianças. Um problema, porém, tem incomodado pais, professores e até políticos: o racismo que volta e meia aparece nas histórias fantásticas de Pedrinho, Narizinho, Emília, Visconde, Dona Benta e Tia Nastácia.

Há oito anos, a proposta de proibir a distribuição do livro "Caçadas de Pedrinho" nas escolas públicas chegou ao Supremo Tribunal Federal. Agora, a bisneta do escritor fez uma reedição de "A Menina do Narizinho Arrebitado" suprimindo trechos com preconceitos raciais.

Até gente do governo Jair Bolsonaro resolveu se meter no assunto. O secretário especial da Cultura, por exemplo, achou a mexida na obra uma vergonha.

É preciso colocar os pingos nos is dessa história. Para início de conversa, não dá para negar o racismo na obra infantil de Lobato, produzida nas décadas de 1920 a 1940. Basta lembrar que a cozinheira Tia Nastácia é tratada como "negra de estimação". Outro trecho diz que ela "é preta só por fora, e não de nascença".

Mas isso não quer dizer que os livros não devam ser lidos nas escolas, nem que essas passagens precisem ser tiradas dos textos. Toda obra de arte, afinal de contas, reflete os valores e o pensamento de uma determinada época --e também os preconceitos e as ideias que hoje parecem claramente erradas.

É até importante que as crianças conheçam o racismo do passado, o que ajuda a entender o racismo ainda existente na sociedade brasileira. Para isso, os livros podem trazer notas de esclarecimento, e os professores precisam estar preparados para explicar o que está escrito. O que não dá é para não ler Lobato.

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