Damares e os dados sonegados
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Diante de uma crise, o governo Jair Bolsonaro prefere esconder informações a assumir responsabilidades. O exemplo mais recente disso foi o sumiço de dados a respeito das denúncias de violência contra crianças e adolescentes, que estão em alta.
O Ministério da Mulher, da Família e de Direitos Humanos diz que o serviço Disque 100 recebeu 86.837 desses alertas no ano passado, 14% a mais que em 2018. O motivo mais comum é a negligência (38%), mas também há violência sexual (11%).
Um relatório recente do ministério de Damares Alves não diz o que foi feito a respeito das denúncias —se é que algo foi feito. Sabe-se que, nos anos anteriores, os índices de resposta eram baixíssimos (13% em 2018). A pasta atribui o apagão a uma “decisão editorial”.
Virou política pública sonegar dados sobre a atuação de conselhos tutelares, repartições e corregedorias, dos quais se espera ação contra abusadores.
Imitando o chefe, a ministra preferiu intimidar a dar explicações plausíveis. Prometeu processar o jornal Folha de S.Paulo, que revelou o caso, para “reparar o dano causado à credibilidade” do Disque 100.
O que prejudica mais a credibilidade do serviço: um jornalista que faz perguntas sobre a sua eficácia ou a autoridade responsável que foge das explicações?
Falando sobre a importância da transparência nas ações do Estado, o juiz Louis Brandeis, da Suprema Corte dos EUA, disse que “a luz do sol é o melhor desinfetante”. Damares, que é advogada, parece desconhecer esse princípio do direito público.
Na famosa reunião de 22 de abril, gravada em vídeo, a ministra chegou a pregar a prisão de governadores e prefeitos. Podemos ao menos comemorar que, ao contrário do presidente, ela não recorreu desta vez às ameaças físicas.