A taxa de contágio indica o número médio de pessoas para as quais um infectado transmite um vírus. Ela dá pistas importantes sobre o avanço de uma epidemia: quando é maior que 1, mostra avanço descontrolado; quando é menor, aponta regressão das contaminações.
Pela primeira vez em quatro meses, a taxa de contágio no Brasil caiu para abaixo de 1. Segundo o Imperial College, de Londres, ela baixou para 0,98. A notícia é boa, mas não deve inspirar muito otimismo: o país segue falhando no controle da pandemia, com mil mortes diárias há meses.
O risco é que a melhora ligeira estimule o relaxamento imprudente. Segundo o Datafolha, este mês teve o menor índice de isolamento desde o início da pandemia. Em abril, 71% dos entrevistados se diziam totalmente isolados. No último dia 11, eram apenas 51%.
Há quatro meses, 65% das pessoas achavam que a pandemia piorava; em agosto, restam 43% de pessimistas, ante 46% que veem melhora.
Isso talvez se explique pela falta de informação ou por incentivos vindos de cima: para agirem do jeito certo, as pessoas precisam ter clareza quanto à duração e aos resultados esperados dos sacrifícios que fazem, o que não aconteceu.
O distanciamento, que raras vezes foi seguido com rigor, agora é abrandado ainda mais e de forma descoordenada.
O presidente Jair Bolsonaro não apenas ignorou sua obrigação de liderar o país como a sabotou de propósito. Terceirizou responsabilidades a governadores e prefeitos, estimulou aglomerações sem máscara, fez propaganda de curas falsas.
Com isso, a população fica sujeita à desinformação ou a esperanças infundadas. Erros desse tipo serão pagos com milhares de mortes evitáveis.
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