Os cortes de Doria

O projeto da gestão João Doria (PSDB) para equilibrar as contas do governo de São Paulo em 2021 tem objetivos corretos e algumas providências duvidosas.

A proposta se justifica pelo impacto da pandemia na arrecadação de impostos e nas despesas públicas. Os estados e os municípios têm pouca margem para fazer dívidas —por isso, quando falta arrecadação, áreas como saúde, educação e segurança acabam prejudicadas.

O governador João Doria (PSDB) durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes - Divulgação - 3.ago.20/Governo de São Paulo

Estima-se que São Paulo terá um rombo de R$ 10,4 bilhões no próximo ano caso nada seja feito. O pacote de Doria busca conseguir R$ 8,8 bilhões.

Ao que parece, a maior parte dos cortes se dará em benefícios relativos ao ICMS e outros impostos —um aumento de carga tributária que pode ser justificado se eliminar distorções e privilégios.

Outra sugestão, de impacto financeiro menor mas politicamente relevante, é a extinção de dez órgãos, cujas estruturas e tarefas seriam redistribuídas no governo.
Menos clara e mais polêmica é a intenção de avançar sobre os recursos das universidades paulistas e da Fapesp, a fundação de fomento à pesquisa científica.

Essas instituições são bancadas com parcelas fixas da receita do ICMS, o que garante a elas autonomia —à diferença, por exemplo, das universidades federais. O governo Doria, porém, quer se apropriar das sobras desses recursos.

USP, Unesp e Unicamp passaram por crises porque aumentaram demais as folhas de pagamento. Pagaram pelos erros na época, e não faz sentido agora tirar delas a capacidade de gerir a grana.

O governo precisa, no mínimo, defender com maior clareza a conveniência da proposta. A autonomia universitária é um avanço institucional que deve ser melhorado, não contido.

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