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Foi há dez anos. Lembro-me de ter entrevistado 16 técnicos –exceto os do Trio de Ferro, a cargo dos repórteres setoristas– para o Guia do Paulistão deste Agora e, na noite do fechamento, ainda faltava um.
O Guaratinguetá, sensação do ano anterior (2008), treinava em algum hotel afastado no interior de São Paulo ou de Minas Gerais, sem sinal de celular nos campos e comunicação limitadíssima.
Na última tentativa, consegui contato com o treinador, por volta das 21h30. “Porra, isso é hora de ligar? Todo mundo já jantou e foi dormir. Vou te atender, mas, na próxima, ligue mais cedo!”, esbravejou. Minha maior preocupação era que, irritado, o interlocutor desse duas ou três respostas vagas, irônicas ou monossilábicas antes de desligar.
A entrevista durou mais de 40 minutos e virou um delicioso bate-papo. Na despedida, novo aviso, potencializado pelo carregado sotaque gaúcho: “Gostei de falar com você, mas não se esqueça de ligar mais cedo”.
Assim é Argel Fucks, o técnico casca grossa –e, no fundo, gente boa– que agora tenta livrar o CSA da degola no Campeonato Brasileiro.
Com seu estilo durão e sincero, só nos últimos meses, Argel já bateu de frente com o português Jorge Jesus, o badalado técnico do Flamengo, que “não descobriu a pólvora”, e criticou duramente a estrutura do CSA e alguns jogadores, já dispensados.
Expulso de treinos por Emerson Leão e Abel Braga nos tempos de jogador, quando era considerado violento, absorveu as lições e, rígido, exige de seus atletas intensidade, pegada e disciplina. No Caxias e na Portuguesa, mandou para o chuveiro jogadores que julgava treinar com corpo mole. “Quem não gostar, pede para sair. Vai trabalhar em farmácia”, avisou.
Os que ficam, porém, podem contar com um protetor que veste a camisa e trabalha incansavelmente, embora seu temperamento, por vezes, até atrapalhe. No comando do Figueirense, comprou briga com jogadores do Avaí. No gaúcho São José, peitou o astro D’Alessandro, do rival Inter: “Não vai gritar com ninguém aqui!”. Acabou demitido do Vitória por arrumar confusão com jogadores e dirigentes do Bahia após um clássico.
Em campo, retranca e chutão não são um problema, mas solução. O ex-zagueiro adota um sistema de jogo básico, sem ideias mirabolantes, baseado em muita marcação e velocidade. O suficiente para incomodar os clubes grandes e ricos –como fez com Flamengo e Corinthians nesta semana– no papel de bombeiro de equipes menores.
Que me perdoem os torcedores de Cruzeiro e Fluminense, mas espero que o CSA deixe de ser ameaçado e se torne uma ameaça.