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Caneladas do Vitão: É fogo, é gol

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São Paulo

“Abrem-se as cortinas, começa o espetáculo”. Voz seduz. Quem conta um conto aumenta um ponto. Áudio ilumina, é luz, reluz, conduz. A versão, via de regra, é sempre melhor do que o fato cru. Às vezes, tão melhor que goleia, eis o grande barato.

Narrar não é só relatar. É a arte de criar, somar, encantar. Fazer sonhar mesmo durante um desempenho de pesadelo. É enganar sem roubar, tergiversar sem ocultar, aumentar sem deturpar,  embriagar-se e embriagar. Abrindo o sorriso, o próprio e o do outro, careta de tudo. É transformar o nada em algo especial. E o que já é importante, em eterno, deslumbrante.

A vida imita o futebol. E deveria imitar mais, muito mais, ainda mais. Objetividade é menos, imaginar é muito mais, sentimento pleno. As conquistas da vida pessoal, como aconteceram com as conquistas do Palmeiras de Fiori Gigliotti ou do meu Corinthians, teriam muito mais poesia e, pois, vida, contada na viva voz do locutor da torcida brasileira...  No “crepúsculo do jogo”, “agueeeenta, coração”. Beijos bizarros e encontros empatados ou broxantes seriam romantizados como capítulos muito mais interessantes, instigantes, inebriantes. E o que já valia a pena seria qualquer cena...

Eu não deveria, mas lembro, parcialmente, dos piores momentos do que fiz em outros Carnavais, idos passados. O crime compensaria mais se fosse contado na base do “balão subindo, balão descendo” do que no vulgar até a “boquinha da garrafa”. A morena de outrora teria traços muito mais curvilíneos e bonitos se descritos por Fiori do que a terrível visão fidedigna; a cintura da loira seria meio metro mais fina; o charme da japinha mais abundante; a exagerada marquinha da negra mais piquititica... Ah, quem não brincou de Fiori na hora de aumentar a beleza do momento do “é fogo, é gol” ao narrar o feito a um amigo... 

Quantos chatíssimos 0 a 0 não viraram goleadas impiedosas e quantas bolas na trave não foram transformadas em estufadas de rede majestosas?

A vida como o futebol é para quem ama mais do que imagina.

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“Fecham-se as cortinas, termina o espetáculo.” Parabéns, Paulo Rogério e Mauro Beting pelo definitivo “Fiori Gigliotti, o locutor da torcida brasileira”, obra imperdível que motivou esta crônica.

Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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