No centenário, Lusa mira arena e finanças para sair do sufoco

Gestão Castanheira quer priorizar a renegociação de dívidas, modernização do estádio e as categorias de base

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São Paulo

"Vamos à luta, ó, campeões". No ano do centenário, seguir o lema do hino da Portuguesa tornou-se a missão de Antonio Carlos Castanheira, 55 anos, eleito presidente do clube para o triênio de 2020 a 2022.

"Quando eu tomei a decisão [de me candidatar] me chamaram de louco, mas a gente ama isso aqui. Temos que esquecer as administrações anteriores e as máculas como o caso Héverton. É sacudir a poeira e dar a volta por cima", destaca Castanheira, relembrando o polêmico rebaixamento no Brasileiro de 2013 por causa da escalação irregular do meia Héverton.

O novo presidente da Portuguesa, Antonio Carlos Castanheira, segura a bandeira do clube em sua sala - Zanone Fraissat/Folhapress

Distante dos tempos de glória, com a sede social praticamente abandonada —hoje o clube tem 1.200 sócios— e sem ter o que comemorar no futebol desde a fatídica degola de 2013, que desencadeou rebaixamentos em série até deixar o cenário nacional, em 2017, a Lusa espera aproveitar os festejos dos cem anos —que serão completados em 14 de agosto— para atrair investidores, adotar um modelo empresarial e, principalmente, resolver dívidas trabalhistas que ajudaram a levar o Rubro-Verde à crise.

"Existem ações e valores que chegam a ser irreais. Vamos propor um acordo dentro das possibilidades de receita. Isso vai ser fundamental para o sucesso da gestão", diz o presidente, que foi eleito em dezembro do ano passado, após acirrada disputa nas urnas com o antecessor, Alexandre de Barros.

Em entrevista ao Agora, o Antonio Castanheira fala ainda sobre a equipe que disputará a Série A-2 do Paulista, a junta criada para cuidar do futebol, o projeto da Arena Canindé e a revitalização da área social.

Projeto da gestão

"Montamos um projeto com um tripé formado pela Arena Canindé e o patrimônio da Portuguesa, o futebol de base e o acordo das dívidas. O maior problema, sem dúvida, é a dívida trabalhista. Vamos propor um acordo dentro das possibilidades reais que a Portuguesa tem na captação de receita. Isso vai ser fundamental para o sucesso da gestão. Abrir uma conta corrente [que atualmente está 100% penhorada] e operar sem problemas. Temos o domínio de todas as dívidas, mas não dá para falar em números. Temos negociações a serem feitas e existem valores e ações que estão superestimados, chegam a ser irreais."

Categorias de base

A base será a menina dos olhos. Ainda não está legal. Vou definir algumas pessoas para que a gente possa fazer um futebol de base com qualidade. Quero ver de 8 a 11 jogadores da base no profissional. O que vou cobrar é um time decente que, no mínimo, rasgue a cabeça na grama pela Portuguesa."

Futebol

"O futebol, hoje, é o nosso foco e este primeiro semestre é fundamental. Estou convicto da qualidade do [diretor de futebol] José Manuel e do [técnico] Moacir Júnior. Eles estão há mais de dois meses e meio aqui e eu tenho que dar apoio. Precisamos ter esperança [no acesso à elite] e, se concretizado, vamos nos organizar melhor e mirar a volta ao cenário nacional. Vamos ter paciência e a torcida sabe. Mas é muito bacana você ressurgir do nada e conquistar no campo o direito de retornar ao seu lugar, e não como acontece com alguns times que conseguem isso no tapetão."

 

Clube-empresa

"A gente já chegou com o trem andando, com a junta de futebol montada. Essa continua. Paralelamente, montei uma comissão para trabalhar o futebol-empresa, a Portuguesa profissional. Para isso também vamos buscar investidores. E, nesse caso, vamos falar de curto, médio e longo prazo porque se tem uma situação estruturada. Vamos fechar isso nos primeiros seis meses de gestão e ter ao menos um esqueleto montado."

Junta de futebol

"Dois dias depois de eleito, fui ao CT [do Parque Ecológico] fazer uma reunião. Quando cheguei, imaginei que fosse ter uma junta com 17, 20 nomes e cotistas. Não tinha nada disso. O que tinha eram verdadeiros guerreiros que tocaram o barco. Assumimos o clube na sexta (3) e não teríamos conseguido montar um time. Considero [a junta] uma diretoria. Eles têm autonomia total."

Arena Canindé

"Venho trabalhando no projeto da Arena há três ou quatro anos. Foram dados os primeiros passos em 2015, quando fizemos o ajuste técnico. A Portuguesa era zona de ocupação mista e esse acerto já foi feito. Agora passamos para a parte de captação de investidores e interessados, mas tudo só vai poder andar após o acordo trabalhista. Acredito em 18 meses para [que haja] essa estruturação toda. Um projeto assim constitui receita e despesa. Não é vender o Canindé como muita gente fala. Vamos fazer uma sociedade com os interessados. Vai ajudar a modernizar o estádio e a criar outros meios de gerar receita."

Clube tenta tirar do papel o projeto de modernização do Canindé para transformar o estádio em arena multiuso - Zanone Fraissat/Folhapress

Ídolos

"Eles terão um camarote e trânsito livre dentro do clube. São ex-jogadores, ídolos e merecem todo o nosso respeito. Muita gente importante ficou afastada nos últimos anos. O caso do maestro João Martins [embaixador do centenário] é um deles, desde 2013 não colocava os pés aqui. Como o Badeco, o Ivair..."

Oposição

"Eu me reuni com o Fernando [Thomé]. Já era um compromisso de unir as duas chapas. Estamos trabalhando em conjunto no projeto imobiliário da arena. Com relação às outras chapas [Alexandre Barros e Manuel Reis], eu não conversei. Ali não tem condições de conversar."

Modelo

"Criamos departamentos específicos para o futebol. O técnico, para a turma do campo, liderado pelo José Manuel, o médico-pedagógico, o marketing, a comunicação, o jurídico, e tudo somente voltado para o futebol. Esse modelo de administração do futebol a Portuguesa nunca teve. Tudo sempre foi vinculado ao clube. Essa visão separada vai dar mais organização. Também quero investidores para o futebol, esse é o futuro. O futebol precisa ser olhado como negócio. Tem a paixão no meio, mas só ela não funciona. Precisamos ter profissionalização, planejamento e organização. O primeiro passo é recuperar a credibilidade, o respeito e o carinho pela Portuguesa, e não o que vinha acontecendo. O desleixo, a desorganização, isso daí é de chorar."

Busca de receita

"É o forte da nossa gestão. A Lusa tem um grande número de torcedores que possuem padarias, hotéis, lojas, postos de gasolina, supermercados e restaurantes, e tenho certeza que eles vão querer nos apoiar, como no projeto das padarias de 2015. A nossa diretoria vai organizar as cem empresas do centenário da Portuguesa. Também pedi urgência na reabertura da loja e na reformulação do programa de sócio-torcedor, espero os dois prontos antes da estreia na A-2 do Paulista. A loja é fundamental porque hoje o torcedor não sabe onde comprar uma camisa da Portuguesa."

Área social

"Tem o projeto de revitalização do Salão Nobre, do anfiteatro e de outros lugares. As piscinas não tem o que fazer, já foi tudo para baixo. É claro que estava um ambiente degradado, mas não foi feito da forma correta, tinha que ter tido a participação do COF (Conselho de Orientação e Fiscalização). Agora está um espaço aberto e vamos ter que fazer as melhorias, algo para revitalizar e arrecadar dinheiro para a Portuguesa. Se vai ser piscina, outro espaço de eventos ou para festas e shows, vamos analisar."

Antiga fonte que ainda resiste às mudanças na sede social da Portuguesa - Zanone Fraissat/Folhapress

Eventos

"A Portuguesa sobrevive hoje  das receitas de eventos e shows. Com a Arena vindo, vai mudar tudo, mas, nesses 18 meses, a gente vai reformular algumas situações e criar alguns eventos novos em áreas que estão deterioradas para continuar tendo receita. Os eventos continuam, mas pedi maior qualificação das festas. Tem algumas que não cabem no perfil da Portuguesa. Nem preciso citar quais. O clube tem um perfil familiar. Desde que esses eventos não sejam para degradar o ambiente do clube, eles serão bem-vindos."

Feirinha da Madrugada

"É uma situação muito complexa. Estou pedindo ao jurídico e ao financeiro para levantar todos os contratos da Feirinha da Madrugada. É olhar o que foi firmado, quem é o responsável pela locação, o tempo de duração e quais são as participações da Portuguesa para resolver logo."

Sem a Feirinha da Madrugada, o espaço onde funcionava o parque aquático, que foi aterrado, segue inutilizado - Zanone Fraissat/Folhapress

Luca Castilho

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