Velocidade da bola é desafio do Palmeiras no gramado sintético do Allianz Parque
Novo campo que o Verdão estreia neste domingo facilita passes, mas dificulta o domínio de bola e a adaptação dos times adversários
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Se depender das experiências anteriores de gramados sintéticos no Brasil, o Palmeiras tem boas condições de transformar o Allianz Parque em um alçapão após seus atletas se acostumarem ao novo piso. A primeira experiência será neste domingo (16), às 16h, quando enfrentará o Mirassol, pela sexta rodada do Campeonato Paulista 2020.
Segundo jogadores e treinadores com experiência no gramado artificial há a dificuldade de adaptação e a mudança na velocidade da bola e, assim, da partida.
O zagueiro Douglas, que defendia a Chapecoense no ano passado, foi titular nas duas visitas de sua equipe aos gramados sintéticos que existiam no país: ajudou o time catarinense a segurar um 0 a 0 com o São José-RS no estádio Passo d’Areia, pela na primeira fase da Copa do Brasil, e o empatou por 1 a 1 com o Athletico-PR, na Arena da Baixada, pelo Brasileirão.
Acostumado ao piso natural da Arena Condá, ele sentiu as diferenças.
“A maior diferença da grama sintética para a natural é na velocidade do jogo. No sintético, a partida toma uma velocidade muito maior pelo fato de a bola correr muito mais rápido e tornar o jogo mais veloz”, enfatizou o atleta ao Agora, ressaltando que o sintético do estádio de Porto Alegre é bastante diferente do de Curitiba. “O Athletico utiliza fibra de coco, enquanto o São José usa aquela borracha mais comum [encontrada nos campos society]."
Segundo Douglas, a maior dificuldade é a adaptação.
“Na questão de controle, no passe, você precisa saber medir melhor a força. E o maior benefício é a qualidade. O jogador vai encontrar um campo sem nenhum buraco, o que facilita no acerto dos passes.”
O zagueiro acredita que, dessa forma, o time mandante acabe levando vantagem sobre os visitantes.
“A maioria dos times está acostumada em jogar em grama natural. É óbvio que o Athletico está mais habituado com o campo [sintético]. Quem joga ou treina poucas vezes [na grama artificial] demora a se adaptar."
“O São José está mais adaptado à velocidade do jogo, ao quique da bola e também ao processo de giro, frenagem e aceleração no campo”, explicou o técnico Rafael Jacques, que ajudou o clube gaúcho a subir da Série D à Série C do Brasileiro em 2018.
“Sabemos que podemos brigar por todas as bolas nesse campo porque é muito difícil dominá-la. Mas o adversário também pode roubá-la”, minimizou o meia Rafael Tavares, do São José. “E o gramado é muito duro. Tem jogos que você sai com dor no tornozelo”, reclamou.
Pioneiros no Brasil, São José-RS e Athletico-PR já colhem os frutos
As experiências de Athletico-PR e São José-RS com o gramado artificial têm sido muito positivas, pelo menos em relação aos resultados.
Primeiro clube a adotar o sintético no país, em 2011, o Zequinha conquistou 8 dos seus 11 títulos regionais, como o Campeonato Gaúcho do Interior, a Recopa Gaúcha e a Copa FGF, além do festejado acesso à Série C do Brasileiro, depois da mudança.
Diferentemente do Palmeiras, que optou pelo gramado sintético para poder atuar mais no Allianz —que recebe elevado número de shows e eventos—, o time de Porto Alegre adotou o piso por economia.
“Foi uma questão bem simples. Como o clube não possui centro de treinamento e o gramado sintético pode ser usado com mais frequência, fizemos a mudança. Além disso, temos a vantagem de uso pelas categorias de base, centralizando as principais categorias no estádio e observando os atletas em evolução para aproveitá-los”, destacou Luciano Oliveira, gerente executivo do São José.
Já o Athletico-PR sofria com a grama natural, prejudicada pela falta de luz solar, pelo clima frio e pelas condições do solo. “O custo de manutenção era altíssimo. Também pesou a sustentabilidade do estádio e a possibilidade de otimizar o uso e gerar mais renda”, explicou Rogério Garcia, CEO da GV Group, empresa responsável por trazer da Itália o novo gramado.
O Furacão não se arrependeu. Desde 2016, o time faturou três Paranaenses, a Copa do Brasil e a Copa Sul-Americana.
Novo gramado pode durar de 10 a 15 anos
Um dos principais benefícios da grama sintética do Allianz é que ela tem validade de 10 a 15 anos, apenas com manutenções simples de varrição e reposição de grãos plásticos, ao contrário da natural, que precisa de um cuidado muito maior com iluminação artificial, irrigação e corte frequentes.
Só com a iluminação, a WTorre calcula economia de R$ 100 mil mensais. O valor da manutenção no Allianz antes estava entre R$ 75 mil e R$ 80 mil por mês. Com a grama sintética, o custo cai agora para R$ 25 mil. Além disso, o gramado poderá receber uma partida apenas duas horas após as estruturas dos shows serem desmontadas.
A obra custou R$ 10 milhões, com a WTorre pagando 70%, e o Palmeiras, 30%, pelo campo do CT.
Piso começa a ganhar força pelo mundo
Pelos mais diferentes motivos, diversos clubes em todo o mundo começaram a adotar a grama sintética em seus estádios.
Palco da final da última Copa do Mundo, em 2018, o estádio Luzhniki, na Rússia, é uma das referências e frequentemente recebe elogios pela boa conservação.
Outro gramado sintético conhecido de corintianos e palmeirenses é o do estádio Caliente, no México, palco dos jogos do Tijuana, algoz do Verdão na Taça Libertadores de 2013.
O modelo foi adotado pelo time mexicano pela localização do estádio, que, construído sobre um terreno de fontes termais, onde a grama natural não cresce.
Assim como o Corinthians, o Manchester United utiliza um modelo híbrido no Old Trafford, com gramado sintético e natural.
Já o Polman Stadion, do Heracles, da Holanda (onde a maioria dos times usa o piso artificial), tem a mais nova tecnologia e serviu de referência ao Palmeiras.