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Mundo distópico. 1974. Germanicoesquerdismo, futebolcentrismo. Os comunistas da Alemanha Ocidental mandavam e desmandavam no mundo plano da bola. O capitão Franz Lenin e o artilheiro Muller Stálin passavam o tanque e o trator em todos os adversários e caminhavam para o título. Os gritos de “sou alemão, com muito orgulho, com muito amor” eram ouvidos em frente ao trotskista STF e ecoavam até na propriedade da família de João Doria em Campos do Jordão, líder camponês do MSTA, Movimento Sem Terra Alemão.
Boates gays colocaram mamadeiras de piroca lotadas de chope alemão no gelo para a festa do título, dada como certa. Os chineses, que tinham o monopólio da fabricação das serpentinas, já tinham comprado os juízes, como vazou no grupo de WhatsApp da minha família. Um vizinho da concunhada do meu tio, que era amigo do Carlos Alberto Brilhante Ustra, ouviu a fita da armação.
Ninguém acreditava que a Alemanha comunista seria parada. Exceto a comissão técnica da Laranja Mecânica. No CT-QG, conhecido como gabinete do ódio, quatro laranjas traçaram a estratégia: Van Amares, responsável pelo “amor”, pregava o ódio à crença dos rivais em rituais exorcistas ao pé da goiabeira transmitidos em “lives”; Van Sérgio, homem da “paz”, acabou com o vitimismo, proibiu o negro no uniforme, xingou os fãs de Gullit e Rijkaard e adotou a política “100% laranja”; Van Guedes, da “riqueza”, proibiu os trabalhadores domésticos de verem os jogos do time e resolveu dar todo o PIBinho nas mãos dos jogadores como bicho; e Van Kafta Duarte, da “verdade”, teve uma ideia “imprecionante”: obrigou a execução de “pra, frente, laranja” em todas as escolas-militares do país e decretou a prisão dos vagabundos que não cantassem.
Como nos demoníacos e abortistas Beatles, havia ainda um quinto elemento, Van Queiroz, mas ele sumiu quando houve uma rachadinha na comissão.
O plano revolucionário deu certo e os laranjas venceram. Isentões da falsa simetria de todo o mundo comemoraram: “Alemanha, não, Alemanha, não”. O laranja virou o novo no futebol. E em todas as áreas. A façanha da Laranja Mecânica foi tão marcante que virou um clássico do cinema. O diretor Stanley Kubrick era tão mítico, genial e visionário, que lançou a obra em 1971, três anos antes do Mundial, o que gerou uma certa desconfiança da parcela alfabetizada do público. E foi uma brasa, mora! Caso raro de filme tão bom quanto o livro “1974”, de George Orwell. Os fãs da Jovem Guarda e do sertanejo universitário lotaram as salas.
E, como narrou Osmar Santos, na base do “bomxi, bomxi, bom-bom-bom”, “a história todo mundo já conhece, a Laranja Mecânica ganha, Alemanha comunista perde”. Mesmo campeão, os laranjas reclamaram da súmula eletrônica do jogo, temendo que o placar fosse manipulado à posteriori em prol dos comunistas alemães.
Não aconteceu. Van Jair, Van Flávio, Van Eduardo e Van Carlos brindaram a supremacia laranja com suco importado da Flórida, atendendo pedido do Pato Donald Trump, que tinha um acordo com os exportadores do estado da Grande Disney.
“Vidas laranjas importam, vidas laranjas importam”, berravam os torcedores Van Zambelli, Van Winter e Van dos Santos no desembarque dos craques. Sem trabalho para proteger os ativistas, os PMs tiraram selfies com manifestantes que exibiam faixas “AI-5 padrão Fifa”, “intervenção militar no futebol laranja”.
É o fim.
George Orwell: “A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro. Quando se concorda nisto, o resto vem por si”.