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Caneladas do Vitão: 'Como é frio naquele lugar! É muito, muito, muito frio à noite'

Recuperado da Covid-19, corintiano lembra período sofrido em hospital e morte do irmão gêmeo

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São Paulo

Conheci os irmãos gêmeos Diogo Carmona Makswimcuzuk e Sawa Carmona Makswimcuzuk por causa do amor deles pelo Corinthians e pela zona leste. Durante os três anos que cobri a construção do estádio do Timão, em Itaquera, a dupla participou de churrascos mensais do lado de fora do terreno da obra.

Os irmãos, sempre portando a faixa “Guaianases”, viraram meus “fãs” e eram exageradamente gratos porque, como jornalista, cumpria a minha obrigação de dar visibilidade à sofrida periferia da zona leste.

No dia 5 de maio, Diogo e Sawa e a mãe deles, Iolanda Maria Carmona Dorse, 76 anos, foram internados com Covid-19 na UPA Júlio Tipi, em Guaianases.

Diogo, no dia 8, e Sawa, no dia 9, foram transferidos para o hospital de campanha do Anhembi. No dia 9, Iolanda foi para o hospital do Pacaembu. No dia 10, Sawa morreu. No dia 12, Diogo teve alta. E, no dia 13 de maio, data em que Diogo completou e que Sawa completaria 45 anos, Iolanda teve alta e soube da morte de um dos filhos.

“Sou eu, Vitor Guedes, o Diogo. Tudo joia? Foi triste, complicado, Vitor. Peguei eu, ele e minha mãe. Nós três ficamos internados no mesmo dia no hospital, um do lado do outro. Aí eu e ele fomos pro hospital de campanha do Anhembi, e minha mãe foi para o Pacaembu. Lá no Anhembi, a noite é fria, Vitor Guedes. Como é frio naquele lugar! É muito, muito, muito frio à noite. Que frio que faz lá à noite. Aí, eu tava no bloco F1 e ele no F89, do lado. Conversei com ele uma meia hora antes. Ele tinha saído da UTI, porque tinha problema na respiração, aí foi pro quarto de boa. Tava bom.”

“Conversei com ele quase meia hora, de boa. Aí fui pra minha cama à noite. E eu não conseguia dormir por causa do frio. E aí, de repente, eu vi uma maca passando com um monte de médicos e uns enfermeiros, com um braço caído com a camisa que era dele, preta. Falei, aquele lá é meu irmão, conheço de longe. É aquela coisa de gêmeos, não sei, inexplicável: no dia em que ele chegou, eu o vi, no dia em que ele passou mal, eu vi, Vitor Guedes. Aí eu corri, os médicos não deixaram nem em chegar perto e o levaram para a UTI. E da UTI ele não voltou mais. Ele era fã seu e fã do Neto. Todo dia ele assistia ao Neto.”

Os irmãos gêmeos Diogo Carmona Makswimcuzuk e Sawa Carmona Makswimcuzuk com a mãe, Iolanda - Arquivo pessoal

Quis saber dele e da mãe.

“Graças a Deus, Vitor Guedes, minha mãe está se recuperando bem. É seguir a vida, né? Mandei fazer o túmulo dele aqui em Guaianases. Eu e minha mãe nem pudemos ver, a gente tava internado. Ficamos sabendo no outro dia, e minha mãe ficou sabendo no dia da alta dela. E vai ficar pronto daqui uns 13 dias. Aí fica a saudade…”

“Ele tava cheio de saúde, Vitor. Só tava alterada a pressão porque ele ficou meio apavorado, entendeu? Ele nunca ficou internado na vida dele. Aí, de repente, acontece isso. Abraços, Vitor. Fica na paz e se cuida, amigo, que esse vírus é embaçado, é complicado. No dia que acabar tudo isso aí, eu faço questão que você venha aqui em casa, tomar um café para eu apresentar a minha mãe para você.”

Guimarães Rosa: “Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo”.

Os irmãos gêmeos Diogo Carmona Makswimcuzuk e Sawa Carmona Makswimcuzuk em jogo do Corinthians em 2014 - Arquivo pessoal

Vitor Guedes

43 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio

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