A bola é um detalhe: Derrubados pela boca

O jovem Nunes e o experiente Luxemburgo cometeram o mesmo erro

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São Paulo

Tiago Nunes iniciou o ano imitando Vanderlei Luxemburgo. Meses mais tarde, o experiente treinador devolveu a reverência e copiou o novato. Hoje, prova de que o mercado de trabalho pode ser impiedoso com os jovens e também com os nem tão jovens, ambos estão desempregados.

Não importou, no final das contas, quanto cada um deles entende —ou acha que entende— de futebol. No momento em que acabou o respeito dos jogadores, já não havia solução para o técnico de 40 anos nem para o de 68.

No caso de Nunes, a coisa começou mal quando ele chegou ao Corinthians dispensando os ídolos Ralf e Jadson. Tal qual Luxemburgo fizera no clube em 1998, mandando embora Ronaldo e Neto, o gaúcho achou que demonstrava assim a sua força.

A diferença é que o Tiago-20 não tinha 1% do moral do Luxa-98, um bicampeão brasileiro. Mesmo assim, ele encarnou o personagem linha-dura, pendurou a lista de dispensas na parede e chegou ao ridículo de proibir que qualquer jogador deixasse a mesa do almoço sem pedir autorização.

"Precisamos ter mais qualidade individual", disse Tiago Nunes - Amanda Perobelli - 10.set.20/Reuters

Estava claro que não daria certo e ficou ainda mais claro quando Nunes fracassou na tentativa de demonstrar a capacidade tática que propagandeava. Mas a relação só azedou de vez porque o técnico decidiu se isentar da responsabilidade pelas atuações ruins e apontou publicamente a limitação do elenco: “Precisamos ter mais qualidade individual”.

A entrevista que acionou a guilhotina foi justamente após uma derrota para o Palmeiras, de Luxemburgo, que não compreendeu a situação e repetiu o erro. Nem toda a experiência do fluminense o impediu, algum tempo depois, de ser derrotado pela própria vaidade.

Cansado de ser questionado sobre o futebol feio do time alviverde, Vanderlei respondeu: “Precisa ver se eu tenho time para jogar bonito”. Quatro dias depois, com uma apatia constrangedora, a equipe perdeu para o 18º colocado do Brasileiro a partida que derrubou o comandante.

"Precisa ver se tenho time para jogar bonito", afirmou Luxemburgo - Jorge Saenz - 23.set.20/Reuters

Está diminuindo no futebol o espaço para os treinadores do tipo paizão, que baseiam seu trabalho quase exclusivamente no trato com os atletas, com mínima atenção à parte tática. Mas o tato na relação com os jogadores ainda é uma parte importante da profissão.

Marcos Guedes

33 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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