Descrição de chapéu Opinião

A bola é um detalhe: Caro Marcelinho

Você se lembra daquela tarde quente em Ribeirão Preto?

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São Paulo

“Sei que a bola é só um detalhe, como diz este estranho papel de carta que arrumei, mas também sei que sou mais do que isso para você, que sempre me tratou com carinho —embora seja carrinho, se me permite a franqueza, o que o senhor esteja merecendo.

Não leve a mal a agressividade, você conhece o tamanho do meu amor. É que a separação não me fez muito bem, não tenho sido bem tratada. De uns tempos para cá, só querem saber da minha posse, ninguém mais pergunta o que eu quero.

Você sempre soube me entender. Eu gosto é de rede, e você me colocava para dormir como ninguém.

Lembra aquele dia em que você conversou comigo, baixinho, no ouvido, em Ribeirão? Nossa, que calor! Eu nem acreditei no que você pediu, mas, cega de amor, provoquei aquele sujeito de verde, passei bem pertinho do rosto dele e fiz a sua festa, meu pé de anjo.

Saudade da época em que você me olhava assim - Jorge Araújo - 8.jun.01/Folhapress

Tivemos algumas rusgas, é verdade, porém o que ficou na minha memória foi você me pondo para girar, em transe, em um frenético zigue-zague que desafiava a física. Às vezes, o ritmo era outro. Eu estava ali, pronta, na marca do pênalti, e você, cruel, decidia me levar devagarzinho, de mansinho, até onde eu queria.

Eu fazia tudo por você. Era só falar, ajoelhando-se se fosse o caso.

Pois chegou a sua vez de ouvir. Se você vai se ajoelhar agora para pedir alguma coisa, que seja perdão.

Não para mim, que eu não sou boba e sei que você é de milhões. Tudo bem, também sou. Mas tem tanta gente que ama você, cara. Você fica ignorando o amor, entrando em umas frias.

Vi que na semana passada você tomou mais um chapéu. Pô, Marcelo, de novo? Aquilo ali não é para você, esquece. De recuo pela direita, já não bastaram as ordens daquele professor chato que mandava você acompanhar o lateral esquerdo adversário? Hahaha.

De novo, peço que não me leve a mal. Nosso tempo já passou, bem sei, mas eu o escutei tanto que me sinto no direito de falar e, veja, logo eu, acho que talvez seja o momento de você ser desarmado.

Respeite o insano, sagrado e profano que foi nosso amor.”

*

Para efeitos de justa causa, que faço questão de dividir, esta bobagem é ideia e teve a colaboração do amigo Helder Júnior.

Marcos Guedes

33 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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