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No barraco tinha goteira. Pingou na vascaína Maria. Que acordou com a destruidora força da água da chuva invadindo o cômodo. "Está chovendo forte; acorda, Zé", berrou Maria.
Ainda com os sentidos descalibrados pela aguardente da noite anterior, o rubro-negro Zé, calibradíssimo, teve uma grande ideia. "Calma, Maria. Às vezes, pelo ângulo da nossa cama, é só impressão de chuva e alagamento. Usemos a tecnologia: vamos ligar o rádio e ver se a estação confirma que é chuva mesmo; vai ver não é chuva, é só o respingo do cuspe da vizinha subcelebridade na boca do gato que caiu aqui no quarto..."
Rádio sintonizada. Um ex-BBB negacionista qualquer em parceria com um trumpista pateta entrevistavam um deputado-nelore acéfalo que defendia a cloroquina e mugia que o lunático presidente antivacina, que aglomera sem máscara e mantém um militar no ministério contra a saúde, não tem culpa pelos milhares de mortos.
Durante o desserviço fantasiado de "entrevista", nada se falou sobre o toró que caía e, pois, Zé concluiu que ele próprio não estava encharcado e que não estava chovendo.
O companheiro ainda acusou Maria, que, indignada, insistia em dizer que estava chovendo, em repetir que estava vendo claramente a chuva invadir o barraco, estava louca. "Para de mimimi, Maria. Chora mais que está pouco. Se estivesse chovendo, a rádio falaria!"
A discussão inundou para outras áreas e a rivalidade clubística desaguou em provocações. "Eu não discuto com mulher de segunda divisão", daqui. "Eu não perco tempo com idiota descalibrado", de lá.
Imagem não é tudo. Aliás, não é nada. Com a água no pescoço provando que a situação é insustentável, Zé morreu afogado esperando a tecnologia confirmar a chuva.
Os bêbados que se equilibram no trôpego VAR têm compromisso marcado: amanhã a tecnologia cega, muda, surda, imprecisa, desmoralizada e burra decide Flamengo x Inter.
Lembrando que o VAR não é à prova de chuva nem de sol e, não raro, contraria as imagens e decide na sombra.
O (autointitulado) país do futebol, que libera armas em meio à pandemia, pretende combater a injustiça no futebol com o VAR de alto calibre descalibrado.
E agora, José?
Nelson Rodrigues: "Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos".