Ti-ti-ti no zap-zap. Cheiro de fake news. O boato inverossímil era que um jogador famoso, rico, consagrado e experiente, que deveria estar concentrado na Argentina com os seus companheiros de time para uma final internacional, atropelou um ciclista enquanto levava a sua mãe para fazer compras em um supermercado dentro de um shopping paulistano...

Como o ser humano é ruim e adora uma fofoca, logo espalhou-se a versão absurda de que não se tratava de sósia. O disse-me-disse garantia que realmente se tratava do atleta. Que não havia viajado para a Argentina porque testou positivo para a Covid e, por isso, fez as vezes de motorista irresponsável da mãe.

Tratava-se, pois, de flagrante “mi-mi-mi”: misoginia, mixórdia e milonga. Sociopatia triplamente qualificada.

Misoginia. Sentimento de repulsa e/ou aversão às mulheres que é ainda mais ignóbil quando dirigido à própria mãe. Quem em sã consciência, após testar positivo e não poder ter contato com ninguém, seria capaz de colocar em risco a mãe?

Mixórdia. Desentendimento, intriga, confusão. Mistura de coisas variadas, misturada, bagunça, barafunda, embrulhada. Atropelamento de ciclista por parte de motorista que tinha obrigação moral, humana e coletiva de ficar isolado em casa. A insanidade é tamanha que até prestar socorro, atitude normalmente elogiável, não é certo quando o condutor sabe estar contaminado e, pois, que o seu contato coloca em risco a vida da vítima!

Milonga. Desculpas esfarrapadas, inaceitáveis. Do tipo que culpa a sua atitude pelo fato de a mãe não saber dirigir. Saberia alguém da família, funcionário ou agregado fazer compra on-line? Pedir táxi? Sabe que o limite de um ser humano acaba quando começa o dos outros e, pois, sair de casa sabidamente contaminado atropela e ultrapassa todos os limites do egoísmo e da irresponsabilidade?

A verdade é que quando os protocolos da civilidade são descumpridos, o futebol vira questão literal de vida e morte.



Esta não é uma crônica de ficção. O palmeirense Luiz Adriano, que não foi à Argentina porque testou positivo para a Covid, tinha a obrigação profissional, pessoal e social de ficar isolado em quarentena.

Mas atropelou um ciclista ao levar a mãe a um supermercado dentro de um shopping. A realidade é abjeta!

Machado de Assis: “Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo”.