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A bola é um detalhe: Uma escolha nada difícil

Nem sempre é uma tarefa complicada a opção pelo bom senso

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São Paulo

Não é necessário ser um gênio da semiótica para entender que as cores têm significado. Elas são parte importante da linguagem e, por vezes, tornam-se ingrediente tão fundamental da mensagem que acabam por se confundir com ela.

Experimente, por exemplo, ir à avenida Paulista de vermelho, fazendo pedidos exóticos como “democracia”. Os policiais de plantão, no mínimo, mas bem no mínimo mesmo, vão fiscalizar seus movimentos com olhares pouco amistosos.

Volte lá de amarelo, como um cidadão de bem, e você poderá gritar pelo fechamento do Congresso tranquilamente. Entre um berro e outro, será possível até posar para aquela fotografia simpática com um PM.

Veja, pois, a diferença que faz a escolha cromática.

Há cores que incomodam mais do que outras. Todas juntas, então, são aparentemente um enorme acinte. De modo que a Uefa se sentiu na obrigação de proibir a iluminação de um estádio com os matizes do arco-íris.

Você certamente acompanhou o caso. A prefeitura de Munique pediu autorização para deixar a Allianz Arena colorida na partida da Alemanha contra a Hungria, pela Eurocopa. Mas, como o arco-íris é um símbolo gay e o primeiro-ministro húngaro é daquelas pessoas que acham um absurdo cada um cuidar do próprio ânus, a ideia foi vetada.

Allianz Arena ficou assim em janeiro, mas a ideia de repetir a decoração na Eurocopa foi proibida - Andreas Gebert - 30.jan.21/AFP

Não foi a única polêmica cromático-futebolística da semana. Também foram vetadas, ainda que tardiamente, as chuteiras verdes usadas pelo atacante Jô em uma partida do Corinthians. O caso foi tão surreal quanto doloroso para os alvinegros, que tiveram de ver um ídolo em campo exibindo a cor do maior rival.

Quase tão ridícula quanto a tentativa de explicar que o verde não era verde foi a aparição dos “sommeliers de torcida”, algo bem observado pelo alvinegro Vitor Guedes. Diante da revolta dos torcedores com a inacreditável e desrespeitosa escolha do atacante, surgiram não corinthianos para explicar aos corinthianos que evitar o verde, dentro de campo, com a camisa do Corinthians, “é uma graaaande bobagem”.

Desculpe, se acha uma bobagem, você não entendeu nada. E entendeu menos ainda se é um homofóbico imbecil e vibrou com a proibição do arco-íris.

Um veto nada teve a ver com o outro. Igualá-los é embarcar na onda das falsas simetrias que nos trouxeram até este tenebroso momento. Há escolhas, como a cor das chuteiras de um jogador do Corinthians, que não são muito difíceis.

Se você não vê problema nenhum em um jogador do Corinthians usar esta chuteira, vista uma camisa da mesma cor e vá a uma partida em Itaquera quando a presença de público for liberada - Nike e Ag. Corinthians/Divulgação

Marcos Guedes

35 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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