A bola é um detalhe: Uma escolha nada difícil
Nem sempre é uma tarefa complicada a opção pelo bom senso
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Não é necessário ser um gênio da semiótica para entender que as cores têm significado. Elas são parte importante da linguagem e, por vezes, tornam-se ingrediente tão fundamental da mensagem que acabam por se confundir com ela.
Experimente, por exemplo, ir à avenida Paulista de vermelho, fazendo pedidos exóticos como “democracia”. Os policiais de plantão, no mínimo, mas bem no mínimo mesmo, vão fiscalizar seus movimentos com olhares pouco amistosos.
Volte lá de amarelo, como um cidadão de bem, e você poderá gritar pelo fechamento do Congresso tranquilamente. Entre um berro e outro, será possível até posar para aquela fotografia simpática com um PM.
Veja, pois, a diferença que faz a escolha cromática.
Há cores que incomodam mais do que outras. Todas juntas, então, são aparentemente um enorme acinte. De modo que a Uefa se sentiu na obrigação de proibir a iluminação de um estádio com os matizes do arco-íris.
Você certamente acompanhou o caso. A prefeitura de Munique pediu autorização para deixar a Allianz Arena colorida na partida da Alemanha contra a Hungria, pela Eurocopa. Mas, como o arco-íris é um símbolo gay e o primeiro-ministro húngaro é daquelas pessoas que acham um absurdo cada um cuidar do próprio ânus, a ideia foi vetada.
Não foi a única polêmica cromático-futebolística da semana. Também foram vetadas, ainda que tardiamente, as chuteiras verdes usadas pelo atacante Jô em uma partida do Corinthians. O caso foi tão surreal quanto doloroso para os alvinegros, que tiveram de ver um ídolo em campo exibindo a cor do maior rival.
Quase tão ridícula quanto a tentativa de explicar que o verde não era verde foi a aparição dos “sommeliers de torcida”, algo bem observado pelo alvinegro Vitor Guedes. Diante da revolta dos torcedores com a inacreditável e desrespeitosa escolha do atacante, surgiram não corinthianos para explicar aos corinthianos que evitar o verde, dentro de campo, com a camisa do Corinthians, “é uma graaaande bobagem”.
Desculpe, se acha uma bobagem, você não entendeu nada. E entendeu menos ainda se é um homofóbico imbecil e vibrou com a proibição do arco-íris.
Um veto nada teve a ver com o outro. Igualá-los é embarcar na onda das falsas simetrias que nos trouxeram até este tenebroso momento. Há escolhas, como a cor das chuteiras de um jogador do Corinthians, que não são muito difíceis.