Descrição de chapéu surfe

A bola é um detalhe: O que irrita em Medina

Custava ficar na praia e apoiar Italo Ferreira na decisão olímpica?

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São Paulo

Gabriel Medina é um atleta excepcional, talvez o surfista mais completo da história. Tem dois títulos mundiais, provavelmente vai ganhar muitos mais e só não está com o terceiro na mão porque o regulamento deste ano, no estilo Passa ou Repassa, deixa tudo para uma última superetapa.

Impressionam sua intuição para achar boas ondas nas mais variadas condições e sua incomum capacidade de concentração. Mesmo com toda a cansativa choradeira porque não pôde levar a mulher para os Jogos Olímpicos, deixou a bobagem de lado ao cair na água e fez um ótimo torneio.

Mas Medina, com alguma frequência, irrita. Aos 27 anos, está na elite do circuito mundial há dez e é o grande nome da chamada “Brazilian Storm”, a tempestade brasileira que tomou conta da modalidade, porém não parece ter aprendido lições básicas de camaradagem. Falta-lhe o senso coletivo que abunda em alguns de seus compatriotas.

Derrotado na semifinal olímpica, Medina saiu andando, sem olhar para trás - Du Yu - 27.jul.21/Xinhua

Na mais recente etapa da Liga Mundial, por exemplo, o clima entre os brasileiros era contagiante. No rancho criado por Kelly Slater com ondas artificiais, eles se juntaram como se estivessem em um churrascão, dando risadas e apoiando o desempenho um do outro.

Só não estava na turma Medina, que nem olhava as baterias de que não participava. Na final, ele perdeu para Filipe Toledo. Sozinho na água após a derrota, foi buscado por Jadson André, Italo Ferreira e outros companheiros, que lhe fizeram festa como se tivesse sido campeão. Sua resposta: “Estou cansado, agora eu só quero ir para casa”.

Em Tóquio, o comportamento foi ainda mais indefensável. Compreende-se que estivesse irritado com o altamente questionável resultado de sua bateria semifinal, mas o mínimo da camaradagem pedia que ele ficasse na praia para apoiar Italo e celebrar sua conquista histórica.

Tatiana Weston-Webb mal fala português e tinha sido eliminada na véspera, mas ficou. Estivesse Medina na final, Italo certamente torceria. Gabriel saiu andando, sem olhar para trás.

Marcos Guedes

35 anos, é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e, como o homenageado deste espaço, Nelson Rodrigues, acha que há muito mais no jogo do que a bola, "um ínfimo, um ridículo detalhe". E-mail: marcos.guedes@grupofolha.com.br

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