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São Paulo

O cínico futebol imita a vida no país onde os donos da narrativa não sentem vergonha, culpa nem remorso de tratarem pandemia por “gripezinha”, genocida por “presidente”, peculato por “rachadinha”, fascista por “autêntico”, crime de responsabilidade por “exageros no calor do momento”, assassinato de direitos e regresso à Idade Média por “reforma trabalhista”, destruição do meio ambiente por “desenvolvimento”, preconceito ignóbil por “opinião” e golpistas aliados de todas as pautas anticivilizatórias (semi)arrependidos por “terceira via”.

Aliado de primeira hora e sócio de todas as horas, o establishment do futebol que elege e banca a elite diretiva cansou de perder parte do lucro por causa da queimação de filme provocada pelos escândalos comportamentais da CBF. Quer manter toda a sujeira e continuar mamando como a CBF sempre fez, mas sem o custo CBF.

Inspirado na mesma “lógica” de quem aposta na falta de memória e foi para a rua pedir bolsonarismo sem Bolsonaro, a elite da bola da natimorta liga de clubes quer um futebol brasileiro à moda CBF, mas sem o carimbo da CBF.

Os clubes, cúmplices, não estão nem aí se funcionárias são assediadas moral e sexualmente na CBF, se a lógica é tirar todos os direitos do torcedor sem tirar o direito dos dirigentes (sempre escondidos atrás das pessoas jurídicas dos respectivos clubes) de sugar todas as benesses estatais... Querem é tratar torcedor como gado útil, que paga o negócio travestido de esporte.

O que essa gente fala e assina em três vias não se cumpre. Ou dá para crer numa liga independente no país em que o futebol é sócio do presidente na organização da Copa América? No mesmo país em que a Anvisa invade jogo em andamento para arrancar quatro argentinos? A mesma “isonômica” Anvisa que permite que jogador de um time jogue vindo da Inglaterra, mas ameaça e tira jogador de time rival na véspera de sua estreia?

Quem acreditou em um juiz suspeito (comprovadamente e julgado suspeito, que tirou o adversário da disputa antes de virar o ministro da Justiça de quem ajudou a eleger) tem todo o direito de acreditar numa liga transparente e bem-intencionada no país em que a comissão de arbitragem esconde até áudios do VAR! Essa culpa eu também não carrego! Viva a memória!

Ernest Hemingway: “Quem estará nas trincheiras ao teu lado? E isso importa? Mais do que a própria guerra”.

Vitor Guedes

44 anos, é ZL, jornalista formado e pós-graduado pela Universidade Metodista de São Paulo, comentarista esportivo, equilibrado e pai do Basílio.

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