Clientes comemoram a volta do Mappin e recordam histórias

Criada em 1913 e fechada em 1999, loja retorna nesta segunda na internet

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São Paulo

"Mappin/ Venha correndo, Mappin/ Chegou a hora, Mappin/ É a liquidação". Quem é "jovem por mais tempo" certamente deve se lembrar desse jingle, um convite às promoções do Mappin, icônica rede de lojas de departamento.

Fundada em 1913, a companhia foi à falência em 1999 e, nesta segunda-feira (10), está de volta. Inicialmente no formato de comércio eletrônico, a marca, adquirida pelos empresários Abdul e Nader Fares, sócios da Marabraz, retorna com elementos pelas quais é conhecida, como a logomarca e o próprio jingle.

O cartazista Domingos Serralvo Moreno, 81, trabalhou por trinta anos na matriz do Mappin, na Praça Ramos de Azevedo, e chegou a ser manequim nas propagandas para a televisão. "Eu aparecia com camisa, terno e tudo, pra anunciar as roupas que eram vendidas na própria loja", lembra Moreno, que, na época, chefiava o departamento de cartazes e pintava, à mão, as promoções. "Dá vontade de chorar de saudade", diz a dona de casa Edne Pimentel, 56, que trabalhou em um centro de distribuição do Mappin, na Grande São Paulo, pelos últimos oito anos da companhia.

Mesmo tendo recebido a grana da rescisão por meio de acordo judicial, ela mantém boas lembranças do trabalho. "Correria boa! Eram muitas entregas, principalmente no fim do ano. Nem sei estimar quantas." A ex-funcionária ainda tem geladeira, fogão, videogame e roupa de cama comprados na loja de departamento.

O motorista de aplicativo João Ribeiro dos Santos ainda tem o carnê do Mappin; ele fez muitas compras na famosa loja, nos anos 1970 - Rivaldo Gomes/Folhapress


Referência em crediário, tem até quem ainda guarde o carnê da marca, como o motorista de aplicativo João Ribeiro dos Santos, 63. "Comprei muita coisa nos anos 70, de eletrodoméstico a calçado", afirma.

A aposentada Luzia Oliveira da Silva Aguena, 75, destaca a durabilidade dos produtos vendidos no Mappin. "Tanto é que minha irmã, com quem eu ia sempre [à loja da praça Ramos de Azevedo], tem uma cadeira comprada lá. Nem está enferrujada!" Além de uma oportunidade para comprar, a ida ao Mappin, segundo ela, também era um passeio e tanto. "Meu cunhado até brincava: ‘se alguém quiser matar essas duas, vai no Mappin!’"

A advogada Nice Nicolai, que não quis revelar a idade, também era frequentadora assídua da famosa loja da região central. "Eu trabalhava perto, na [rua] 24 de Maio, então passava quase todo dia. Tudo de que você precisasse estava ali: móveis, eletrodomésticos, roupas e até vinho", lembra Nice, que costumava levar os sobrinhos para ver a decoração de Natal da matriz.

A aposentada Luzia Oliveira da Silva Aguena (dir.), frequentadora o Mappin da região central na companhia da irmã, Maria Aparecida da Silva. As irmãs mostram as cadeiras compradas na loja: a de ferro, nos anos 1970, e a de plástico, nos anos 1980. - Rubens Cavallari/Folhapress


O local, aliás, foi o cenário de uma história que o aposentado Anderson Sznick, 76, conta saudoso. "Estava ajudando um amigo a escolher um frigobar, quando uma moça apareceu desesperada, pedindo informação. Parei pra ouvi-la e acabamos ficando amigos." Do episódio se sucederam vários passeios nos arredores da Praça Ramos de Azevedo, tendo o relógio do Mappin como ponto de encontro.

​Falência

O Mappin fechou suas portas em 1999 e até hoje há funcionários com processos na Justiça que esperam receber a grana do fundo de pensão, como afirma o advogado André Luiz Marques, advogado especialista em falência e Previdência.

"Fui contratado pelo liquidante para tentar recuperar os valores do fundo, que era patrocinado pelo Mappin. Foram anos de briga", diz. 

Marques diz que 7 mil trabalhadores participavam do fundo de pensão, entre aposentados e não aposentados. "Muitos já faleceram e muitos outros sumiram", afirma. Ele conta que não esquece do dia em que os empregados foram pegos de surpresa com a notícia da falência. "Eles foram para a porta da loja, sem saber o que fazer".

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Marabraz disse não tem qualquer relação com as questões referentes à falência do Mappin.

"A aquisição foi apenas da marca, por meio de um leilão. As dívidas e má conduta de gestão do antigo Mappin são de responsabilidade dos antigos donos", comunicou. 

Loja física está nos planos

Abdul Fares, sócio-diretor financeiro da Marabraz, que adquiriu a marca Mappin em um leilão há cerca de dez anos, diz que, para a volta, mantém a identidade reconhecida pelo público, mas com uma linguagem atual, em ambiente tecnológico.

"No final do segundo semestre, estrearemos o marketplace com a participação de grandes varejistas parceiros", adianta.

Abdul Fares (esq.) e Nader Fares, sócios do Grupo Marabraz - Karime Xavier/Folhapress

A plataforma de comércio eletrônico tem 15 mil itens, entre produtos de cama, mesa e banho; utilidades domésticas e de decoração. A parceria com outras marcas deve ampliar o catálogo para mais de 500 mil produtos.

O empresário não descarta ter loja física. "Temos planos, sim, mas estamos estudando opções de localização. Ainda não temos previsão de data."

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