Famílias vão optar por ceias mais baratas neste fim de ano
Inflação altera hábitos de consumo e deverá diminuir procura por carnes como peru e chester
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A alta nos preços dos alimentos em 2021 deverá fazer com que as famílias brasileiras optem por preparar ceias de fim de ano mais baratas do que estavam acostumadas a fazer.
Segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), os alimentos tiveram uma alta acumulada de 11,71% em 12 meses em todo o país.
Dados da consultoria Kantar mostram que 13,6% dos lares fizeram a ceia em 2020 só com carnes típicas das comemorações de fim de ano, como chester e peru, por exemplo. No ano anterior, esse percentual era de 22,5%.
A fatia de famílias que misturaram as proteínas comemorativas com carnes do dia a dia subiu de 33% para 40% de 2019 para 2020. "O que vai diminuir são as comemorações onde só tem chester, peru ou uma ave especial. Elas até vão estar presentes, mas em conjunto com outras proteínas, como linguiça, suínos, bovinos ou peixes", comenta Bruno Machado, gerente sênior de contas da Kantar.
Segundo Machado, a crise também deverá refletir nos presentes trocados entre familiares e amigos. "Talvez não necessariamente as pessoas presenteiem menos, mas deem presentes mais acessíveis."
Machado acrescenta que na Páscoa deste ano já foi vista essa tendência pela compra de itens de menor valor. "Tivemos o crescimento dos chocolates em tablete continuando a tomar o espaço do ovo de Páscoa."
"Muita coisa vai mudar na ceia deste ano. A coisa está feia. O pernil vai ter, mas vai diminuir. E, no lugar do peru, vai ter galinha", comenta o aposentado Alfrânio Moura da Silva, 61 anos.
Para conseguir fazer com que a ceia caiba no orçamento, a dona de casa Elizabeth Antunes, 49 anos, já começou a olhar os preços, faltando pouco mais de um mês para o Natal. "Estou pesquisando para ver se consigo manter as mesmas coisas dos anos anteriores", diz.
Morador de Curitiba (PR), o chefe de cozinha Waldemar Santos, 61 anos, possui uma empresa que faz ceias para grupos fechados. "O peru não pode faltar. O cardápio será o mesmo, mas infelizmente tivemos que aumentar o preço em cerca de 40% para repassar a alta dos insumos."
Funcionário de uma loja no Mercado Municipal Paulistano, no centro de São Paulo, Valter da Costa, 79 anos, afirma que a procura pelo bacalhau caiu cerca de 30% em relação a 2019, quando ainda não havia pandemia. "Como são produtos importados, o dólar elevado faz com que o preço suba muito. O pessoal vai acabar optando por peixe fresco", avalia o profissional.
Proprietário de um açougue no Mercadão, o empresário Sílvio de Oliveira, 50 anos, concorda com a mudança nos hábitos de consumo para as ceias, principalmente em relação às carnes. "As famílias continuam comprando, mas em quantidades menores. O pernil, por exemplo, a gente vendia inteiro. Hoje estão comprando mais o fatiado", diz.
O chefe de cozinha Maurício Lopes, professor de Gastronomia da universidade Anhembi Morumbi, sugere às famílias que optem por receitas em que uma quantidade menor de carne renda mais, como uma torta, por exemplo. Ele também orienta que as pessoas caprichem em acompanhamentos, como arroz, saladas e farofas.
Para quem for usar itens comuns, do dia a dia, Lopes aconselha dar um destaque à apresentação do prato. "O importante é sair do trivial. É justamente arrumar de uma maneira para que o prato fique com uma aparência festiva."
A carne suína e os pescados deverão ganhar uma atenção especial neste ano. No detalhamento do IPCA por subitens, as carnes em geral subiram 19,71% no acumulado de 12 meses até outubro em todo o Brasil. No mesmo período, as carnes suínas tiveram alta menor, de 4,94%, enquanto os pescados subiram 4,6%.
Outro produto que deverá estar menos presente nas ceias deste ano são as castanhas. Em alguns pontos de venda no Mercado Municipal Paulistano, os comerciantes relatam que os preços chegaram a dobrar em relação ao ano passado. Por lá, a castanha-do-pará chega a R$ 109,90 o quilo. Já as nozes variam entre R$ 44 e R$ 69,90 o quilo, enquanto a amêndoa com casca foi encontrada a R$ 52 o quilo.
"Em vez de oferecer uma quantidade grande de castanhas, uma solução é colocar um pouco na farofa", sugere Lopes. Outra saída é optar por produtos semelhantes com preços menores, como a castanha-de-caju e até o amendoim. "Pode-se fazer um mix com esses produtos", aconselha.
Para ter uma ceia mais barata | O que fazer
- Com a inflação, os preços dos produtos tradicionalmente consumidos nas ceias de fim de ano também subiram
- Muitas famílias vão optar por trocar alguns alimentos para conseguir fazer com que as ceias caibam no bolso
22,5% dos lares compraram apenas carnes típicas (como peru e chester, por exemplo) para as festas do fim do ano em 2019
13,6% foi o percentual no ano passado. E a expectativa é que esse número caia ainda mais em 2021
11,71% foi o aumento nos preços dos alimentos em 12 meses medido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo)
Como gastar menos
1 - Compre em menor quantidade
Se sua família não abre mão do pernil, do lombo ou do peru, você pode optar por comprar esses itens em quantidades menores. Algumas carnes são vendidas em lascas (como o bacalhau) ou em pedaços pequenos (como as suínas) com preços mais acessíveis
2 - Faça os alimentos renderem mais
Transforme os alimentos. Por exemplo: se você tem pouco bacalhau, faça uma torta ou um arroz que leve esse ingrediente. É uma boa maneira de levar os produtos à mesa sem precisar de muito
3 - Capriche nos acompanhamentos
O arroz, a salada e a farofa são excelentes opções para servir aos convidados de modo a satisfazê-los mesmo que o prato principal não seja tão farto
4 - Opte por outras carnes
Um peixe fresco, uma carne bovina recheada ou um corte suíno podem ser opções gostosas e mais baratas para a ceia. Capriche na apresentação e surpreenda os convidados
5 - Evite desperdício
Verifique exatamente quantas pessoas passarão o Natal ou o Ano-Novo com você e calcule a quantidade aproximada que cada um costuma comer
Fontes: Kantar, IBGE e professor Maurício Lopes, da universidade Anhembi Morumbi