Em dia de greve, Samu leva 3 horas para atender paciente na rua
Homem morre mesmo com insistentes chamados para socorro em SP
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Um homem morreu após aguardar atendimento do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por mais de três horas nesta terça-feira (23), estirado em uma calçada no Campos Elíseos (região central da capital).
O primeiro chamado foi às 11h04, quatro minutos após o homem passar mal, segundo funcionários de uma padaria na alameda Barão de Limeira, onde a vítima passou mal e caiu na calçada. A ambulância só chegou ao local às 14h15.
O Samu passa por uma reestruturação na qual a gestão Bruno Covas (PSDB) fechou as bases modulares e transferiu equipes para hospitais e unidades de saúde, no fim do mês passado.
Por conta da reestruturação, parte dos socorristas parou as atividades ontem. Mas desde o início de abril já ocorreram três paralisações parciais, em protesto contra o fechamento de 31 bases (leia mais abaixo).
Informalmente, um dos socorristas disse ontem, ao ser questionado pela demora no atendimento, que o Samu estava com profissionais em greve. Outro afirmou que o chamado só havia chegado minutos antes.
O Agora mostrou nesta terça que famílias de pacientes criticam a demora do Samu e dizem que ela estaria provocando mortes.
No caso de desta terça, a vítima, que aparentava ter cerca de 45 anos, era um pedinte conhecido na região, segundo os comerciantes.
“Ele caiu por volta das 11h. Quatro minutos depois, meu irmão chamou o Samu. Como demorou demais, outras pessoas começaram a ligar. Eu telefonei às 11h34. Ficamos inconformados”, diz Fabiana Alves, 45 anos, gerente de uma padaria.
Outros comerciantes disseram que quem chegou rápido ao local, poucos minutos após, foram guardas-civis metropolitanos.
Uma das GCMs disse que checou os sinais vitais da vítima e voltou a pedir socorro. Ela ficou ao lado do homem caído desde as 11h20.
O homem foi coberto por uma manta dos pés à cabeça, até a chegada do Samu, às 14h15. A reportagem viu quando a ambulância parou e os socorristas iniciaram manobras de ressuscitação. Mas o homem aparentemente não reagiu. Mesmo assim foi levado pela ambulância, 15 minutos depois.
O Samu não informou se o homem acabou levado com vida ou se já estava morto.
Greve suspensa
Trabalhadores do Samu prometeram suspender nesta quarta-feira, às 7h, a greve que teve início no mesmo horário de terça.
A decisão foi tomada ontem à noite em assembleia, após o Sindsep (Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo) se reunir com a Secretaria Municipal da Saúde, no período da tarde.
Desde 1º de Abril, os trabalhadores paralisaram parcialmente os serviços três vezes, questionando as mudanças de endereço de 31 bases, promovidas pela gestão Bruno Covas (PSDB).
Um dos pontos que convenceu os grevistas a interromperem a paralisação foi a proposta de criação de uma comissão, nos próximos 20 dias, que irá fiscalizar as condições de atendimento e de trabalho da categoria. “Todos os dias de paralisação e greve também serão abonados”, diz o sindicato.
Resposta
A prefeitura sob gestão Bruno Covas (PSDB), lamentou a morte do paciente. O município não informou o motivo da demora e nem porque o paciente, que já estaria morto segundo testemunhas, foi transportado na unidade móvel e não pelo Serviço de Óbito. Afirma apenas que “as circunstâncias que envolveram o atendimento estão em apuração”.
A Secretaria Municipal da Saúde diz que 19% dos profissionais do Samu escalados ontem não compareceram ao trabalho, e que não há como determinar qual a porcentagem de ausências está relacionada à paralisação.
A Coordenação do Samu diz que adotou medidas para reduzir o impacto e intensificou a ação das equipes de regulação para dar prioridade aos casos de maior gravidade. E que recebeu uma comissão para dar prosseguimento às negociações. A gestão diz que o número de casos atendidos pelo Samu varia entre 600 a 800 ocorrências diariamente.